JOGO DE
SEDUÇÃO COM DANIEL GURGEL
Você vai ler o nome
“André” e se perguntar “que André, o André?”.
Depois que meu pai
completou 65 anos, ele começou a fazer umas coisas que são muito a cara daqueles
coroas suburbanos descolados, sabe? Sei lá, começou a sair mais pra bar,
visitar os amigos em casa pra beber, ir em pagodes, rodas de samba, botecos,
feiras, feijoadas, cervejadas. Ele não é do tipo que paga de novinho, pelo
contrário, afirma que a idade é justamente o que o permite sair mais e
aproveitar a vida. Pra ser sincero, eu sempre entendi essa disposição dele,
porque, não se engane, meu pai não é um simples idoso, mas sim O Idoso. Ele foi
fuzileiro naval quando jovem, e, apesar do barrigão, é até que bastante
conservado e muito disposto, por isso tá sempre saindo, socializando e
conhecendo gente nova. Antes de se aposentar, ele trabalhou mais de três
décadas como chefe de cozinha e aprendeu muita coisa, viajou pra muitos lugares
e fez muitos amigos e amigas em tudo quanto é canto.
Mas essa não é uma
história sobre o meu pai, é, na verdade, sobre o Daniel Gurgel. O Daniel é um
ano mais velho que eu, tem 26, é branquinho, mais alto, acho que uns 1,84m,
corpo entre o comum e o definido, o nariz bem grande na face, os olhos
ligeiramente esverdeados e os pelos em tonalidade loiro escuro. Barba curtinha
e cerrada em torno do rosto e do queixo, cabelo disfarçado, sobrancelhas
grossas, cara de sério, mas o sorriso chamativo e um jeito muito carismático e
brincalhão de ser, sendo o carisma uma de suas características principais. Sabe
aquele cara que todo mundo no bairro conhece? Seus pais também são conhecidos
pois são antigos na região, então essa fama meio que esbarra nele. Geral aqui
sabe quem é o filho único dos Gurgel, aquele que serviu à Marinha no Rio Grande
do Sul quando mais novo e que parecia um príncipe na época em que ainda vestia
a farda branca.
À essa altura da história
você se pergunta assim: tá, mas o que tem a ver o seu pai com o tal do Daniel
Gurgel? Pois bem, vamos ao recheio do bolo. Meu pai recentemente esteve bebendo
no bar da esquina, que fica perto da casa do Daniel, e aí eles sem querer se
conheceram, descobriram que tinham muito em comum e acabaram fazendo uma
amizade baseada em beber cerveja, torcer pro Flamengo, falar de comida, dos
tempos de Marinha e às vezes de mulher. Ah, e tem também mais uma coisa que
eles andam fazendo juntos: fumar maconha. Pois é, pra mim não é tão impactante
porque eu fumo, então zero surpresas quanto ao meu pai fumar também. O que me
deixa surpreso de verdade é descobrir que um homem de 65 anos desenvolveu o
hábito de fumar um baseado ou outro com um rapaz de 26, isso sem ninguém saber
ou esperar que tal encontro pudesse acontecer.
Eu descobri sem querer.
Cheguei do trabalho mais cedo no fim do mês passado, senti um cheiro de maconha
ainda no portão, entrei pela porta da sala e lá estavam os dois sentados, cada
um num canto do sofá, conversando e rindo à toa. Os olhos vermelhos, os
sorrisos largos e várias latas de cerveja espalhadas no chão. O fim do jogo do
Flamengo rolando na TV, aí os dois me viram e levaram um susto.
- Boa tarde, senhores. –
fui educado. – Tudo certo?
- Daniel, esse é meu
filho. – meu pai nos apresentou. – Filho, Daniel.
- O famoso Daniel Gurgel,
quem é que não conhece? Hahahahaha! – estiquei a mão e sorri. – Tudo certinho,
chapa?
- Fala aí, irmão. Na paz,
e tu?
- De boaça. Aquele
cansaço do trabalho, mas nada de mais.
- Sei como é que é. Faz
parte. Pô, fuma um aí que tu fica relaxado. Teu pai tava me contando aqui que
tu também curte dar um dois, né? – ele coçou o queixo loiro, pegou o cigarro
com a erva, acendeu, deu um puxão e me entregou.
- Um dois, um três, um
quatro, eu dou é vários, hahahahaah! – peguei o baseado e fumei em seguida. – E
essa erva tá cheirosinha, ein? Que isso!
- Tá o aço, cria. A de
cinco lá da B2.
- Porra, tu foi lá na B2
fazer essa missão?
- Ainda, pô. Parceiro meu
que mora lá que arranjou. Fala tu se não tá o verme essa grama? – e me deu na
mão pra cheirar.
Senti o cheiro olhando em
seus olhos, inalei firme e foi uma mistura de mato com sereno e também seiva,
óbvio que tudo ressecado.
