quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Complexo do Céu na Terra: Paraíso




 

- Qual foi, Pequeno? Minha prima bem falou que quer dar pra tu. Ela tá ali no canto, ó? Tá vendo? – a mulher apontou na direção da viela. – Pediu pra eu te dar esse papo, porque ela tem namorado e o boy não pode saber, entendeu?

Não era novidade aquele tipo de situação acontecer. Abner Pequeno sabia bem que sua aparência de macho grande, forte, troncudo, com cara de ruim, negão e de voz grave, chamava a atenção onde quer que ele fosse, independente de qual área da favela estivesse. Principalmente no dia em que completava 28 anos de idade, não tinha como ser diferente. Encostado no muro lateral da viela, o mavambo tirou a mão de cima da pistola na cinta, deu um sorriso e segurou uma mecha do cabelo da moça entre os dedos, arrancando um risinho sem vergonha da danada.

- Vem cá, qual é o teu nome? – ele quis saber, sem desfazer daquele charme irresistível pra cima da rapariga.

- É Penélope. Por que?

Aí deu outro riso antes de responde-la.

- Nome de princesa, já te deram o papo? Hehehehe. É tu ou é tua amiga que tá querendo me dar a bucetinha, Penélope?

Fez a pergunta, pôs o dedo escuro e grosso no queixo da mulher e olhou no fundo dos olhos dela, deixando a coitada com as pernas bambas, só pela encarada pesada e crua.

- Eu... – ela até gaguejou, incapaz de não reparar na arma pendurada na cinta do macho. – Eu... Sou doida pra fuder contigo, Pequeno. Mas meu namorado não pode saber, por nada nesse mundo!

Ciente de que a putaria tava certa, ele não parou de sorrir. Deixou a mão deslizar do queixo da moça e chegar no ombro, só pra manter o contato físico enquanto eles se olhavam compenetradamente.

- Eu sou bandido, garota. Ando armado pra cima e pra baixo nessa favela, não tô nem aí se o puto do teu macho vai saber.

Ouvindo essa resposta, a patricinha chegou a ficar trêmula. Mesmo morando em uma favela carioca, ela ainda se assustava com as dinâmicas dos marginais portando fuzis e metralhadoras a todo momento diante dos seus olhos. Mais do que isso, a safada não conseguia segurar o tesão que sentia pelo negão corpudo e todo bruto que Abner era, apesar de se sentir nervosa com a visão da arma presa no quadril do cafução. Ele tava sem blusa, o short caindo pela cintura, boné pra trás, suor escorrendo no meio do peitoral e descendo pelo tórax definido, onde ficavam os vários cordões de ouro do malandro. Os dedos também eram cheios de anéis dourados, pra não falar do baseadinho fininho pendurado no canto da boca, perto dos dentes de ouro. E o que dizer do comportamento desaforado e mandão do traficante?

- Mas tem um caô, Pequeno. – ela continuou, toda sem graça. – É que meu namorado, ele... Também é bandido. Lá em baixo, no Éden. Não queria que ninguém se matasse por causa de buceta, tá ligado?

Foi nesse momento que eles caíram em divergência. Ao processar o significado daquele pedido, o marginal não segurou a graça e soltou uma gargalhada sincera na cara de assustada de Penélope, que não entendeu bem aquela reação. Há poucos passos dali, os crias da boca de fumo viram a reação do chefe caindo na risada e fizeram a mesma coisa, mesmo sem saber o porquê dele estar rindo. Essa sequência de gargalhadas deixou a patricinha ainda mais acuada, pensando duas vezes se aparecer ali e dizer tudo o que disse era o correto.

- Ó só, vamo fazer o seguinte? – Abner Pequeno gesticulou e tentou ser o mais didático possível. – Pra não ter caô nenhum comigo e com o teu boy?

Ela fez que sim com a cabeça e esperou pela resposta. O problema, pra Penélope, foi apenas um: mais do que não estar acostumada com um putão marginal devasso e marrento daquele porte, ela não tinha chão suficiente pra lidar com o lado sexual explícito do criminoso. Com nada a temer, Abner pôs a mão na orelha da menina, se aproximou e sussurrou entre os risos.

- Fala pra ele que eu como a tua buceta e depois ele come o meu cu com força, só de vingança, até me encher de porra. A mesma porra que ele soca na tua xoxota. Tá a fim?

Os olhos da patricinha quase se cruzaram no meio do rosto, de tão enjoada que ela ficou. Ouvindo isso, Penélope virou de costas repentinamente, tentou correr, mas o estômago embrulhou tanto, que ela teve que parar e liberar o vômito da ansiedade no canto do muro. Aí pronto, os crias da boca de fumo viram isso e caíram mesmo na gargalhada, deixando Abner ainda mais à vontade, bem do jeito que ele gostava.

- Ih, a lá! Cês viram isso, rapaziada?! Ela ficou bolada só porque eu falei que ia comer a buceta dela, enquanto o macho dela escalavra o meu cu! HAHAHAHAHA! Fraca do caralho, ein, doida?!

A roda de traficantes e vapores só achou graça, todo mundo rindo junto e sentindo os efeitos estimulantes das drogas. Todos ali conheciam muito bem o negão marrento, com jeito de putão, todo malandro, encorpado, sagaz, sempre rindo, carismático que só ele. Do tipo de homem que toda sogra queria como genro, exceto por dois detalhes: esse homem estava preso no corpo de um traficante de drogas, carioca e ASSUMIDAMENTE gay, com piercing de ouro no umbigo e tudo mais.

- Quem quer rir tem que fazer rir primeiro, ora porra! Quem essa mina pensa que é?! Ahahahahah!

- Dá o papo nessa maluca, Pequeno! Deixa ela careca, deixa ela careca! – os caras no plantão botaram pilha.

Sorridente e segurando um copão de bebida, o mavambo sentiu o sol rachando no topo do céu, olhou pras vielas mais abaixo no morro e viu aquele cenário paradisíaco e ensolarado dominando seu campo de visão. Milhares de telhas inacabadas, muros ainda por fazer, lajes descontinuadas e o cinza do cimento sobressaindo sob os raios de sol do verão. Calor, quentura, suor. Era o topo do morro. Pequeno, com seus quase dois metros de altura, rindo à beça perto dos colegas do corre, um mais maloqueiro que o outro. Aquela selva de pedras era o seu reino.

- Ih, coé, cria? – um dos moleques, justamente um dos novatos que entrou pra boca de fumo há pouco tempo, viu aquela zoação entre eles e dançou fora da música. – Tão vacilando fácil, é? Daqui a pouco vão pensar que tu dá a ré na marcha, porra! Seus vacilão!

Assim que o vapor disse isso, todo mundo parou de rir e um clima de tensão se instalou entre todos na boca de fumo. No mesmo instante em que escutou aquela frase, o negão parou de rir, encarou o moleque e foi se aproximando devagar.

- O que tu falou aí, doidão!?

Enrolando um baseado, o novinho não se deu conta da aproximação de Abner diante de si. Até que sentiu o cano do revólver subindo seu queixo e aí teve que encarar a fuça revoltada do traficante ogro.

- Vou perguntar de novo. O que foi que tu disse aí, doidão!? – o tom de voz bem mais sério do que o normal. – Repete, filho da puta!

- Calma aí, chefe! Que isso, pô?! Tô brincando!

- Mas eu tô brincando contigo, seu arrombadinho do caralho!? Tô com cara de quem parece que tá de sacanagem contigo?!

Ao redor deles, todos os homens ficaram acuados, mas nenhum teve coragem suficiente de dizer qualquer coisa, até porque, ao contrário do novato, eles conheciam Pequeno e sabiam bem do que ele era capaz. Também sabiam que era o dia do aniversário do marginal, ou seja, ele tava mais exaltado do que de costume, isso era um fato. Ninguém sabia o que poderia acontecer ali, por isso nenhum deles se meteu, só ficaram olhando fixamente pra cena do mavambo apontando o cano da arma de fogo bem na direção do queixo do vapor.

- REPETE, SEU MERDA! Tá pensando o que!? Tá achando que viado é bagunça, filho de um puto?! Me dá um bom motivo pra não derreter teus miolo agora mesmo, vai!?

Um infeliz e azarento acabou tentando dizer alguma coisa pra contornar a situação.

- Coé, chefe! Pensa no Lelé, ele não ia querer que tu fizesse isso.

Foi só lembrar do Lelé que o cafução tirou a arma do queixo do novinho, apontou pro alto e deu dois disparos seguidos, fazendo todo mundo no beco abaixar imediatamente. Aquele nome era o seu gatilho: Lelé. Quem teve a porra da péssima ideia de falar aquele apelido justo quando Pequeno segurava uma arma de fogo e tinha acabado de ouvir piadinha de um dos vapores?

- TÁ MALUCO DE FALAR O NOME DESSE ALEMÃO FILHO DA PUTA NA MINHA FAVELA, DESGRAÇADO!? TU QUER MORRER, SEU RESTO DE LIXO!?

- Calma, chefe, calma! Calma!

- Calma é o caralho, seu otário! Eu sou bichinha mermo, tá maluco, doidão!? Sou bichinha, dou o cu e sou dona dessa porra toda aqui, tu tá me escutando?! E se tu quiser continuar aqui, é melhor andar na linha e respeitar essa bicha que tá apontando a arma pra tua cabeça, sua aberração dos infernos! Escutou!?

Com os braços levantados e indefeso no canto, o vapor hesitou cautelosamente. O negão sentiu a respiração nervosa e quente do moleque contra o seu peitoral, lembrou que era o dia do seu aniversário e não segurou as vontades sádicas, só pra deixar o pivetão maluco. Pequeno esticou a mão, segurou o pescoço do cara e foi descendo até o tórax, sentindo as recuadas involuntárias que a barriga do puto deu de nervoso.

- Que isso, chefe?! Por favor, eu tenho mina, chefe! Faz isso não, maluco...

- Mina? Tu? E qual é o nome dela, dá o papo. Idade, profissão...

Abaixou os dedos no volume do caralho do vapor, apertou a massa de pica e mordeu o beiço, vendo a cara de descontrole do novinho naquele momento de tensão. Uma arma de fogo na mão e o revólver na outra, era assim que Abner Pequeno gostava de se sentir. Até que ele desceu um pouco o corpo na frente do sujeito indefeso, ficou de joelhos e olhou pra cima, rindo.

- Será que a tua mina paga um boquete melhor do que o que eu vou pagar agora? Hehehehehe!

- Que isso, chefe?! Vai acabar furando a boca aí, faz isso não! Como é que fica a minha moral na facção se eu acabar ferindo o senhor? Hehehehe!

Em volta deles, todos os outros marginais assistindo àquela cena com um certo gosto, alguns até lambendo os beiços e rindo pros outros. Desde que o negão assumiu a gerência das principais bocas de fumo do Morro do Paraíso, a gestão agora era feita sob nova direção, tudo com muita... Paz. Sim, paz, por mais estourado e embrazado que fosse Abner Pequeno.

- E quem vai furar minha boca, tu? Hahahahaha! – à vontade, o dono do morro pegou novamente o revólver, apontou de novo no queixo do vapor e deu a ordem. – Então tá certo. Se tu não furar minha goela, eu acabo contigo. Tamo combinado, doidão? Pique roleta russa, mas uma roleta... Carioca. Hehehehe!

A história de formação do Complexo do Céu na Terra envolve um complicado contexto de violência urbana na cidade do Rio de Janeiro. Historicamente falando, o Morro do Paraíso e a Favela do Éden permaneceram sem bandidagem por muito tempo dentro do subúrbio carioca, mas esse milagre não durou tanto. As duas facções que assumiram o Complexo passaram a entrar em guerra constantemente, os IDI, “Irmãos dos Irmãos”, e os CA, “Comando Azul”. Desde 2009, os moradores não tiveram paz, devido à incessante competição entre essas gangues pelo controle do tráfico de drogas local. A disputa só teve fim por volta de 2011, depois da construção de um muro que finalmente demarcou a área de atuação de cada facção, dando um basta na eterna guerra suburbana que banhou os chãos daquelas favelas de sangue durante muitos anos. Mas... E se, em vez de uma enorme parede dividindo as duas regiões, ambas as facções dessem à luz um único filho? Todas as melhores histórias do Morro do Paraíso sendo bordadas no mais experiente tecido da Favela do Éden, qual pode ser o resultado? Ali estava. Aquele que superou as armadilhas existenciais e sobreviveu no solo incandescente e malcriado da periferia carioca. Ele, mais um filho insubmisso do mesmo asfalto suburbano que todos os outros.

- Que isso, chefe!? Tem certeza que tu quer se machucar no meu fuzil? Fffff!

- Eu monto e desmonto parafal todo dia, doidão. Tu tá botando fé que me machuca, papo reto?!

Ajoelhado na frente do pivete, Pequeno amassou o volume do tacape do puto e sentiu aquela massa de cobra ficando cada vez menos mole e mais rígida, abrupta, com fome de putaria. O mesmo macho que o zoou por dar a ré na marcha agora estava sendo patolado, amassado, controlado por cima da bermuda jeans surrada e ficando de pau duraço, bem na frente dos amigos da boca de fumo, que assistiam a tudo com muita atenção.

- É que já machuquei várias piranhas daqui do morro, né, chefe?

- E eu lá tenho cara de piranha que tu vai machucar, seu merdinha?!

Olhando pra cima e encarando o novato nos olhos, o dono do morro abriu o zíper, viu a pentelhada do molecote e sentiu o cheiro de pica recém mijada inebriando suas narinas, ficando com a boca cheia d’água. Depois de sentir o odor da macharia, o mavambo puxou a bermuda pra baixo, viu a cintura oblíqua e bruta do moleque e não pensou duas vezes: abriu o bocão, engoliu a jamanta e deixou a goela trabalhar.

- SSSsS, puta merda, chefinho! FFfFF! Achei que fosse caô que o dono dessa porra era bicha, mas tô vendo que é tudo verdade, né?

Ocupado demais pra responder, o aniversariante do dia deu o presente pro vapor, prendendo as mãos nas laterais das coxas do pivete e o puxando ainda mais pra dentro de si, só pra causar aquela sensação iminente de engasgo. A cabeça do caralho nem teve tempo de sair do prepúcio, isso só aconteceu depois que já tava na garganta, conforme a pilastra cresceu durante o boquete, bem do jeito que Pequeno gostava de fazer com seus machos.

- OrrSSS! Isso, mama até o talo dessa vara, vai, chefe? FFff! Boqueteiro do caralho, assim que eu gosto! HmmmSS! – em pouco tempo de exercício, o moleque fez questão de dar ao dono da boca o que ele tanto queria ganhar, mesmo tendo namorada. – Dá uma chupada na minha bola, vai, viado? Isso, puto! SSsS!

- Quem disse que tu pode botar a mão na minha cabeça, seu filho da puta!? – o negão marrento deu um tapa no pulso do vapor e o empurrou pra trás. – Tira a mão de mim, me deixa à vontade!

- Foi mal, chefe. Não faço de novo!

- Acho bom mermo, doidão. Se tu não quiser perder a porra da mão!

Os outros olhando, meio tensos, e Pequeno nunca deixando de lado seu jeito dominador, até na hora de ajoelhar e cair de boca na vara dos amigos do plantão. O macho que ele chupava era um novinho magrinho, da pele parda, tipo definidinho e com os braços e o pescoço tatuados, fazendo a linha marrento e precoce, talvez em seus 18, 19 anos de idade. Pentelhudo, com uma senhora pica entre as pernas e se prendendo na goela do chefe da boca, só pra ter a sensação luxuosa das bolas se escorando no queixo do marginal. Quando o molecote olhava pra baixo, ele mal acreditava na cena do dono do Morro do Paraíso engasgando e engolindo seus mais de dezoito centímetros de caceta escura e comprida, toda veiúda, com a cabeça solta, inchada e deixando gosto de macharia na garganta do aniversariante. Diante disso, outro dos crias da favela também foi se aproximando e passando a mão pela nuca do negão ajoelhado.

- Coé, chefinho, tu se importa se eu te botar pra cheirar essa pica aqui, ó? A minha é mais cheirosa, saca só o cheirão de macho depois do treino?

Esse segundo vapor era todo forte e parrudo, da pele morena, careca, com cavanhaque e os braços grossos. Um cafução massudo, tatuado, das orelhas estouradas, a cara fechada e que dava aula de muay thai pros jovens da comunidade. Mais ou menos quarentão, de aliança no dedo e esfregando o rosto de Abner contra o short suado, pra fazer o chefe sentir seu cheiro de suor, de testosterona, de macharia e também do picão gordo latejando no tecido.

- Ou, me dá atenção também, chefinho? – o primeiro vapor cobrou e tentou puxá-lo de volta pro boquete. – Tô ficando seco, já!

Mas o segundo macho, o parrudo lutador, também não quis saber de meio tempo e tornou a esfregar a selva da pentelhada contra a fuça suada do traficante.

- Não, calma aí. Deixa ele sentir esse cheiro de pica primeiro, que eu tô ligado que ele se amarra! HmmfFFF!

Enquanto isso, Abner perdido, se deliciando com o melhor daqueles dois. Ele mal tinha tempo pra falar, mas sabia que todo o controle era seu. Era ele quem definia o que, o quando, onde, como e com quem, por isso estava ali naquele momento, ajoelhado, cheirando pentelhos de um professor de muay thai casado e engasgando no trombone de um dos vapores da boca de fumo do Morro do Paraíso. Um terceiro maluco, branquinho e também tatuado, se aproximou e já botou o salame de fora, ainda mole, ensaiando uma punheta no rosto do negão.

- Passa vontade não, chefia, pode caprichar! Hehehehe!

O sol passando por cima do Complexo naquele instante, o calor derretendo todo mundo, mas eles entocados no fundo do beco, longe dos olhos das ruelas principais, imersos no mundo criado por Pequeno quando ele assumiu como dono do morro. Apesar do comportamento dominador e genioso do negão, só participava ali quem queria, quem ele sabia que tinha um pé no mesmo mundo que o dele, muito embora alguns demorassem a admitir isso. No fim das contas, ali estavam três machos botando o mesmo dono da boca pra pagar boquete. Três cacetas em formatos e gostos diferentes na mesma goela.

- Abner Pequeno! Quem diria, ein? Quem te viu e quem te vê, negão!

A voz desconhecida irrompeu do começo do beco e imediatamente os três caras começaram a se ajeitar, numa reação parecida e espontânea. Sem pressa e ainda ajoelhado, o mavambo olhou pra trás, viu um sujeito totalmente desconhecido parado e o observando, com um risinho cínico no rosto. Dois dos machos sacaram suas armas, apontaram na direção do maluco, mas essa cena só fez o recém chegado rir ainda mais, porque as cacetas duras nas bermudas ficaram evidentes.

- Como esse Rio de Janeiro é... Como eu posso dizer... Pequeno!? Haahahah! – o homem continuou rindo e falando de uma forma simpática até demais, após ter pego todos os marmanjos naquele beco fazendo putaria com o dono do morro.

Todo mundo apontando as armas pro sujeito, exceto pelo próprio Abner, que levantou de onde estava ajoelhado e foi andando na direção do cara, finalmente saindo das sombras.

- Eu não sei quem tu é, mas tô ligado que tem que ser muito burro pra entrar na minha favela e me zoar assim na cara de pau, doidão.

- Ah, deixa disso, cuzão! Heheehehe! – sem medo, o homem abriu os braços, sorriu e esperou pelo cumprimento. – Vai dizer que tu nem sentiu minha falta, Bezinho?

Uma vez na luz, Abner fixou os olhos no rosto daquele sujeito, analisou por uns breves segundos e logo viu outra pessoa surgindo atrás dele. As feições rústicas e inacabadas do rosto daquele cara trouxeram a maior sensação de nostalgia, principalmente por conta dos olhos escuros e tão característicos.

- FAEL!? CARALHO, PRIMO!? – assustado, Pequeno finalmente o reconheceu e pulou pra dar um abraço, mesmo sendo bem maior e mais velho que o outro. – Quanto tempo, seu filho de uma puta! Aonde foi que tu se meteu, arrombado!?

- Porra, tu tá muito diferente, moleque! Nunca pensei que fosse te encontrar vivo, ainda mais depois daquela merda que aconteceu aqui no Complexo, né?

- Cara, primeiro de tudo. Nunca se chega assim na boca de fumo de ninguém, tu tá escutando? HAHAHAHA! Seu corno!

- Ah, para! Eu te deito na porrada a hora que eu quiser, moleque! Hehehehe! – animado como nunca, Fael entregou a mochila pro noivo ao seu lado, pulou na direção de Abner e, mesmo sendo mais fraco e menor, conseguiu emendar um cascudo, quase derrubando o primo mais velho. – Seu puto! Não falei?! Hehehehe!

Vendo a cena, André segurou a bolsa com os equipamentos e quase deixou as coisas caírem, de tão pesadas. Em seguida respirou, revirou os olhos e só então notou as armas dos outros homens da boca de fumo, ainda apontadas em sua direção.

- Relaxem aí, eu tô com esse cara! – ele ficou meio nervoso. – Fael, por favor, fala com eles que eu tô junto?

Mas o noivo se entreteve em matar as saudades do primo mais velho, deixando o resto das pessoas naquele beco sem reação. Os vapores não sabiam que Pequeno tinha outro primo mais novo, assim como o próprio André também não tinha noção desse fato e só descobriu quando chegaram ali.

- Como tu descobriu que eu tô daqui, Fael? – Abner perguntou. – Quem te deu a visão?