Importante: vou fazer um
adendo aqui que, pra ser sincero, eu fiz no segundo parágrafo do texto na
primeira vez que escrevi, mas resolvi retirar de lá e colocar aqui pra não
estragar a surpresa. Ninguém pode parecer certinho o tempo todo, né? E com os
detalhes que narrei sobre o Daniel também não é diferente. Se, por um lado, ele
tem fama de príncipe e todo mundo no bairro o conhece como bom rapaz, por
outro, poucas pessoas atualmente se lembram da juventude rebelde, dos anos
selvagens e das resenhas de arromba que ele organizava com a rapaziada jovem
aqui do bairro. Aliás, tenho que destacar que muitos desses outros caras do
nosso bairro com quem o Daniel andou em sua juventude também foram pro RS
servir na Marinha, mas o que impressiona mesmo é que vários se envolveram com
viados e travestis, pelo menos de acordo com as antigas fofoquinhas que rolavam
na época que as festinhas cabulosas aconteciam por aqui. Mas enfim, isso foi há
muito tempo no passado, num momento em que o Daniel ainda era bem jovem,
irresponsável, inconsequente e nem era pai. Sim, hoje ele é pai de uma menina
de quatro anos, então o cara com certeza mudou e abandonou os hábitos antigos,
se é que um dia os teve.
- Tá boa mesmo, a onda já
tá batendo. Beheheheehhe! – comecei a rir à toa depois que fumei.
- Hahahahahaha! – meu
coroa também achou graça da situação.
As fofocas estando certas ou erradas, vê-lo
fumando maconha com meu pai foi como estar no lugar certo e na hora certa,
porque senti que eu precisava ver aquilo. Eu não sabia ainda, mas testemunhar
esse fato foi o que desencadeou toda a sequência de acontecimentos que vieram
depois, porque agora eu sabia que ele fumava baseado, ou seja, de repente as
fofocas do passado não eram simplesmente suposições do povo fofoqueiro do
bairro. Já pensou? Tinha que ter algum jeito de descobrir do que mais o Daniel gostava
de fazer além de fumar maconha, mas como? A passagem do tempo e o contato entre
ele e meu coroa trouxeram a resposta.
Aos poucos, conforme o gostoso aparecia lá em
casa pra jogar conversa fora com meu pai, beber, ver jogo e fumar maconha, eu
passei a fazer desses encontros o meu momento de observação, pelo menos nas
vezes que estava presente. Assim, fui conhecendo melhor o tal do Daniel Gurgel,
me atualizando e descobrindo alguns detalhes a seu respeito que corroboraram
com a antiga falação do bairro.
Por exemplo, descobri que ele viveu dos 20
aos 24 anos no Rio Grande do Sul por causa da Marinha, juntou uma grana legal,
mas saiu por conta de indisciplina e mal comportamento, algo que sua família
abafa até hoje no bairro como “motivos de doença”. Descobri também que ele
trabalha como estivador no cais do porto, no Centro do RJ, e que namorou
durante cinco anos com a mesma moça que conheceu no RS antes de pedi-la em
casamento, aquela que é também mãe de sua filha e com quem mora hoje em dia na
outra rua. O motivo da demora no pedido é que, de acordo com o próprio Daniel
contando lá em casa, ele teve muitos problemas com a questão da fidelidade nos
primeiros anos do relacionamento.
- Sei como é que é, filhão. Eu também fui
marinheiro, é foda. Era todo fortão, halterofilista, já viu? Mó negão, aí tu
pensa na quantidade de mulher que me dava mole. – meu pai opinou. – Não é fácil
ser fiel, tem que amar muito a mulher.
- Pois é, tio, o senhor tá ligado como que
acontece quando um marinheiro todo de branco entra num pub daqueles lá no Sul,
não sabe? Bagulho é doido, irmão. – o loiro falou.
- Até homem vira o pescoço pra olhar, porra!
BAHAHAAHHA! – meu coroa se empolgou e não poupou a língua.
- Papo reto, tio! – Daniel concordou.
- Besteira. – como eu era o único que não
serviu à Marinha ali, provoquei os dois e fiz questão de encarnar o papel de
mosca na sopa de piranha dos senhores marinheiros. – Isso é balela de homem que
não quer se comprometer com mulher nenhuma, só isso. Vocês podem até se
enganar, mas querer enganar os outros é foda.
- Bah, tu fala assim porque não serviu, cria.
– meu colega endossou a fala do meu pai.
- É, tu não serviu e não sabe como isso é a
coisa mais normal pra um marinheiro. Um amor em cada porto, não tem parada
certa.
- Ah, é? Se isso é coisa de marinheiro, então
por que você continuou com esse comportamento mesmo depois de sair da Marinha?
– falei diretamente pro meu pai.
- Porque foram muitos anos de Marinha, meu
filho. E um marinheiro não muda assim tão rápido de uma hora pra outra.
- Sarneou, tio. É isso aí, gostei!
Hahahahahaha! – animado, o Daniel levantou a mão no ar e eles se cumprimentaram
com orgulho, como num gesto típico de amigos marinheiros, só pra me deixar
enojado.
Confesso que ri, não fiquei nem enojado, não.
Até porque, minhas provocações eram os melhores gatilhos e testes pra descobrir
do que o atual Daniel Gurgel era feito. Estava mais pra maridão exemplar ou
mais pra putão inveterado? Eu tinha que descobrir, afinal de contas aquela era
uma oportunidade única na vida. A realidade era feita de um pai de família
centrado ou da velha fofoquinha do bairro?
Teve um sábado que eu tava sozinho em casa à
tarde, comecei a bolar um baseado e foi como se os ventos soprassem ao meu
favor. Escutei um assobio no portão, olhei na direção da varanda e vi aquele
homem alto, loiro e do peitoral imponente me olhando em completo silêncio. As
pernas ligeiramente arcadinhas, as panturrilhas grossas e pentelhudas de pelos
loiros, uma curta trilha de pelos no meio do peitoral e também abaixo do
umbigo, o olhar sério apesar do sorriso, as sobrancelhas grossas, chinelos nos
pezões expostos e usando apenas um shortinho curto de pano, sem blusa, acho que
por causa do calor. Foi a primeira vez que o vi sem a parte de cima, devo
dizer, e fiquei com o sorriso cínico na mente, porque seu silêncio dizia muito.
- Fala aí, garotão. Tranquilo? – eu que dei a
iniciativa.
- Coé, paizão. Tá de bobeira? – aí me viu com
o baseado na mão e riu. – Brotei na hora certa, né? Hahahahahah!
- Tá vendo, pô. Acabei de bolar o mais brabo,
qual vai ser? Fumar um?
Queria poder dizer que o puto tava sem cueca,
só que vi logo de cara a tira da estampa da boxer descendo nos oblíquos
chamativos e um puta volume acumulado de lado, deitado na horizontal. Como ele
ainda estava no portão, aproveitei a distância e fiquei manjando aquela lapa de
caceta de longe, perdido nos detalhes do corpo do Daniel e viajando na trilha
de pelos loiros que ele tinha abaixo do umbigo. Imaginei o quão pentelhuda ou
aparada devia ser sua caceta, a quantidade de veias, o cheiro, tudo... Quando
dei por mim, o pilantra tava parado na minha frente, de pé, olhando pra baixo e
me vendo terminar de enrolar o baseado. Eu estava sentado no chão da sala,
portanto fiquei praticamente cara a cara com o pacote da verga apontada pra
mim.
- Teu coroa tá por aí não?
- Tá não, deu um pulo na prima dele lá em
Campinho. Tá precisando de alguma coisa?
- Se eu tô precisando? Porra, tô precisado
pra caralho, mano, tu tá por fora... – deu uma pegada na mala por cima do short
que me deixou desconsertado, ainda me encarou quando fez isso. – Tô querendo
uma mão numa parada minha aí, tá ligado?
- Sério? – quase lambi os beiços,
principalmente por estar tão perto do trombone sendo amassado e afofado nos
dedos do Daniel. – Será que é algum tipo de mão que eu possa dar? Alguma ajuda,
sei lá...
- Pô... – aí tornou a me olhar de cima pra
baixo e deu mais uma pegada na maçaneta, chegando a deixar o formato roliço no
pano da roupa quando soltou a peça. – Não sei se tu manja.
Que tentação do caralho conversar com aquele
macho cínico enquanto ele me comia com os olhos, patolava a pica no short e me
provocava nas entrelinhas. O melhor de toda a situação é que eu gostava da
trocação de tiros de todos os lados, porque assim não abria o jogo de uma vez e
nem ele cedia à pressão das minhas perguntas. A gente gladiou em segredo nas
nossas interações e papos, mesmo sem ninguém ali em casa pra desconfiar do que
estávamos fazendo.
- De repente eu manjo da parada e você não
sabe, amigão. – foi minha vez de rir. – Me fala, vai? Quem sabe eu não te dou
uma mãozinha? Sou bom nisso.
- Hmmmm, sei não. Tu não tem muita cara que
gosta da parada, não, cria. – outra vez deu uma mascada com a mão no trombone,
só que agora ele passou os dedos no elástico do short na cintura e subiu a peça
de roupa no corpo, fazendo o relevo que já era grande ficar ainda mais
protuberante no tecido. – Acho que tu é bom pra outras coisas, mas não pra
mexer com essas paradas que envolvem cuzinha.
Sim, ele fez isso. Deixou a piroca molenga
evidente no pano, bem na minha cara, e ainda meteu um “cozinha” com “u” na
primeira sílaba. Sabe qual detalhe me fez derreter bem ali na frente do Daniel?
O fato de ele não mover sequer UM MÚSCULO DA FACE enquanto brincava comigo, nem
mesmo um movimentozinho indicando que fosse cair na risada, porque tudo que
estava dizendo era bem sério, sem piadinha torta pra cima de mim. A única coisa
torta ali era sua vara desenhada no short, pois os comentários foram todos
pontuais e certeiros no objetivo.
- É, talvez você tenha razão. – falei. – De
cozinha eu não entendo muito, só manjo de amolar faca mesmo.
- Amolar faca, é, cria? Aí é contigo mesmo,
né?
- Aí é comido mesmo. – se ele era ruim, eu
tinha que ser o pior no cinismo.
- Saquei, saquei. Behehehehehe! Mas qual vai
ser, vamo fumar um?
- Bora, claro. Senta aí, fica à vontade.
Tive a ligeira impressão de ter visto o
cacete dar um pinote na roupa, mas acho que foi a imaginação indo longe por
conta da presença daquele macho loiro e safado na sala da minha casa. Descalço,
ainda por cima, porque ele fez questão de deixar os chinelos na porta e aí eu
só faltei babar em seus pezões veiúdos e com pelos clarinhos por cima dos
dedos. E que dedão, diga-se de passagem. As unhas aparadas na medida, mas ainda
assim um visual robusto, largo e rústico, talvez por eles terem passado muitos
anos dentro de coturnos na época que ele serviu à Marinha.
- Mas fala comigo, cria, será que teu coroa
vai demorar?
- Olha, eu acho que não. Tem um tempo que ele
saiu, então imagino que daqui a pouco deva estar de volta. Você precisa de
ajuda na cozinha?