- Porra, é a gente que instala o serviço de câmera de vigilância que tu contratou, mano! Hehehehe! Aí quando eu brotei lá do pé do morro e vi um pessoal comentando que o dono da boca é um viado marrento, já soube que só podia ser tu, Bezinho! UAHUAHAHHAA!

Eles caíram na risada, Pequeno totalmente desarmado diante da inesperada surpresa do primo de tantos anos. Nenhuma outra pessoa faria piadas com ele sem sofrer retaliações, por exemplo, exceto por Rafael, o parente de longa data, sumido há tanto tempo.

- Minha reputação tá muito boa na pista, pelo visto. Heheheheeh!

- Vai ver tá na nossa família descobrir que é viado, né?

O negão olhou pro lado, observou André, e aí finalmente o cumprimentou, entendendo o significado do que o primo quis dizer.

- Coé? Abner Pequeno.

- Prazer. Eu sou André... Noivo do seu primo.

O casal se abraçou, Fael encostou a cabeça na do noivo e abriu o sorrisão, deixando Pequeno um tanto quanto orgulhoso, principalmente por conta de como as coisas estavam indo bem no presente. Eram anos de paz no Morro do Paraíso, assim como anos de luz na vida do ex traficante Rafael e do futuro maridão André. O cafuçu ex marginal olhou o negão de baixo à cima e riu.

- Caralho, Bezinho, como tu cresceu, ein!? Tá maior que eu, viado?!

- Também, porra, mais de não sei quantos anos que a gente não se vê! Mais de década que não encontrava contigo e que não encontro com aquele marrentinho do Menó também. Como é que ele tá, tem notícia!?

- Ih, muita coisa aconteceu, primo! Mas Menózão tá de boa, saiu da bandidagem também. Tá todo mundo andando na linha, todo mundo saindo dessa vida, até que eu chego aqui e descubro que tu virou o chefe do morro. Como são as coisas, né não!? Fala tu?! Hehehehe!

Pensativo, Pequeno olhou pro alto, observou as nuvens brancas no céu azulado de verão e deixou um sorriso sincero transparecer no rosto de quase trinta anos. Aquele era o dia do aniversário de 28, mais um ano de muita experiência, vivência e acontecimentos na vida do negão.

- É como tu falou aí, Fael. Muita coisa aconteceu. – Abner fechou os olhos e a mente se elevou. – Muita coisa rolou durante todos esses anos que geral se afastou, primo...

BEZINHO: A ERA DE BRONZE

            Antes de se tornar Abner Pequeno, o apelido do negão era neguinho, também conhecido por Bezinho, devido principalmente ao perfil físico magricelo, de frango, com o corpinho fraco e a aparência frágil. Aos 18 anos de idade, tomando conta da mãe acidentada e acompanhando as primeiras habitações sendo instaladas no Complexo do Céu na Terra, Bezinho não tinha muitas preocupações na vida, a não ser os estudos, o trabalho e os pequenos prazeres do dia a dia de morador do Morro do Paraíso. Pros estudos o moleque magrelo nunca deu muita atenção, porém também nunca chegou a abrir mão totalmente, porque sempre acreditou na mãe quando ela dizia que estudar o levaria a qualquer lugar que quisesse. Mas as contas não se pagariam sozinhas, então o novinho logo arranjou um emprego, ainda mais depois que a mãe perdeu o movimento das pernas.

- Confia em mim, coroa. Eu vou dar um jeito! – ele garantiu, apesar de ter só 18. – Prometo que cuido da gente!

Mesmo trabalhando de segunda a sábado, neguinho encontrava tempo pro seu lazer favorito: não fazer nada, só olhar o céu e apreciar o paraíso natural que a natureza do Complexo do Céu na Terra era capaz de oferecer. Uma favela tão grande, um conjunto de comunidades tão imenso, que as colinas conseguiam se arrastar desde o meio do subúrbio carioca até quase os pés da Bahia de Guanabara, na área central da cidade do Rio de Janeiro. E é esse detalhe crucial, o do tamanho das favelas, que torna possível suas encostas banhadas por céu e mar. Ou seja, Bezinho tinha total razão em passar horas seguidas sentado na rocha lateral do morro ou então no alto da laje do barraco, só admirando o pôr do sol e fumando um baseadinho fino, pra relaxar o estresse dos dias corridos de muito trabalho. Quem poderia culpar um moleque magro, bobinho e trabalhador, que só queria relaxar sob um suburbano crepúsculo carioca?

- Coé, neguinho? Tá aí? – a voz rápida e sussurrada quase passou despercebida no beco.

Viajando nos próprios pensamentos, o jovem Abner esticou o corpo, olhou pro lado de fora da pequena propriedade e viu o melhor amigo lá embaixo, acenando e meio que se escondendo.

- Sou eu. Posso subir?

- Claro que pode, seu puto! Demorou, porra!

A razão da conversa em volume baixo era a mãe do novinho não descobrir que eles estavam em cima da laje fumando maconha, porque, mesmo entendendo que aquele era o alívio do filho, ela não gostava de vê-lo dopado. Coisa de mãe. Talvez fosse o medo do filhote se envolver na bandidagem, mas isso, de acordo com Bezinho, jamais aconteceria, sendo ele tão trabalhador, guerreiro e dedicado a sustentar o próprio lar.

- Eu fui lá na outra boca pegar haxixe pra gente.

- Hax? Tu foi lá no Éden pegar isso, Lelé?! – fez cara de surpreso. – Já pensou na merda que ia dar se vissem você passando de uma favela pra outra com isso?

- Ah, coé, neguinho!? Tu não deu o papo que queria fumar um baseadinho com haxixe? – de pé do lado do amigo sentado na laje de cimento, Lelé deu um sorriso, tomou o baseado dos lábios do colega e botou na própria boca, babado mesmo. – Fui lá nessa missão pra gente, meu cria! Agradece depois, bora fumar primeiro. Heheheheh!

Com o corpo menos magro que o de Bezinho, a pele mais clara, mas ainda pardo, Lelé era todo falante e animado, combinando com o sorrisão brilhante que tava sempre ostentando no rosto. Além das covinhas marcantes, outra marca registrada do cafuçu eram os óculos na cara e também o cabelo enroladinho, quase sempre com as pontas descoloridas em loiro. Não existia ninguém em qualquer uma das cinco favelas do Complexo do Céu na Terra que não conhecesse o Lelé: ele era o filho único do primeiro chefe da facção que assumiu o Morro do Paraíso, logo no início dos piores anos da guerra do tráfico. Melhores amigos, ele e Abner passavam quase todos os fins de tarde juntos, fumando em harmonia e vendo o laranja do céu se transformar no mais maravilhoso lilás, cor de safira, por conta dos anoiteceres do tempo de verão se aproximando. Dias mais longos, tardes duradouras, que nunca terminam, e noites quentes, três fenômenos naturais que sempre rodearam o Paraíso, talvez por isso o nome da comunidade.

            O segundo prazer e hobby favorito de Bezinho era a observação. O moleque magrelo gostava de observar o mundo, se encantando e também se assustando com muitas coisas que via no cotidiano. Pessoas sendo presas, morrendo, nascendo, sendo soltas, casando, divorciando, criando pernas ou... as perdendo. Ele via de tudo ao seu redor, incluindo o cenário às vezes caótico do morro que o rodeava, no qual sempre estava inserido. Uma das cenas que deixava o coração do jovem Abner saltando dentro do peito, por exemplo, era quando ele ia na boca de fumo comprar maconha pra fumar e quem tava por lá era o Matão da Caixa Alta. Esse cara virou gerente da boca de fumo depois que o pai de Lelé morreu, se tornando o chefe da facção durante muitos anos, numa gestão que ficou marcada pela desaprovação total dos moradores – principalmente por conta das extensivas cobranças que o marginal fazia, além de quase sempre falhar em proteger a favela nas operações policiais, resultando em inúmeras mortes.

- Coé, magrelo. Vai querer o que?

Toda vez que o jovem Abner chegava na boca de fumo, dava de cara com o Matão e escutava a voz grossa perguntando o que ia querer, ele se sentia mal. Não por saber quem o Caixa Alta era e o quão perverso ele poderia ser, mas por ter que se controlar pra não acabar olhando pra mulher do cara. Ou pro cara? Era difícil dizer qual dos dois era mais instigante de olhar, essa era uma verdade. A morena tinha marquinha de sol, os seios fartos e a cintura sinuosa, do jeito que Bezinho gostava. Ao mesmo tempo, além de arrogante, Matão era alto, malhado, meio definido, só andava sem blusa e tinha o corpão tatuado, com pelos em posições estratégicas pra quem observa. Por isso as pernas do molecote se tremiam quando ele parava na frente da mesa da maconha e pensava no que responder ao dono da boca.

- Desembucha, fedelho! Antes que eu desista de vender pra você. Hehehehee! – o gerente da biqueira gargalhou alto, mostrando os dentes de ouro e alisando a barbicha. – Escolhe, porra! Vai querer o que?

- Eu quero...

- Acabou o tempo, pirralho! – arrogante que só ele, Caixa Alta amassou o dinheiro na mão, enfiou no bolso e parou de rir. – Rala, hoje não tem baseado pra tu!

Nervoso e sentindo que os olhos iam se encher de água, Abner achou melhor dar meia volta e sair dali, pelo menos os caras da boca não veriam suas lágrimas e não tornariam o momento pior. Porém, ao virar o corpo pra sair, Bezinho escutou a voz familiar vindo do fim do beco, tão atrevida quanto à do Matão da Caixa Alta.

- Tá maluco de não vender droga pro cara?! Ele é morador, quem tu pensa que é?!

Lelé pisou fundo, em passos largos, parou na frente do gerente e fechou a cara. Mesmo tendo só 18 anos, ele não se abalou e ficou ali, fazendo frente em nome do melhor amigo, até porque, ninguém em sã consciência era louco ou corajoso o suficiente pra desafiar publicamente o herdeiro primogênito e legítimo de todo o Complexo do Céu na Terra.

- Eu tenho total direito de não vender droga pra uma criança, seu moleque!

- Criança porra nenhuma, o Bezinho já fez dezoitão, seu bosta! Se não vai vender pra ele, então devolve a grana do moleque. Isso é roubo, aqui dentro ninguém rouba ninguém, é todo mundo morador!

O momento de tensão durou poucos segundos. Muito contrariado, o gerente da boca enfiou a mão no bolso, pegou as notas e jogou no chão, com raiva, obrigando os novinhos a catarem tudo, que foi o que eles fizeram. Depois que saíram dali, Abner agradeceu pela atitude do melhor amigo, mas a coisa não acabou por aí.

- Não me agradece agora, a gente ainda tem muito pela frente! Heheeheh! – Lelé esfregou as mãos, desviou o caminho usual da laje do barraco e foi aí que Abner logo soube que ele tinha algo em mente. – É melhor tu me agradecer mais tarde, moleque!