- É, é. É que tipo, meu aniversário é semana
que vem e eu tava querendo fazer uma comida lá em casa, tá ligado? Aí resolvi
falar com quem entende, teu pai é chefe de cozinha.
- Tá certo. Entendi. É, melhor esperar ele
voltar. Quer dizer, isso se você estiver com tempo.
- Tô, pô. Dá pra dar uma esperada de boas,
tem caô não. Vim na intenção de fumar um também, tudo nosso.
- Ah, aí sim. Tenho um aqui já. – mostrei o
baseado pronto na mão e ele sorriu.
Meu celular começou a tocar no quarto nesse
momento, nós dois escutamos e eu levantei pra ir lá pegar. Como sempre, era
desses números de SP que ligam e desligam assim que atendemos. Não levei nem um
minuto nesse movimento, voltei pra sala e o Daniel também estava falando com
alguém no telefone, sendo que uma mão tava no aparelho e a outra mexendo firme
dentro do short, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Nem quando eu
voltei pra onde tava antes ele parou, só parou mesmo quando desligou a chamada
e voltamos a conversar, mas aí o estrago já havia sido feito e eu tive que me
segurar muito pra não ficar manjando a barraca quase armada que ficou entre
suas coxas.
- E aí, posso acender? – perguntei e preparei
o baseado na boca.
- Não, não, guenta aí. Pera.
- Ih, qual foi?
- Deixa eu apertar um da minha erva, mano. Tu
não vai se arrepender, papo retão. Bagulho tá o verme, ó. – com a mesma mão que
estava dentro do short segundos atrás, ele pegou um pouco da grama da maconha e
levou ao meu nariz pra eu cheirar, sem tirar os olhos dos meus enquanto fez
isso. – Sente e me diz se tu gosta mesmo da parada.
Cheguei a segurar em sua mão nesse momento,
só pra ter o contato físico com seus feromônios além do olfato. O foda é que
ele não tinha cheiro de suor, pelo contrário, o safado era todo cheirosinho,
seu odor parecia o de loção corporal pós banho e esses detalhes me deixaram
embrazado, cheio de fogo por aquele macho estivador loiro. Infelizmente não deu
pra isolar o cheiro da maconha e ficar apenas com o da genitália do Daniel,
então aproveitei sem perder minha compostura, disfarcei e concordei com ele.
- Porra, essa tá boa pra caralho mesmo, ein!?
Que isso!
- Tô dizendo, pô. Vou bolar um rapidão,
guenta aí.
- Tá, eu espero.
- Será que tu deixa eu dar uma usada no teu
dichavador? – pediu.
- Claro. – fui no quarto buscar, voltei e
entreguei a ele. – Toma.
- Valeu, irmão.
Ele moeu a erva dentro do objeto, enrolou no
papel de seda em pouquíssimo tempo e deu pra ver que era maconheiro nato, isto
é, fumar maconha não era um hábito seu de uma vez ou outra e sim algo
recorrente e comum, mesmo ele tendo sido das forças armadas. Eu tava atento a
todos os sinais, não havia escapatória dos meus olhos observadores.
- Mas fala, tá pensando em fazer qual prato
no seu aniversário? – puxei o assunto.
- Minha intenção era meter um lombinho, mano.
Quem é que não curte papar um lombo no dia do aniversário, fala tu? – aí
acendeu o baseado, deu um puxadão forte, deslizou a mão no morro de pica no
short e tragou a fumaça branca da erva. – Mmmmfff...
Depois fechou as narinas com os dedos e se
concentrou em tirar o máximo de proveito da erva, só então soltou tudo e voltou
a respirar. O cheiro de mato queimado tomou conta da sala e eu comecei a ficar
chapadinho por tabela, mas nada me tirou do objetivo de provocar e também ser
provocado pelo Daniel.
- É, lombinho é uma delícia mesmo. – tive que
concordar.
- Porra, quem é que não gosta? Lombo é bom de
tudo quanto é jeito, irmão, dá o papo? – me passou o beck e eu dei um trago. –
Não tem uma modalidade de lombinho que eu não bote pra dentro, sem caô. Papo é
tudo.
- Sério?
- Sem neurose, pô. Na arte do lombo o pai
amassa, dá não. Pode vim de tudo quanto é jeito, eu vou comer. Um bagulho que
eu não passo é fome, heheheehhe! – deu dois tapas no tórax e achou graça.
Eu tive total certeza do formato exato do
porrete desenhado na roupa. Dava pra dizer a grossura do piruzão e em que
posição estavam suas bolas, porém me mantive firme e forte e continuei o papo,
tentando não ser muito óbvio nas manjadas que dei na peça volumosa.
- Então quer dizer que quando o assunto é
lombo ninguém te supera? – continuei fazendo fumaça antes de passar o baseado
de volta pra ele. – Falou em lombo, falou Daniel Gurgel? Bahahahahaahah!
- Ainda, cria. Meu nome é Daniel, o sobrenome
é Comedor de Bunda Gurgel, pô. UAHAUHUAUAHUAH!
- Aff, que horrível. HAHAHAHAAHAHAH! Péssimo,
péssimo...
- Essa foi zoada mesmo, mano. UHAAHUAHUAH!
Quem curte maconha sabe como é facinho se
divertir na onda. Outro detalhe foi a sola de um dos pezões dele virada na
minha direção. Não é novidade pra ninguém o quanto eu sou podólatra, né? Então
se põe no meu lugar na situação e tenta imaginar como eu suei frio nesse dia.
Quis morder o calcanhar do Daniel, chupar seu dedão cabeçudo, abocanhar aquelas
solas brancas e também as dobradiças gordinhas no peito do pé, mas meu
autocontrole pra macho assumiu e continuei inabalável diante do caminhão de
testosterona fácil que era aquele puto dos olhos claros. E vermelhos, lógico.
- Caralho, essa grama tá boa mesmo, ein? –
falei. – Dei nem dois tragos e tô marolando aqui... Heehehehehehe!
- Dei o papo, maluco. Parada de outro mundo,
melhor missão que tá tendo. A boa tá só lá na B2, tem pra mais ninguém no Rio
de Janeiro. Os cara amassa.
- Tão amassando mesmo, tenho que concordar. –
não menti, era a verdade.
Relaxadíssimo, eis que o filho da puta
esticou as duas pernas, removeu os chinelos e apoiou os pés na mesinha do meio
da sala, ficando literalmente com as solas na minha fuça. Dessa vez não tive
como me segurar, fui pego de surpresa e lá se foi o autocontrole ruindo aos
pouquinhos.
- Caralho, Daniel, que pezão da porra, ein!?
Tu calça quanto, viado!?
- 46, hahahahahaha! Eu sou todo grandão
assim, moleque. Tem que ver o terror que era pra conseguir achar coturno, tu
não imagina. Já tive que mandar fazer, pô.
- Sério!? Que isso! Pensei que fosse normal
fazerem coturno grande pra quem é de Exército, da Marinha, essas porra.
- Bom, na teoria é pra ser, mas dependendo do
lugar... Tem canto que os cara não são pezudo, aí é de 42 pra baixo. Mó merda,
custa um dinheiro pra mandar fazer.
- Puta que pariu! Tô entendendo. Mas também,
mó pezão que cê tem, quer o quê? Hehehehehehehe!
- Ih, irmão, se tu achou meu pé grande, então
tu tem que ver o tamanho do meu... – encheu a mão na vara entre as pernas,
apertou o volume, amassou, massageou e falou rápido. – Pai. Meu pai é imenso,
moleque, tu não faz ideia!
- Porra, Daniel... – quis dar um soco nele. –
Eu só imagino o tamanho dele desde o dia que te vi pela primeira vez,
hahahahaha! Te olhei assim e de cara pensei “imagina o paizão que esse cara
deve ter?”. Hauhaahuahah!
- É grandão, as mina até comentam quando vê.
Bahahahaahah! Ficam “nossa, Daniel, seu pai é tão grande”, “como é que pode um
paizão assim tão inteiro, tão massudo?”, “acho que nunca vi um pai tão imenso,
Daniel”. – ele se gabou e caiu na risada.
- Caralho, então seu pai deve ser acima da
média, ein? Não é todo mundo no Brasil que tem pai grandão, né não?
Hehehehehehe!
- Pois é, cria, pois é. Enfim...
Maconheiro é isso. Como eu disse, a onda flui
e a gente vai se divertindo sozinho enquanto o tempo passa ou enquanto o seu
amigo não para de se bolinar durante a conversa. Mas nem achei que fosse só por
causa do nosso papo em si, também havia o fato do Daniel estar chapado, muito
relaxado e super à vontade naquela posição, com as pernas esticadas e os pés
cruzados. Foi delicioso conversar com ele ao mesmo tempo que o pilantra mexia
os dedos e me olhava, ciente de que tava me provocando, mas sem admitir, nem
mesmo com um sinalzinho mínimo sequer. A graça era essa.
- Mas voltando ao assunto, pensei em ver com
o teu coroa se ele sabe preparar lombinho. – o sem vergonha retomou o assunto
do prato do aniversário semana que vem. – Ou isso, ou então sopa de piranha. Já
ouviu falar em sopa de piranha, cria?
- Sopa de piranha? – achei engraçado. – Nunca
vi.
- Papo reto? Porra, era o que eu mais comia
quando tava lá no Sul. Todo fim de semana tinha que ter uma piranha pra comer
na sopa, mano, na seca é que eu não ficava. Era só jogar na panela, tá ligado?
- Hmmm, então se bobear esse é um daqueles
pratos que só quem é marinheiro conhece. Já entendi.
- É, pode ser. Teu pai deve tá ligado qual
sopa é essa. É um caldo, na realidade, feito de vários peixes diferentes. Uma
delícia, moleque, tu tem que experimentar quando puder. Geralmente vende em
quiosque de praia.
- Saquei. Então a primeira opção é lombinho,
a segunda é sopa de piranha, e a terceira?
Aí o loiro puxou mais tragos no baseado, sua
voz ficou carregada da fumaça e eu quase caí pra trás com a resposta.
- A última opção é sempre um veadinho no
espeto, né? Não tem jeito.
- Veado no espeto? Bahahahahaha! Isso nem
existe.
- Não é carne de veado, porra, claro que não.
Hehehehehee! São várias carnes misturadas e grelhadas no palito, tipo
churrasco, pegou visão? Aí tu bota frango, boi, coração, fígado, pode botar
cebola, cenoura, porco. Fica uma delícia, mas é terceira opção.