No fim daquela tarde, em segredo, a dupla de amigos inseparáveis entrou no barraco do Matão da Caixa Alta sem ninguém ver e roubou um monte de calcinhas da mulher dele, como se fosse aquela típica traquinagem de moleques jovens e cheios de tesão. Não tinha ninguém na viela, então a ação foi bem rápida e nada maquinada, porém bem efetiva. No meio da agitação, Bezinho se sentiu mal, não pelo que fez, mas por ter passado por aquela situação de humilhação diante do Caixa Alta na biqueira e ainda assim ter roubado uma cueca usada do traficante, enquanto Lelé não estava olhando. Depois do furto, eles finalmente retornaram pra laje onde passavam os fins de tarde fumando, e aí se acabaram em punheta, fissurados no cheiro da buceta da mulher do bandido. (Mesmo o Abner Pequeno do presente, aquele que estava completando 28 anos, poderia dizer por ele mesmo a sensação inexplicável que teve quando viu a rola do melhor amigo pela primeira vez na vida: toda escura, veiúda, com a cabeça rosada bem solta do corpo longo.)

- Que foi, moleque?! Gostou? Hahahahaha! – o próprio Lelé percebeu o melhor amigo olhando e achou graça. – Nunca tinha visto pau, não? Hheehhe!

Faltou fôlego, faltou resposta, faltou disfarçar, faltou simplesmente tudo naquele momento. Foi quase como se, mesmo sabendo que era humano, só agora o jovem Abner conseguisse sentir explicitamente o coração batendo forte no peito, vivo, fogoso, incandescente e caloroso. Tão forte quanto a sensação acalentada do verão carioca, eterno e suburbano.

- Foi mal, é que... – neguinho tentou contornar a situação. – É a primeira vez que eu fico pelado perto de outro cara.

- Relaxa, meu cria! Tamo entre amigo, pô. Tá de boa...

Um tocando punheta e o outro olhando, lado a lado, ambos encostados na mesma parede de cimento, enquanto o sol se punha no fim do horizonte, entre as colinas e o oceano. Não havia como negar, aquele era mesmo o Morro do Paraíso, localizado bem mais perto do céu do que a Favela do Éden, que era situada mais aos pés da montanha. Apesar de toda a tranquilidade e o deleite paradisíaco e sexual daqueles momentos, nenhum deles sabia ainda que o inferno residia bem próximo do paraíso.

            Cheirar as roupas íntimas do Matão da Caixa Alta e de sua mulher mexeu um pouco com o corpo e também com a mente acuada e franzina do moleque Bezinho. Primeiro que ele se descobriu potencialmente bissexual. Segundo que também descobriu um tesão latente por aquela morena. O terceiro fator, porém, foi o que modificou ABSOLUTAMENTE a vida de Abner. Perto do aniversário de 22 anos de idade, ele e Lelé, agora bem mais adultos, foram comemorar numa boate da Zona Sul, cientes de que aquele lugar era muito badalado pela galera jovem do Complexo. No auge da bebida, da diversão e também da droga, Bezinho avistou a morena sozinha com as amigas. Ela mesma, a mulher do Matão, toda produzida, carismática e longe do marido. O mavambo nem pensou duas vezes, parou de dançar, se aproximou daquela pessoa e ela logo o reconheceu.

- Quanto tempo! Quem diria, ein?

- Você vem sempre aqui? HJahahaha! – ele não escondeu o jeito de bobão de sempre, apesar de estar cada vez mais sagaz e dedicado aos treinos de capoeira.

- Só quando eu quero me livrar do chato do meu marido, Abner.

- E por acaso você já se livrou do chato do seu marido hoje?

- Sabe que não? Hihihihih...

Eles riram, conversaram, beberam por um tempo, tudo isso sem o Lelé ter se dado conta do clima que tava rolando, até porque, ele mesmo foi se agarrar com uma mulher do lado de fora da boate. Bezinho e a moça terminaram a noite num quarto de motel, fazendo aquilo que ele sempre quis fazer junto dela, desde que tinha seus 17 pra 18 anos e o saco pesou: sexo. A noite foi maravilhosa, com vários orgasmos e gozadas seguidas, mas antes do amanhecer, o quarto ficou vazio. Quando o moleque inocente acordou e olhou pra frente, viu somente uma cadeira de costas pra cama, com o brutamontes do Matão sentado e o observando dormir.

- A madrugada foi boa, né, pivete!?

Sádico, o marginal riu e mostrou todos os dentes brilhantes que possuía. Estava sem blusa, como sempre, com o peitoral e o tórax de fora, tatuados. A bermuda jeans surrada e toda suja do plantão na boca de fumo, chinelos nos pés e com a pistola na cintura.

- O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI!? – assustado, Bezinho tentou aumentar o tom de voz, mas o traficante foi logo o advertindo.

- Shhh! Melhor ficar caladinho, moleque. Vamo resolver isso de um jeito tranquilo e sem dor, já é? Até porque, o corno aqui sou eu, né não? Fala tu?

- Foi sem querer, eu juro! Eu tava... Sei lá, bêbado, não pensei!

- Shhhh! Já mandei tu ficar caladinho, filho da puta! Tá querendo morrer?!

Caixa Alta finalmente levantou e ficou de pé no quarto, revelando seu tamanho enorme diante daquela cama toda desarrumada. Estalou os dedos das mãos fechadas, se aproximou da beira do colchão e destravou o pescoço, demonstrando o quanto queria enforcar aquele pivete ali mesmo. Cheirar as roupas íntimas do Matão e de sua mulher, como dito anteriormente, mexeram um pouco com o corpo e também com a mente acuada e franzina do moleque Bezinho. O terceiro fator, aquele que modificou ABSOLUTAMENTE a vida de Abner, foi o que deu coragem suficiente pra fazer o que ele fez naquele momento, quando viu o troglodita da boca de fumo o cercando contra o encosto da cama de casal. Nego levantou a mão, colocou no meio do peitoral do bandido e respirou fundo, sentindo o cheiro do suor caindo em cima de si. Em seguida, deixou os dedos deslizarem e desfrutou da textura dos pelos suados do traficante acariciando sua pele.

- Ué, tu me fez de corno e agora tá me alisando, seu viadinho?!

Matão não teve resposta, só sentiu a mão de Abner descendo até o volume do caralho na bermuda e o patolando de leve, como se quisesse saber o quanto suas bolas pesavam. Um moleque prestes a morrer, aproveitando pra fazer o que sempre teve curiosidade de fazer. Corpudo, tatuado, pardo, dos braços musculosos e com cara de ruim, Caixa Alta não acreditou naquela reviravolta acontecendo.

- Tu curte uma pica, é, moleque?! Tá me gastando!?

Sedento, Bezinho fez que sim com a cabeça, segurou a mão do marginal contra seu rosto e voltou a acaricia-lo no pacote de calabresa volumosa no jeans. Grande que só ele, o dono da boca se jogou na cama e permitiu que o fogo do ódio virasse o da vingança carnal, resultando numa coça sexual pra deixar Abner com o cuzinho ardendo, piscando pela perda do cabaço. A primeira vez que deu a bunda foi justamente pro traste que tanto implicava com ele, o chefe do Morro do Paraíso naquela época passada, isso depois de ter trepado com a mulher do cara. Querendo ou não, aquela era uma sensação de satisfação, depois que toda a tensão passou. Afinal de contas, nego fez o que ele sempre quis fazer junto do Caixa Alta, desde que descobriu que seus hormônios eram suscetíveis à cara de mau daquele marginal: putaria.

- Vai aonde, pirralho? Deixei tu sair?

Depois da foda, Matão viu um Bezinho sorridente levantando e se vestindo, completamente mudo. Uma vez vestido, Abner olhou pra cama e viu o macho alfa descansado, deitado e muito à vontade, com as bolas cansadas esparramadas de lado. Sentiu o cu cheio de leite, assado, com manchas de sangue e as pregas ardendo em fogo, mediante à pressa e o ódio com os quais Caixa Alta rompera seu lombo.

- Volta pra cá, volta? Tô doido pra te arregaçar sem pena de novo, sua bichinha. Quem diria que um negão desses vira uma florzinha na cama, ein? HAHAAHAHAHAHA!

O tal do pirralho, agora com 22 anos, também soltou uma gargalhada dentro do quarto, em seguida movimentou a mão e fez um ruído único dentro do cômodo: o som do cão da pistola sendo puxado. Ao ouvir isso, Matão parou de achar graça e olhou pra frente, completamente sério, vendo Abner apontando a arma pra si e preparando os dedos no gatilho.

- TÁ MALUCO, VIADO!?

- Maluco é o caralho, seu merda! Tu entrou aqui pra me matar, não foi?!

- E é o que eu vou fazer contigo e com o peso morto da tua mãe se tu não abaixar essa por-

- “BUUM!” – o barulho só não foi maior, por conta do silenciador no cano da arma.

Um buraco enorme foi aberto, exatamente no meio, no centro do peito, bem do lado do coração, fazendo sangue quente jorrar por cima da cama quase toda. Parado Caixa Alta estava, parado Caixa Alta permaneceu, com os olhos arregalados, a cara ficando branca e o suor frio escorrendo. Dava pra ver a fumaça saindo da cratera perfurada em seu tórax, de tanto fogo e ódio liberado pelo disparo.

- Tu... – a voz quase não saiu, com sangue vazando até pela boca. – ... Não tem... pena!?

- Pena eu tenho da minha mãe, que quer andar e não pode. De você eu tenho é... Dó?

A visão também escorreu, como se fosse líquida, e se foi junto com o plasma descendo no buraco aberto no peito. Tonto e assado, um desnorteado e arrependido Bezinho já estava chegando de volta à favela quando a polícia entrou no quarto do motel e encontrou o corpo morto de Donaldo Pires Bronco, o famoso Matão da Caixa Alta, foragido e procurado há mais de dez anos pela polícia do Rio de Janeiro. Assim teve fim o truculento domínio do marginal no Morro do Paraíso.

Cheirar as roupas íntimas do Matão da Caixa Alta e de sua mulher mexeu um pouco com o corpo e também com a mente acuada e franzina do moleque Bezinho, como já se sabe. Ele se descobriu bissexual, transou com a morena, com o marido dela e, por fim, matou o cara. A vida nunca mais foi a mesma, começando pela mente arrependida do que fez, mas ao mesmo tempo tentando entender a vingança como necessária. O malandro até fingiu que poderia levar as coisas na quietude, mas não aguentou por muito tempo. Na madrugada seguinte, quando toda a favela estava em festa e comemorando a notícia da morte do Matão, Bezinho subiu pra laje e tentou fugir do cheiro de churrasco rolando solto pelas ruelas. Pagode, funk, forró, tudo misturado, afinal de contas, ninguém gostava do Caixa Alta. A própria viúva não se chamava de viúva, se chamava de ex mulher, e tava lá, bebendo, sambando, dançando à vontade na festa que os moradores fizeram. Sozinho na laje, Abner olhou pras mãos trêmulas, lembrou da sensação do disparo e sentiu o peso da arma, assim como o barulho e a quentura do fogo da pólvora.