Eu ainda não havia processado o excesso de
informação física e também verbal que o Daniel tava jogando pra mim naquele
momento. Tanto seu corpo me dando sinais claros de atração quanto sua fala
dizendo implicitamente quais eram seus fetiches favoritos, acho que não estava
mais conseguindo dar conta de tanta safadeza sendo dita nas entrelinhas entre
dois homens.
- Então você tá me dizendo que curte
lombinho, sopa de piranha e veado no espeto, é isso? – frisei. – Veado no
espeto?
- Aham. Tu pode achar estranho, cria, mas só
quem é marinheiro tá ligado como é a vida de Marinha. Não tem jeito, a gente se
vira como pode. A meta é não passar fome, se ligou?
- Tô entendendo, é só que... Os nomes... –
quase desmoronei ali mesmo.
- Tu não conhece nenhum?
- Não dessa forma. – dei um sorriso cínico e
recuperei o fôlego. – Sei lá, essas coisas de cuulinária não são comigo. Pra
ser sincero, eu nem sei se cozinho muito. Cozinho só um pouco, sabe? Até gosto,
mas não é sempre que cozinho pra alguém.
- Tô sacando a tua. – ele falou sério e
apertou a bengala.
- Tá sacando, não tá?
- Tô, tô sacando. Eu sou bom de sacar essas
paradas de cuzinha. – manteve o “U” ao falar. – Saco logo de primeira, ainda
mais quando é outra pessoa falando de cuzinha, tá ligadão? Saco facinho.
- Entendi. Bom que você seja bom de sacar
essas coisas.
- Saco, saco muito. – continuou bem sério e
alisou o volume no short. – Até por isso que tô te falando desses pratos. Como
é que tu nunca provou viadinho no espeto, mano? Porra, mó delícia. Só de falar
já me dá fome, barriga já lateja de vontade de dar uma comida. Pior que no
espeto é que fica bom, tu tem que experimentar um dia.
O descarado do Daniel nem fez questão de
falar com “E” e sim com “I”, enchendo a boca pra dizer que quando não tinha
sopa de piranha o jeito era comer viado. Veado, aliás. Será que eu tava
surtando muito ou realmente acertei na mosca quando li os sinais escondidos no
meio do nosso papo inocente?
- Veado no palito é tão bom assim?
- Caralho, irmão, desde o preparo, quando tu
tá lá sentindo a carne do viado rasgando no espeto, até à hora de botar no
dente, morder e mastigar. Bagulho derrete na boca, sei nem explicar. É como se
a gente que é marinheiro fosse feito pra comer isso, se ligou?
- Pra comer carne de veado?
- Pra DEVORAR carne de viadinho, papo reto.
Chega fico como? Porra... – ele até se abanou de calor. – Se eu ficar falando
muito, sou capaz de botar viado no espeto em primeiro lugar na minha lista de
prato favorito, moleque, sem miséria. Hehehehehehe! Fico com fome só de pensar.
- Tô vendo, Daniel, tô vendo. Hahahahaha!
Gosta muito, pelo visto.
- Sou VICIADO! Fico até torto de vontade de
comer. Hehehehehe!
- Imagino, imagino. – eu ri.
- Imagina, né? – ele também riu e essa foi a
primeira vez que deu uma vacilada na imagem de quem tava falando sério, me
causando a sensação de que, assim como eu, o sem vergonha também não estava
mais se aguentando.
- Sim, tô imaginando a cena de você
mastigando um veado.
- Mentaliza aí. Tu já sabe que eu sou grandão
e que meu pai é enorme, agora imagina a gente acabando com o lombo de todos os
viadinhos no espeto quando rola churrasco lá em casa, irmãozinho. Pensou?
Bagulho fica doido, eu chamo até de festa da carne. Conhece?
Foi meu momento de pedir arrego, acho que não
havia mais como continuar aquela conversa sem perder o controle das piscadas
disparadas que meu cuzinho começou a dar conforme falávamos. Minha impressão de
ver pinotes naquele montante de pica entre as pernas do loirão cresceu, só que
eu não tinha como manjá-lo sem acabar comprometendo toda a minha compostura até
ali, então preferi segurar um pouco a onda e não olhar tão na cara de pau. E
que pau, ein?
- Mas dá o papo, parceiro, teu negócio é
amolar faca que tu falou, né? – o cretino parou de rir e tornou a falar bem
sério, não dando sinal nenhum de putaria.
- É isso, amolo faca que é uma beleza.
- Saquei. Pô, então será que se eu te der meu
facão tu dá uma amolada boa na lâmina pra mim? – sem mais nem menos, outra vez
ele demonstrou aquela mania de pôr a mão pra dentro do short e começou a mexer
lentamente.
- Posso tentar. Quer marcar? Você traz o
facão pra eu dar uma olhada e eu vejo se consigo amolar. Mas já te aviso que
sou bom nisso, até hoje não teve uma lâmina que eu não tenha deixado afiadinha
na minha pedra.
- Ah, tu amola faca na tua pedra, é? – mais
movimentos no short cheio.
- Sim, sim. Tenho uma pedra profissional, dá
pra botar bem no fundo sem problemas. Já imaginou teu facão amolando nela? Acho
que sai até faísca, Daniel. – tive que puxar meu short pra tirá-lo do meio da
bunda, de tanta fome e pinotes que meu cuzinho tava dando durante a conversa.
- Meu irmão... Se já tá saindo faísca na tua
mente, imagina com o meu facão lá dentro? Tô vendo que vou cortar lombinho de
viado antes do meu aniversário se continuar assim.