- Psit!?

A arma do crime, da qual ele fora incapaz de se livrar, estava em suas mãos.

- Psit?! Bezinho!?

Abner ouviu o barulho, mas não teve muita força pra reagir. Em poucos minutos, Lelé subiu o muro e apareceu do seu lado, todo arrumado e com um boné dourado na cabeça, escondendo os fios loiros. O cheiro do perfume fez o neguinho se animar, mas mesmo assim ele continuou cabisbaixo, não fazendo qualquer questão de esconder a arma nas mãos.

- Bezinho, tu... Bezinho? – o amigo insistiu.

Foi quando Lelé abaixou o corpo, viu a pistola, raciocinou por alguns instantes e pensou no significado daquilo. Lembrou da notícia que tinha que dar a Abner, mas se perguntou se ele de repente já não sabia do ocorrido. Mais do que isso, Lelé se questionou se não foi o próprio colega o causador do ocorrido em si.

- Abner... Você... ? Você fez... ?

Sem pensar duas vezes, o novinho só assentiu, fazendo que sim com a cabeça e começando a chorar. Lelé sentou e botou o ombro na testa do amigo, deixando-o desabafar em seu peitoral. Apoiou a mão em suas costas, deu um abraço e eles ficaram um bom tempo aninhados, sentindo a passagem do tempo, os anos se tornando mais rígidos e as consequências dos atos pesando cada vez mais na vida.

- Bezinho... Eu vim aqui te falar que... Agora que o Caixa Alta caiu, tu consegue imaginar quem eles querem que assuma o comando, né?

Nem precisava de resposta. O mavambo olhou pra cima, encarou o melhor amigo nos olhos e não soube exatamente o que dizer. Quem, senão o herdeiro direto do ex dono do Complexo, pra ser o novo dono do Morro do Paraíso?  Aquele que era o mais querido por todos, o mais carismático, o mais conhecido.

- Você... Vai ser o novo dono do morro? – Abner perguntou, curioso.

- Vou. E vim perguntar se tu quer assumir comigo. Tipo, nós dois... Eu e tu, tá ligado?

Segundos de pensamentos e tensões, muitas tensões. Debaixo do céu cor de safira, muitas coisas eram decididas em instantes preciosos, acompanhados da nostalgia do verão passando e do cheiro do churrasco acontecendo em cada uma daquelas vielas ao redor da laje torta.

- Eu... Prometi pra minha mãe que não ia fazer isso, tá ligado, Lelé? Mas... Eu prometo que vou cuidar de tu, tá bom, mano? Que nem eu cuido dela.

Choros, sorrisos, lágrimas, abraços. O fim de uma era e o começo de outra para a dupla inseparável de amigos. Assim como antes, nenhum deles sabia exatamente o que os esperava a partir dali, só sabiam que a vida adulta era mais difícil do que parecia. Muito mais difícil do que sempre pareceu.

BEZINHO: A ERA DE PRATA

Conforme as semanas passaram, Abner foi tendo a certeza de que a melhor coisa a se fazer era se livrar daquela arma o quanto antes. Graças ao fato das câmeras de segurança do motel estarem quebradas no dia do ocorrido, as investigações sobre a morte do Matão da Caixa Alta quase não avançaram e a polícia trabalhava com duas hipóteses distantes da realidade: execução a mando da facção rival e crime passional, por conta da enorme quantidade de amantes, mulheres e prostitutas que o marginal financiava. Descobriram até um esquema no qual ele agenciava modelos e trabalhava como mediador e cafetão pra elas, facilitando os programas das mulheres e ganhando uma porcentagem do valor que elas faziam. Quanto mais notícias saíam na mídia a respeito das investigações, mais Abner tentava se convencer de que dar um fim ao Matão foi a melhor atitude. No entanto, ao mesmo tempo ele se culpava, porque, querendo ou não, foi graças à morte do Caixa Alta que Lelé acabou se tornando o novo dono do Morro do Paraíso. Em outras palavras, seu melhor amigo foi automaticamente recrutado pra vida do crime que o próprio Bezinho prometeu à mãe não se juntar. Ao mesmo tempo em que todas essas coisas aconteciam, a coroa adoeceu e isso fez Abner trabalhar o triplo do normal pra pagar o tratamento dela. Quando finalmente juntou o dinheiro pra comprar um dos remédios principais pra tratar a mãe, o pivetão foi assaltado na porta da farmácia. Tomado em fúria, ele não desistiu e tratou de correr atrás do trombadinha que o roubou.

- VOLTA AQUI, ARROMBADO! ESSE DINHEIRO É MEU, SEU BANDIDINHO DO CARALHO! ALGUÉM PARA ESSE DESGRAÇADO AÍ, PORRA!

Atlético e cada vez mais forte devido à capoeira, Bezinho pulou e desviou de muitos obstáculos, cortou caminho por uma rua do Centro, onde trabalhava, e deu de cara com a polícia. Atrás da viatura, o pivete com seu dinheiro passou voado, mas os agentes não viram, viram apenas Abner correndo afobado e gritando.

- PEGA ELE ALI, Ó! LÁ TRÁS, POLÍCIA, LÁ TRÁS!

Apontou, se esgoelou, mas não adiantou de nada, os caras não ouviram. Pelo contrário, o mundo pode ser uma tormenta sem fim, um inferno inimaginável. Pior do que ser assaltado e perder três meses de salário na porta da farmácia é fazer parte de um país com passado escravocrata e instituições corrompidas pelo racismo estrutural, Bezinho entendia isso na pele. Os policiais renderam Abner e tentaram algemá-lo, dizendo que ele tinha que se acalmar e dar explicações do porquê estava correndo tão nervoso. Sim, dar explicações algemado. Um dos agentes, inclusive, tentou segurá-lo pelo pescoço e isso despertou muitos gatilhos na mente do negão. Foi aí que ele instintivamente se lembrou de um fato muito simples: era capoeirista sagaz, indomável por natureza.

- Nem fodendo que eu vou com vocês!

Antes que qualquer um dos PMs pudesse pegar uma arma, Abner derrubou o primeiro, bandou o segundo e deu uma cabeçada no terceiro, tudo isso com muita ginga e uma das mãos presas na algema. Depois ele correu pra um beco lateral, desses cheios de lojas no Centro do Rio, desviou por trás do Sambódromo e escondeu as mãos nos bolsos da calça, na tentativa de disfarçar a algema. Entrou no primeiro ônibus que viu, pagou a passagem e, com o coração acelerado, teve que descer no Aterro do Flamengo, bem longe de casa. No fim da noite, depois de pegar outra condução e se livrar da algema presa no pulso, eis que Bezinho finalmente sentou na laje do barraco, exausto, respirou fundo e encarou o céu negro e azulado da noite quente. Sem dinheiro pro remédio da mãe e nem pro baseadinho de sempre, agora era só ele e a tristeza suburbana da falta de grana. Até que...

- Psiu! Coé, maluco? Tá aí?

Lelé apareceu na hora certa, como sempre. Subiu na laje, levou maconha e eles fumaram, deixando o melhor amigo finalmente relaxado da pressão do dia a dia. Depois da breve conversa que tiveram, eis que novamente o novo dono do morro insistiu no pedido que fez anteriormente.

- E aí, como é que tá a vida de novo gerente do Paraíso?

- Tá tudo suave, Bezinho. Geral do Complexo me conhece, conheceu meu pai. Ninguém quer arrumar guerra comigo, sabe qual é? E tá dando um lucro, só saber mexer com dinheiro... – parou, viu o rosto do colega admirando o escuro das janelas do universo e fez a pergunta pela segunda vez na vida. – Tem certeza que tu não quer assumir isso tudo junto comigo, meu cria?

Uma pequena pausa e o assunto prosseguiu.

- Tenho, Lelé. Não posso. Prometi pra minha mãe que não ia cair nisso, tá ligado? E eu tenho que pagar o tratamento dela.

Por hora, paciência, dinheiro e fumar um baseadinho antes de dormir eram as únicas coisas das quais Abner precisava naquela noite incomum. Mas talvez não fosse a noite, talvez fosse a vida mesmo, que não era fácil, além de ficar muito confusa às vezes.

Quanto mais o garotão se empenhava em alcançar seus objetivos, mais as circunstâncias pareciam não contribuir pra isso. Após o roubo do dinheiro que era pra comprar o remédio da mãe, Bezinho foi demitido do emprego, sob a alegação de que o patrão queria reduzir os custos da empresa. A falta de trabalho foi o começo de um período terrível em sua vida: a crise econômica assolou o nego por mais de dois meses, fazendo ele se perguntar por diversas vezes se não era melhor se juntar a Lelé e pagar o quanto antes pelo tratamento da mãe. Sem saídas e com a cabeça quente, Abner passou a vender balas e doces nos sinais do Centro da cidade, porém foi perseguido pela guarda municipal, perdeu mercadoria e apanhou duas vezes, mesmo tendo mostrado as notas fiscais de tudo que comprou e vendeu. Voltou pro Morro do Paraíso puto, resistiu que nem pedra e tentou de novo. Dessa vez, ele arranjou uma bicicleta velha, virou entregador de aplicativo e se descobriu o mais rápido dentre todos. Também descobriu que era capaz de estilhaçar a testa de outro homem no chão de um condomínio de luxo, quando foi chamado de “babuíno sujo” por um cliente playboyzinho e o sangue ferveu nas veias. Consequência: Bezinho foi processado e perdeu o pouco dinheiro que havia juntado. Porém o estrago principal já havia sido feito: sua cabeça não estava mais no mesmo lugar onde costumava ficar. A forma de ver, de processar, de responder e encarar o mundo, tudo isso começou a sair dos eixos morais e éticos do cria do Paraíso.

Em sua terceira tentativa de fazer a diferença, Abner trabalhou na chapa de um podrão na própria comunidade onde morava. No começo até deu certo, mas no fim do segundo mês, quando ele finalmente reuniu o dinheiro necessário para o tratamento das pernas da mãe, um fato inimaginável o atropelou: uma metástase nos rins da coroa, já se espalhando pela coluna e paralisando o corpo da mulher cada vez mais rápido. Após a descoberta do câncer, eles mal tiveram tempo de se preparar para o que viria a seguir, porque um processo complexo como a metástase não espera.

- “Quando isso acontecer, Abner... Quando eu for... Você se cuida, tá, meu filho? Vê se não chega muito tarde em casa, se come direito. Dorme mais, fuma menos desse negócio. Toma muito cuidado com os seus caminhos. Eu tô sempre contigo, tá bom?”