- Ué, mas você não disse que veado no palito
é terceiro lugar na sua lista de pratos favoritos?
- Disse. E dei o papo que se tu falar muito
eu vou acabar botando em primeiro lugar, lembra? Carne de viadinho é de
primeira qualidade, irmão, não é todo dia que se come. É corte nobre, tá
ligado? Tem todo um requinte na hora de botar na boca e de amassar.
- Concordo contigo. E, ó, você tem cara de
quem sabe comer bem uma carne de veado, sabia? Cara de quem sabe bater na carne
pra amaciar e depois sabe queimar e comer.
- Eu sou, não é querendo me gabar, não, mas o
pai amassa mesmo. É por isso que tô a fim de comer um lombinho de viado até o
meu aniversário, se ligou? Não curto ficar só na vontade. Ex-marinheiro, pô,
tava acostumado com sopa de piranha todo final de semana lá no Sul, como é que
agora faço aniversário e não meto um viado no palito? Tenho que meter, tem como
não.
Respirei fundo, tomei coragem e vi que o
negócio não ia prestar entre a gente. Pra completar, o gostoso pediu pra dar um
mijão, eu indiquei o caminho do banheiro e achei que fosse babar quando o Daniel
ficou de pé e o volume da bengala foi todo projetado pra frente de sua cintura.
Ele não teve como esconder o jogo e, pra ser franco, não pareceu querer ou
precisar disso, pelo contrário, até botou os braços pra cima, ficou na ponta
dos pés e despreguiçou o corpo assim que levantou do sofá. Delirei com o visual
dos braços grossos, as axilas praticamente lisas, brancas, e, como sempre, as
veias dos pés saltadas.
- Uuuuurgh! Mó tempão sentado, que isso. –
bocejou.
- Trava o corpo, né? – disfarcei as olhadas.
- É, é.
E o que dizer da jararaca cabeçuda,
borrachuda e meia bomba no pano do short? Não deu pra disfarçar, sobretudo por
conta do tamanho anormal e muito acima da média. E a grossura? Fiquei perdido
na sala, não soube onde me agarrar. O cínico foi no banheiro mijar e eu escutei
o barulho do jato de urina grossa caindo diretamente na água do vaso sanitário.
É inacreditável como a gente é capaz de mentalizar e imaginar cada detalhe em
relação ao macho quando tá muito a fim de putaria, né? Porque, por exemplo, eu
reparei até no fato do Daniel ter voltado do banheiro com uma pequena mancha de
mijo na lateral do short, pra não falar da enorme protuberância da pica quase
que vazando pela saída da perna da roupa, tudo isso pra me tirar dos eixos.
Aproveitei que ele retornou, respirei fundo e decidi abrir o jogo de uma vez,
sem mais joguinhos de sedução ou entrelinhas.
- Daniel... – o coração acelerou na hora de
falar. – Eu sei que você não sabe muito quem eu sou e-
- Tu que pensa.
- Quê? – tomei até um susto com seu jeito
desinibido e fácil de me olhar e de falar comigo.
- Tu que pensa que eu não sei quem tu é. Tô
ligado, amolador de faca.
Paralisei por uns segundos e me senti exposto
e indefeso diante de um enorme predador que sempre esteve ciente da minha presença.
Parece que quando eu decidi finalmente falar sério, o pilantra aparentemente
teve a mesma ideia e também passou a me tratar de igual pra igual, sem mais
lengalenga.
- Sério que cê me conhece? Mas a gente nem
andava junto-
- E tu acha que só porque eu não andava junto
eu não lembro de tu? Tô ligado na tua, pô.
- Na minha?
- Tu não passa batido de jeito nenhum, mano.
Nem tenta.
Me senti desafiado, no melhor sentido
possível. Era mais um jogo de palavras, não simplesmente afrontas ou ataques
diretos que poderiam ter sido feitos mais explicitamente entre nós. A maior
prova disso foi seu cuidado em usar os termos e continuar me olhando com a
maior cara de normalidade, como se não estivesse testando minha atitude. Era a
linguagem oculta dos homens e eu dominava muito bem.
- Um cara do teu tamanho, André, com certeza
não passa batido. Te avisto de longe, pô. – disfarçou e riu.
- Hahahahaahaha! Você tem razão, a gente é
bem alto.
- Pois é, pois é. – acendeu o baseado e não
parou de me olhar.
Tava mais do que na cara que o puto queria
ver meus limites, eu só tive que ter cuidado pra saber prosseguir e levar a
situação no alto nível entre a gente. O pior é que seu short era curto, Daniel
sentou de pernas abertas e a peça de roupa meio que subiu pelas coxas, torneando
ainda mais a cadeia de montanhas que era seu saco de cavalo e o relevo gordo da
pica monumental. Dei uma manjada violenta no cacete, não tive jeito de
disfarçar, aí ele me olhou de baixo a cima, esfregou uma mão na outra como se
fosse almoçar e ficou sério. Abriu a boca e mandou ver.
- Vamo continuar jogando ou tu vai me m-
- Opa, Daniel! Tudo bom, meu caro? Bom dia,
bom dia! – eis que meu pai entrou pelo portão nesse momento.
- Eita! – resmunguei, desacreditado. – Bom
dia...
- Oi, fala aí, tio! Beleza? – até o loirão
engoliu o momento a seco. – Vim procurar o senhor e não encontrei, aí fiquei
aqui batendo um papo com meu amigão.