A reviravolta principal de Abner talvez tenha sido nesse dia, no momento do enterro de sua mãe. Ver o caixão sendo colocado debaixo da terra mexeu com sua cabeça, foi quase como se todas as expectativas tivessem sido enterradas junto com ela. Coincidentemente, esse dia e essa cena também representaram o começo da era de prata do próprio Morro do Paraíso, servindo como exemplo perfeito para mostrar em qual momento histórico a favela se encontrava. Afinal de contas, abraçado a Bezinho e disfarçado no meio de todas aquelas pessoas, estava o único que nunca saiu do lado do melhor amigo. Lelé, atual dono do Morro do Paraíso, tava ali por ele, todo de preto, óculos escuros, prestando condolências e sendo o que sempre foi para aquele homem perdido no choro. Um traficante chefe de boca de fumo, disfarçado num enterro, consolando o amigo, e talvez nenhuma força policial tenha ficado sabendo disso. No fim da tarde, eles retornaram pro morro, em silêncio, com Lelé respeitando o espaço e o tempo de Abner. Sem tirarem as roupas formais e escuras, subiram na laje e ficaram de pé, vendo o sol se pôr e a noite cobrir a divisa da favela com o horizonte infinito.

- .... – só a pausa entre eles.

Um encostado no muro, o outro de costas, mirado no sentido poente. Daqueles preciosos momentos em que o silêncio entrega tudo que as pessoas estão dizendo, berrando, gritando em suas mentes. Um momento de mentes se cumprimentando, se encontrando. Quando Lelé pensou em dar o primeiro passo, Bezinho finalmente deu as primeiras palavras.

- Quando a gente começa, Leonardo? – os olhos cheios d’água, a voz embargada de emoção. – Só me diz... Quando?

Outra pausa brusca.

- ... Abner... Tem certeza disso, cria? Ainda dá pra escolher...

- Eu tenho que fazer alguma parada com tudo isso que eu tô sentindo, não tenho?

Eles já eram adultos há muito tempo. A vida só foi feita de certezas, até então. Silêncio. Não precisava de respostas, só do cenário escurecendo e os dois à penumbra da noite profunda do subúrbio quente. A morte da mãe representou o começo de um novo período da vida de Bezinho: o de parceiro e braço direito do dono do Paraíso.

A “nova antiga” dupla inseparável: Lelé e Pequeno, conhecidos de cabo a rabo no Complexo do Céu na Terra. Apesar da posição que passou a ocupar no comando da favela, Abner levou longos meses até se ver velado da presença da mãe em seu cotidiano. Nesse aspecto, seu melhor amigo foi o principal agente a ajuda-lo e apoiá-lo no processo de luto, sempre estendendo o ombro ou o copo quando era preciso. As semanas foram passando, o contato entre eles se tornou diário e as novas rotinas da vida de “administrador clandestino e marginal” do morro foram tomando conta da mente de Bezinho. Detalhe importante: acostumá-lo com a ideia de que era “bandido” foi uma tarefa BASTANTE difícil para Lelé.

- Para de babaquice, Abner! Tu tá ligado que isso daqui é pra tua segurança, não tá?! – o dono do Paraíso insistiu, fazendo de tudo pra vestir o colete à prova de balas no corpo do colega. – Quero tu vivo, cria! Já pensou!? Melhor nem pensar, né? Então anda com essa porra e veste logo isso!

- Já te dei o papo que eu não vou trocar tiro com ninguém, Lelé! Que insistência do caralho, ein, doidão!? Porra!

- Não é papo de trocar tiro, é papo de precaução, ô arrombado! Cala a boca e me ajuda a vestir essa porra!

Problema mesmo foi quando, mantendo o argumento da proteção, Lelé pegou uma pistola e colocou pendurada na cintura exposta de Bezinho, deixando o negão ainda mais nervoso do que já estava com o colete.

- Tu tá maluco, Leonardo!? Já falei que não vou andar com nada disso, doidão! Só tô entrando nessa parada porque prometi que ia cuidar de tu, caralho!

- Se tu quer cuidar de mim, então tem que ter condição e ferramenta pra isso, né não, cria?! Fala tu?! – carismático como sempre, Lelé passou a mão no rosto bruto do melhor amigo e deu um beijo fraterno na bochecha fina. – Agora sim tu tá nos trinques pra andar comigo! Hehehehehe! Pai tá um nojo, fala?!

Colocou a arma na cintura dele, subiu na moto e chamou Abner apenas com um movimento de cabeça, sorrindo e mostrando a icônica covinha. Ninguém, nenhuma outra pessoa em toda a extensão do Complexo do Céu na Terra conseguia fazer dentro da cabeça daquele negão o que Leonardo “Lelé”, o dono do Morro do Paraíso, era capaz de fazer. Ninguém.

- Brota na garupa do pai, vem, Bezinho! – ele chamou, ciente de que não tinha como ouvir não do amigo de sempre. – Bora! Confia no pai, cria. Só vem!

Armado e de colete, Abner até tentou, mas não conseguiu conter o riso natural que floresceu em seu rosto assustado, um tanto quanto admirado. Era o fim de tarde ideal na favela, perfeito pra andar de moto pra cima e pra baixo pelas ruas e vielas, montado na garupa de alguém que ele admirava, respeitava e de quem gostava bastante. Os vários anos da era de prata da dupla inseparável de amigos traficantes foi assim, cuidando da comunidade, fumando, fazendo tudo sempre juntos. O divertido era vê-los gerenciando os negócios da boca de fumo e ao mesmo tempo realizando outras tarefas comuns, tipo jogando bola, competindo em algum fliperama da favela, tomando cerveja, organizando churrasco, banho de piscina e tudo mais. Além dos prazeres, Abner e Leonardo se dedicaram ao sério: em poucos anos, eles providenciaram obras de infraestrutura da favela, melhoraram a situação do saneamento básico dos moradores e fundaram até uma associação, para que o povo pudesse se organizar e divulgar trabalhos, serviços, eventos, estabelecimentos, rodas de capoeira, de rima, de cinema, de passinho, de tudo.

O excesso de tempo juntos trouxe uma consequência inevitável pra Bezinho. Aos poucos, em cada pequena atividade e tarefa do dia a dia, ele percebeu que estava muito atento a tudo em sua volta, incluindo à presença carismática do melhor amigo, Lelé. Mais do que isso, Abner estava realmente sentindo alguma coisa forte dentro de si, algo que necessariamente se ligava ao dono do Morro do Paraíso e à promessa de sempre o proteger, de sempre cuidar dele. Tava acontecendo um apego, um carinho, um cuidado acima do normal. A princípio, sensações e atitudes que o próprio Bezinho tentou ignorar e fingir que não estavam acontecendo, mas ele fez isso sabendo que poderia enganar todo mundo, exceto a si mesmo. De repente, de uma hora pra outra, sua tarefa preferida passou a ser observar Leonardo em tudo que fazia, e isso requeria estar perto a todo momento, sempre vigilante, atento a qualquer coisa.

- Qual foi, cria? – o próprio gerente da comunidade não se aguentou e perguntou uma vez. – Tá me olhando muito, tô ficando escaldado já. Tá pensando que eu sou alemão? Hehehehe...

O negão não soube onde esconder o rosto, porém se manteve firme, fiel aos seus sentimentos e agora tentando não se sabotar, não se ignorar, mesmo não sabendo exatamente o que fazer.

- Não prometi que ia cuidar de tu? Tô cumprindo, pô! Melhor que eu, só um sistema de câmera de vigilância, meu parceiro! Hehehhe, tô de olho em tudo, tudo, tudo!

Abner reparava tanto em Lelé, que um dia ele sem querer se deu conta de algo fora do comum e um tanto quanto inusitado. Normalmente era ele quem ficava sabendo primeiro de qualquer maluco que quisesse entrar pra boca de fumo do Morro do Paraíso. Mas ali, andando de moto na garupa do dono do morro, estava alguém que Bezinho nunca havia visto antes, um homem com feições totalmente diferentes, inéditas.

- Aí, doidão. Passa um rádio pro Lelé e manda ele encostar agora, que eu quero bater um lero com ele. – Abner avisou ao radinho.

- Tem certeza, Pequeno?

- Eu só tenho certeza, maluco! Passa o rádio aí e vai encostando.

O colega de facção obedeceu, mandou no radinho e em menos de um minuto todos eles estavam encostando as motos numa viela lateral da comunidade, escondidos entre becos bem apertados.

- Qual foi, cria!? – Lelé quis saber. – O que tá pegando?! Deu algum caô?

- Deu, claro que deu!

Sem nem pensar duas vezes, Bezinho, mais forte e com o corpo bem mais desenvolvido, atravessou a mão no ombro do tal homem que estava em dupla com Lelé, cercou ele abruptamente contra o muro da ruela e armou a cara de mau, que só fazia quando estava muito convencido de alguma coisa.

- Quem é tu, doidão!? Da onde que tu veio, que eu nunca vi tu andando por aqui?!

- Bezinho!? Tá doido, mano!? – o dono do morro foi logo tentando dialogar, nervoso por ver seu melhor amigo apontando a arma na direção do vapor. – Ele chegou anteontem, porra, tu não tava aqui!

- Eu tô sempre por aqui e nunca vi os cornos desse puto, Lelé!

De tão acuado, o cara começou a tremer das pernas, tendo que lidar com um negão capoeirista o segurando pela gola da blusa e o mantendo pressionado contra um muro de cimento da comunidade.

- Segura a onda, cria! Todo mundo pra tu é filho da puta. O cara entrou agora, tá só tentando ganhar a vida, que nem tu!

Ser comparado não era a praia de Abner, nunca foi. Diante dessa reação inesperada do melhor amigo, o negão simplesmente tirou as mãos da gola da blusa do vapor, bufou e desfez a pose de imponência. Mas não ficou ali, só virou as costas e começou a ir embora.

- Tu vai aonde, o maluco!? Eu já dei o papo que preciso de tu aqui, Abner! Vai pra onde, porra!?

- Não vou discutir contigo, Lelé.

- Abner?! – ele gritou, mas não teve jeito, o amigo sumiu no fim do beco.

Desistente, o carismático chefe da comunidade pôs a mão no ombro do vapor assustado e tentou consolá-lo brevemente.

- Tá de boa, cria. Ele é estourado assim mesmo, depois dou um papo nele. Fica mec.

Por infortúnio dos caminhos do destino, Leonardo “Lelé” tinha em mente que todo mundo no Complexo do Céu na Terra conhecera seu pai e também o conhecia. Tecnicamente, ele não estava errado. O problema era presumir que esse seria motivo suficiente para que ninguém nunca tentasse nada contra sua integridade física, principalmente ele sendo o atual dono do Morro do Paraíso, historicamente rival da Favela do Éden. Sempre existia alguém tentando alguma coisa naquelas fronteiras. Sempre. E foi por isso que, quando Lelé menos esperou, o vapor que ele defendeu da desconfiança de seu melhor amigo levantou a arma, apontou por trás de sua cabeça e engatilhou o cão da pistola.

- Hoje tu perdeu, paizão! Nem tenta, só perdeu!

- Perdi?! Que isso, irmão!?

- Irmão é o caralho, agora tu vai ter o que tu merece, otário!

- “BUUM!”

Barulho de arma de fogo, vários pássaros assustados, levantando voo das redondezas, e um corpo caindo lentamente no chão. Mais infortúnio do que o próprio destino, somente aquele negão de quase dois metros de altura. Sagaz, esperto e atento a todos os detalhes, esse era Bezinho. O vapor que tentou matar Lelé despencou sem vida no chão, deixando o gerente do tráfico local de olhos arregalados. Do beco lateral, Abner saiu andando tranquilamente, com cara de puto, descendo a mão armada e tentando esconder o revólver quente atrás do próprio corpo.

- Eita, porra! No início tu não queria usar arma, agora já tá com a mira afiada! Salvou minha vida, seu filho da puta! Tá vendo só porque tu não pode sair do meu lado?!

- Sabe o que eu acho? – ele apontou no rosto debochado do colega sorridente. – Que tu tem que tomar vergonha e começar a escolher melhor os teus seguranças, doidão.

Enquanto um ficou rindo, o outro se manteve sério e ambos foram andando juntos na mesma direção, lado a lado, deixando o cadáver do sujeito pra trás, sangrando no chão da viela estreita.

Apesar de estar sempre ao lado do melhor amigo e de protege-lo quase que integralmente, algumas situações começaram a conflitar incessantemente na mente de Abner à medida em que sua relação com Lelé foi se tornando intensa e profunda. Nutrindo um forte sentimento de admiração e também de proteção, Bezinho não conseguia entender, por exemplo, quando seu melhor amigo aparecia envolvido com alguma mulher da comunidade.

- Tu não acha que tá passando muito tempo de bobeira, não, doidão?

- Ah, qual foi, meu cria? Eu passo a maior parte do tempo na boca, tu vive dizendo que eu tenho que dar uma relaxada de vez em quando. – Lelé se explicou. – Agora vai encrencar toda vez que eu for na casa da mina, é?

Essa tensão entre querer proteger e ao mesmo tempo ter Leonardo ao seu lado fez o negão se sentir bastante na corda bamba, ainda sem saber o que fazer com tantas sensações e sentimentos difíceis de carregar dentro do peito. Tudo isso veio à tona numa madrugada de baile, na qual, bêbado, o dono do Paraíso puxou Abner pelo pescoço, deu-lhe um beijo fraterno no rosto e pediu um conselho.

- Coé, cria, eu acho que tô começando a curtir de verdade aquela mina. O que tu acha que eu faço, dá o papo?

- Eu acho que tu tá viajando, doidão!

- De novo isso, cria? Porra, tu não dá um tempo mesmo na implicância, ein? Tá que pariu!

Apesar da noite seguindo sem problemas, Bezinho se viu cada vez mais bêbado e de olhos no melhor amigo, não sabendo lidar com a mistura dessas duas circunstâncias acontecendo ao mesmo tempo.

- A mina cismou que quer foder comigo de novo hoje à noite, mano! E agora?

No momento exato em que o colega apoiou em seu ombro e voltou naquele assunto, a consciência, o ciúme e o porte de arma se perderam na cabeça do negão, fazendo seu sangue ferver.

- Tu vai insistir nesse papo dessa mina, maluco?!

- Qual foi? Não tô te entendendo, Abner. Tu tá com ciúme, é, seu comédia?!

Eles se encararam e, pela primeira vez na vida dos dois, Bezinho encheu o peitoral de ar e se viu rivalizando com aquele que era seu primeiro melhor amigo. Mas o momento durou pouco, logo ele abaixou a cabeça e respirou fundo, se arrependendo da atitude.

- Foi mal, eu tô um pouco bêbado e...

- Acho melhor tu ir pra casa, isso sim! E na boa, melhor se acostumar com a ideia de que logo, logo eu tô casado e tu ainda vai ser o padrinho, tá ligado?

Escutando essa frase e a piadinha em tom de deboche, o negão sentiu o sangue fervendo, junto com todos os outros sentimentos aflorados presentes em seu corpo naquele instante, incluindo o álcool se espalhando por toda a corrente sanguínea. Bezinho fechou os olhos, apertou as mãos e, por um breve momento, quis reagir violenta e impulsivamente, como se dar vários tiros pro alto fosse ajudar a descarregar o turbilhão de emoções que estava sentindo. O ciúme bateu forte, quase como uma avalanche, se misturando com a bebida e resultando na mão trêmula de um Abner hesitante, um Abner errante e ressentido. Um Abner que pôs os dedos no revólver na cintura e parou de se mexer, pensando duas, três, quatro, cinco vezes antes de agir. Tarde demais: Lelé viu a cena e ficou paralisado.

- Por acaso... Tu vai sacar essa arma pra mim, Abner?

Ao ouvirem a pergunta feita pelo dono do morro, quase todos os outros traficantes que estavam ao redor deles sacaram suas armas, tudo ao mesmo tempo, e apontaram na mesma direção: a cabeça de Bezinho. Esse foi um momento crucial, porque ninguém ali imaginou que aquela situação poderia acontecer tão repentinamente, e de uma maneira tão crucial, tão brusca.

- CÊS TÃO MALUCO?! Abaixa essa porra geral! – Lelé deu a ordem em alto e bom tom, totalmente indignado pela reação de defesa dos outros homens. – Anda logo, caralho! Eu tô mandando! Perderam a cabeça?! ABAIXA!

- Mas ele ia sacar a arma pra tu, chef-

- E daí?! Ele é meu irmão, porra! A gente é nascido e criado junto, problema nosso os outros não têm que se meter, escutaram?! Caralho!

Lentamente, um a um foi abaixando a arma, porém nenhum deles saiu da posição de atenção constante. Dificilmente qualquer um daqueles caras se imaginou chegando naquele ponto antes, já que todo mundo por ali sabia que Abner e Lelé eram tipo carne e unha, de tão colados. Mas ainda assim era papel dos seguranças do morro guardar as costas do dono do lugar, por isso todos reagiram.

- Tu deve ser um maluco muito otário pra pensar em apontar a arma pro cara mais gente boa dessa favela, não é, não, seu moleque atrevido?! – um dos traficantes chamou a atenção de Bezinho.

- Deixa ele, porra! – Leonardo insistiu. – Já falei que com ele eu me entendo, não quero ninguém falando merda nenhuma.

Nessa madrugada, pra sair do baile, o dono da boca puxou seu amigo pelo braço e o conduziu até à saída, indo junto com ele pela parte traseira da quadra do morro, tentando não chamar a atenção de mais ninguém. Juntos, Lelé levou um Abner cabisbaixo e bêbado na garupa da moto, até que eles chegaram na mesma laje de sempre. O mesmíssimo templo onde fumavam desde muitos anos, desabafavam sobre a vida, admiravam o entardecer e se comunicavam em silêncio.

- Foi mal, doidão. – o negão tentou dizer. – Eu acho que eu tô um pouco...

- Shh, relaxa, cria. Tu tá ligado que não tem que se explicar pra mim.

- Eu preciso...

- Não, não precisa. Pra mim tu nunca precisou.

O chefe do Paraíso passou o braço pelos ombros do melhor amigo, sentiu a cabeça dele apoiando em seu ombro e eles ficaram lado a lado, virados na mesma direção e se escorando um no outro. Com a mão livre, Lelé alisou a face bruta de Abner e deitou a cabeça do parceiro em seu colo. Carregado de sensações e arrependido do que fez minutos atrás, Abner deixou os olhos cheios d’água liberarem um pouco da tensão, ficando emocionalmente despido na frente do amigo. Eles passaram o resto da madrugada em completo silêncio, só desfrutando da companhia um do outro e da passagem do tempo. Perto de amanhecer, os dois foram pra cama e Bezinho dormiu com as mãos rústicas do colega fazendo carinho em seu cabelo, além do corpo de Leonardo esquentando o seu. Os mesmos dedos que calibravam armas, enrolavam trouxinhas de droga e bolavam baseados, caíram no sono enquanto se perdiam e se encontravam no couro cabeludo de um Abner tentando se entregar cada vez mais, apesar da enorme dificuldade em ser sincero e aberto.

            Essa madrugada representou uma bifurcação na vida de Bezinho: por um lado, ele teve mais abertura com a pessoa que amava; por outro, sua atitude no baile o transformou numa persona non grata, alguém em quem os moradores do Paraíso passaram a não confiar, uma vez que pensaram que ele teria coragem suficiente de levantar a arma para o chefe Lelé. O próprio dono do morro passou a escutar diversos comentários sobre a atitude perigosa de seu melhor amigo para consigo, tendo que virar um defensor de Abner, na esperança de limpar o nome dele da boca do povo. Mas era inútil, nem mesmo o chefe da favela conseguiria diminuir sua própria fama, seu próprio carisma, ao ponto de convencer as outras pessoas de que o que elas viram não foi uma ameaça contra si. A consequência inevitável foi que todo mundo passou a olhar torto e de cara feia para Bezinho, mas ele aceitava aquele comportamento, afinal de contas, reconhecia seu erro mais do que ninguém.

Os meses foram passando, pouca coisa foi melhorando, porém o contato entre os amigos se manteve inabalável, como sempre foi. Até que chegou o aniversário de 26 anos de Leonardo, talvez o dia mais importante do Morro do Paraíso, assim como da relação da dupla inseparável. O evento de comemoração encheu o baile com mais de três mil pessoas ao mesmo tempo, de tão popular que o chefe do morro se tornou. Lelé era tão querido, tão amado, que juntou todas as tribos do Complexo do Céu na Terra em sua festa de aniversário. Tão gente fina, que conseguiu reunir os bandidos, a rapaziada black, a comunidade crente, a galera do samba, os cocotas e o Abner, que nunca tinha dançado na vida e agora era mal visto pelos outros. Por falar no Bezinho, enquanto todo mundo se divertia, dançava e conversava com Lelé, o negão preferiu encher a cara num boteco do lado de fora do baile, pra não se misturar e continuar ouvindo piadinha dos outros traficantes do comando. Foi aí que ele escutou a voz familiar conversando perto dali.

- Menina, não tão sabendo da festa no baile hoje, não? É aniversário do Lelé, mas ele também tá pra anunciar a aposentadoria.

- Aposentadoria, mona? – uma das moças perguntou à amiga.

- É! Ele vai ralar da vida do crime, eu não contei pra vocês?