De pé, Daniel Gurgel laçou o braço no meu
pescoço, me puxou pra si num gesto exageradamente fraternal e eu sem querer
entrei em contato direto com a quentura de suas axilas, tendo a oportunidade de
respirar fundo e senti-lo mais uma vez entrando em meus pulmões. Que cheiro
delicioso de macho bem cuidado e limpo, puta merda! Tive que disfarçar legal na
frente do meu pai, diga-se de passagem, e isso incluiu também a ponta da
marreta do loirão pincelando minha perna durante o cumprimento.
- Tá precisando de alguma coisa, filhote? –
meu coroa quis saber.
A gente ficou na sala batendo papo e
explicando pro meu pai os planos da comida do aniversário do Daniel. Como ele
não conseguiu se decidir sobre qual era o melhor prato, o chefe de cozinha
entre nós deu a ideia de preparar coxas e sobrecoxas de frango assadas no
barbecue com macarronada e salada verde, aí o loiro quase deu um pulo quando
processou a informação.
- PORRA, TIO! Sarneou, papo reto! Que isso,
nem tinha pensado numa parada dessas, mano. Hahahahahaha!
- Curte uma coxa? – provoquei.
Ele me encarou com o olhar fatal e bruto de
quem me carcaria ali mesmo na frente do meu pai, novamente esfregou as mãos,
lambeu os beiços com vontade e até deu uma coçada de leve no saco, só pra
esfregar tudo na minha fuça.
- Tá zoando, moleque? Um franguinho assado de
aniversário é a pedida, pô. Vou ficar como? Da melhor forma, heheheheehhe!
Então já é, vai ser isso mesmo, tio.
- Combinado, então? – o coroa quis saber.
- Combinado. Prepara a lista aí que eu vou
receber e a gente vai piar no mercado pra comprar as paradas.
- Beleza.
Os dias foram passando, o aniversário do
Daniel foi se aproximando e, assim, ele e meu pai começaram a se movimentar pra
fazer o tal frango assado com macarronada e salada verde acontecer. Um dia
antes da comemoração, mais ou menos no horário do almoço, o loirão apareceu lá
em casa pra pegar a lista de compras e ir no mercado com o meu coroa. Só que,
como velho e bom chefe de cozinha, o velhote preferiu ir ao mercado sozinho e
sem ninguém ao lado perturbando, bem parecido com o jeito que gostava de fazer
comida, que era sem aporrinhação e desordem na cozinha.
- Faz um favor pra mim, filhão? – ele pediu
antes de sair com o carro. – Vai amolando as facas que eu vou usar pra cortar
os temperos, pode ser?
- Claro! Amolar faca é comigo mesmo. –
respondi olhando pro Daniel na varanda e o puto riu de canto de boca, com as mãos
nos bolsos do moletom.
Não demorou um minuto e lá estávamos nós dois
sozinhos de novo. Apesar do calor, ele tava com uma calça de moletom fino que
deve ter usado pra dormir, a julgar pela cara amassada de sono. Blusa do
Flamengo, chinelos slide e uma senhora protuberância de rola destacada entre as
pernas, como se fosse pra me deixar aguado logo de cara, porque foi esse o
efeito. Sua barba loira estava um pouco maior no rosto sério, o cabelo batido
curtinho, ainda disfarçado nos lados, e havia um baseado enrolado atrás de uma
das orelhas.
- Posso? – ele segurou o beck com o isqueiro
e me olhou.
- À vontade. Já não falei que a casa é sua,
Daniel? Ainda mais hoje, véspera do seu aniversário. O dia é todo seu. – falei
enquanto passei da varanda pra sala e o convidei pra dentro.
Animado com as coisas que eu disse, o
pilantra entrou colado atrás de mim, quase que me encarcando por trás, e não
teve qualquer receio ou medo de deixar a pica roçar na minha bunda. Mas não
agiu na plena má intenção, apenas sarrou de leve, puxou a fumaça do baseado
aceso e ficou rindo do que aconteceu. Eu também ri, porém tínhamos uma tarefa a
cumprir, então achei melhor começar o quanto antes.
- Cê sabe amolar faca, Daniel? – perguntei
quando chegamos na cozinha.
- Nada, nada.
- Quer que eu te ensine?
- Hmmm, pode ser. Fala, como que é?
- Primeiro você tem que botar o ferro de
ladinho na beirada da pedra, sabe? – peguei um facão, a pedra de amolar e
demonstrei em cima da mesa de jantar. – Avaliar bem qual é o melhor ângulo de
inclinação, tá vendo aqui?
- Uhum, tô vendo. – chegou mais perto por
trás de mim, me encaixou, me cobriu com seu corpo e deu uma farejada no meu
cangote, me deixando completamente arrepiado. – De pertinho dá pra ver. Tem que
ser de ladinho com a faca, é?
- É, bem de ladinho. Depois dá uma
escorregada assim pra cima, entendeu? – gesticulei com as mãos sem parar de
olhá-lo e de senti-lo me encoxar. – Pra lateral da lâmina pegar na beira da
pedra. E vai amolando devagarzinho. Tem que ter cuidado pra não cortar o dedo, senão
dá ruim.
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A VERSÃO COMPLETA VOCÊ ENCONTRA NA COLETÂNEA "QUANDO BATE O TESÃO", disponível clicando aqui.