Abner olhou pro lado e viu a mesma mulher com quem transou antes de matar o primeiro homem na vida. A mesmíssima mulher que desapareceu misteriosamente e só deixou o próprio marido corno dentro do quarto do motel, enquanto Bezinho dormia inocentemente. Quem sabe o que poderia ter acontecido naquele dia se ele não tivesse acordado há tempo? Mais importante do que isso, quem sabe o que aconteceria no presente, assim que ele ouviu a viúva do Caixa Alta dizendo aquelas coisas sobre Lelé? Abner foi tirar satisfação na mesma hora. Entrou no baile a passos largos, localizou o amigo no canto e só o cutucou pelo ombro.

- Ô neguinho, que porra é essa de aposentadoria?! Deu pra cheirar pó agora, é, filha da puta!? – teve que gritar no ouvido do parceiro, de tão alto o funk nas caixas de som próximas. – Tá doidão, ô seu arrombado?!

Com a orelha perto da boca do colega, Lelé fez uma cara de desentendido, reclamou do barulho alto e chamou Bezinho mais pra perto do meio do baile, bem onde estava cheio de gente. Assim que chegaram lá, ele segurou o melhor amigo pelos ombros, deu um empurrãozinho de leve e o pôs a dançar no ritmo da música.

- Tá falando sério, porra?! Eu venho aqui tirar satisfação do bagulho importante e tu me tira pra dançar, doidão?! Puta que pariu!

- Não consigo ouvir, tá mó barulheira! Bota fogo nesse chão, porra!

O chefe da favela pisou no pé do negão de propósito, depois o puxou novamente pelas mãos e tornou a colocá-lo na mesma dança, fazendo passinhos de funk e se divertindo com a cara de perdido. Abner ficou puto, até quis gritar novamente, mas de nada adiantaria. Vendo o parceiro se perdendo de dançar, ele olhou para um lado, olhou pro outro e não soube bem o que fazer. Aí Lelé esbarrou bruto e o puxou, obrigando a dançar. Os movimentos foram saindo aleatoriamente, com os braços de um jeito e o quadril de outro. Aos poucos, a dupla foi entrando na mesma coreografia fácil de funk acelerado, típico carioca, e logo o calor foi crescendo, junto com o suor escorrendo. Pra quem não sabia nada de dança, até que Bezinho seguiu exatamente conforme a música, talvez porque pra ele fosse fácil decorar qualquer coisa referente a Leonardo. O tempo que ficaram dançando foi onde tiveram harmonia e paz, há que se dizer.

Depois que se acabou, Abner ficou ensopado de suor e foi tomar ar do lado de fora da quadra, nem lembrando do que tinha ido fazer do lado de dentro, de tanto que se divertiu. Entre os risos, ele voltou ao bar, pediu mais bebida e não viu a morena de antes, a mesma que conversava com as amigas minutos atrás e que o fez entrar pra tirar satisfação com Lelé. Recobrando a memória, eis que ele decidiu retornar à quadra e procurar seu parceiro, na intenção de tirar a limpo aquela história de antes. A próxima coisa que Bezinho viu assim que entrou no baile foi Leonardo e a viúva do Matão da Caixa Alta se beijando num canto.

- “BUUM, BUUM!”

Todo mundo começou a correr de repente, incluindo a morena que tava se pegando com o dono da boca de fumo. Mesmo os traficantes ali próximos se afastaram e começaram a correr, sem entender o que tinha acontecido e do que se tratavam aqueles tiros. Parado e com a mão pro alto, Abner pensou em disparar o terceiro, mas só aqueles dois já foram suficientes para esvaziar a quadra em menos de um minuto, ficando só ele e Lelé. De costas, o chefe foi virando devagar e caiu na risada.

- HAUHAUAHUHA! Eu sabia que isso ia acontecer, maluco! Puta que pariu, só rindo mesmo. Hehehehehe! Tu gosta, né? É bom pra ver que a galera ainda bota moral na tua atitude, fala tu?

Só a dupla inseparável de amigos no baile funk, que continuou com os efeitos de som e de luz ativados, ou seja, o grave tocando alto e os flashes luminosos se mexendo no ambiente. Havia um curto espaço livre entre os amigos se encarando, um com a mão pro alto, segurando a arma, e o outro rindo. Descontraído e à vontade, Leonardo ignorou a reação violenta do parceiro e foi andando na direção dele.

- Mas tu tem que relaxar, Abner. – falou e o abraçou. – Tem que ficar mais de boa, senão os outros vão ter medo de tu, tá ligado?

Que nem da outra vez, Lelé montou na moto e pôs o amigo na garupa. Mas, diferentemente de antes, agora eles não foram pra laje onde costumavam ficar. O dono do Morro do Paraíso levou seu melhor amigo pra outro lugar da comunidade, uma região responsável por dar nome àquela favela: o topo. Lá no cume da colina que dava vida ao morro, a impressão era a de que eles estavam até mais perto do céu que tanto contemplavam no fim de tarde, junto das estrelas. Dava pra ver todo o Complexo dali, com o ar sendo até mais frio de se respirar.

- Caralho, como é que eu nunca brotei daqui, doidão?!

- Aqui é a área vip da favela, cria. Hehehehe! Não é geral que tá ligado.

Só eles e a luz da lua chegando perto, com a música do baile funk abandonado ainda ecoando próximo dali. No frio, Abner bateu os dentes, tentou se aquecer na própria roupa e ficou vendo o amigo enrolando um baseado.

- Tá com frio?

- Porra, pra caralho! Tu não tá, não?!

- Não. Tô de boa. – olhou pro capoeirista, deu um riso, mostrou a covinha e piscou o olho. – Tando contigo, tô sempre de boa.

Sem pressa, o chefe da boca de fumo tirou a própria jaqueta, colocou ao redor dos ombros do melhor amigo e acendeu o baseado. Deu dois puxões, acomodou o braço em volta do ombro de Bezinho e eles ficaram assim, sentados num banco de cimento. Experiente em observar e saber todos os detalhes em seu parceiro, Abner se distraiu e perdeu os olhos no rosto tranquilo e sereno de Lelé. Leonardo, por sua vez, começou a fumar encarando o amigo, revezando as tragadas com os sorrisos sinceros. E a covinha.

- Tu não perde essa mania de ficar me olhando, ein, cria? Heheheehe...

Mas não teve resposta. E ele nem precisava, na realidade. Lelé colocou a mão na lateral da face bruta do colega de comando, alisou e se aproximou pra dar o beijo fraternal de sempre. Porém não foi no rosto, foi nos lábios experientes do negão. Essa foi a primeira vez na vida que eles se beijaram e sentiram o cheiro, o gosto, o hálito e a temperatura um do outro. Pele, língua, boca, corpos. Os olhares se cruzaram, a dança virou literalmente a mesma e a partir dali eles não se soltaram mais, entrelaçando os corpos, as mentes, e entrando numa intensa sinergia sexual.

- Eu tava há mó tempão querendo fazer isso, fFFF!

- E porque não fez antes, cria? Ficou só na vontade, é? Hmmss!

Pela primeira vez à vontade com seus desejos, Abner se deixou abrir e relaxou completamente ao toque convidativo, quente e doce de Leonardo, que teve todo o cuidado de dar ao momento o tom caloroso que merecia. Com o começo da penetração, os dedos de um atravessaram as costas do outro, os músculos se contraíram e eles se conectaram fisicamente, de um jeito bastante carnal, visceral, intenso. Suor, lambida, beijos, amassos, mão deslizando aqui, dedos passando ali, as pernas cruzadas e os corpos transpirando o mesmo fluído, o mesmo cheiro, exalando a mesma temperatura. Um sentado no colo do outro, subindo e descendo, tendo as coxas puxadas, repuxadas, mexidas, remexidas, o quadril empurrado e o encontro consumado aos poucos, bem lentamente.

- OrrssS! Continua, Leonard! Hmmsss!

- Tá gostoso, cria? AarsSS! – posicionado por baixo, o carismático dono do morro mostrou sua cara deformada de prazer e perguntou no pé do ouvido do parceiro. – Tá do jeito que tu queria, tá? Hmmfff!

- Seu filho da puta, tá é mó gostosinho! OihnnsS!

- Tu já teve assim com alguém antes, Abner? – os lábios do chefe percorreram a pele do pescoço do amigo, os dentes entraram de leve na carne e ambos sentiram o poderoso fogo da mordida, do consumo, da posse. – Arrff, hmmss!

O capoeirista quase se tremeu de nervoso, piscando a carne dos lombos e agasalhando totalmente o membro massudo e comilão de Leonardo. A sintonia das sensações causava a maior das sinestesias em ambos, principalmente com a penetração acontecendo e eles se encarando olho no olho, um por dentro do outro. De ver, de sentir, de ouvir, tudo ao mesmo tempo.

- Ninguém, Leonardo! – Bezinho respondeu. – É a primeira vez que fazem isso comigo assim, seu puto! Continua, vai?! Isso, porra! HmmfSS!

- Assim? SSsS! – e dá-lhe cinturada sincera na traseira.

- Isso, filho da puta! Isso, porra! No bruto, vai?!

A entrega deles foi passionalmente brusca, acontecendo com um encaixe integral entre ambos. Tão integral, que os braços do traficante se envolveram no tronco do parceiro e eles encontraram ainda mais sinergia, transformando a ardência em sensação de prazer. A partir daí, começaram as cavalgadas bem estancadas de um quadril no lombo do outro, com o suor escorrendo em volta e a união dos corpos formando uma ponte, uma conexão de mundos. Aquela era a verdade de Abner: ninguém nunca havia explorado suas ruas e vielas como aquele homem estava fazendo ali, atravessado em seu corpo e vasculhando por todos os seus caminhos, todas as suas moradas. Olhos nos olhos, boca na boca, as mãos e os dedos todos cruzados, e a dança da possessão, do banquete carnal, acontecendo livremente, sem empecilhos.

- Assim, Abner?! OrsssS! Assim, meu cria!? Tô fazendo do jeito que tu gosta, tô? Hmmmfff!

- Isso, Leonardo! Pode comer, doidão! OihnSS!

Dois universos do mesmo Complexo se encontrando, se reconhecendo e descobrindo um novo mundo dentro um do outro. Literalmente. Bem no pico do morro, aquele era o clímax da união entre duas histórias diferentes, de dois homens deitados no sexo, se movimentando em comunhão e produzindo suor, atrito, energia nova. Luz. A dupla inseparável agora se transformava no casal impenetrável, ou ao menos era isso que estavam praticando naquele momento, tentando incansavelmente. Todos os membros dos dois corpos estavam grudados, desde os pés até às cabeças. O mesmo fluído físico, os mesmos pelos das pernas suados e se esfregando, tudo pra intensificar o frenesi do encaixe, a poderosa pressão sinestésica da paixão. Ninguém conseguia ver, mas o topo do Morro do Paraíso estava em chamas, dando a impressão de que se tratava de um vulcão carioca e suburbano, em plena erupção.

- FFff, vou gozar, Abner! SSsS!

- Goza comigo, doidão! Goza junto comigo, Leonardo! HmmfFF!

Aquela até poderia ser a era de prata na história da comunidade do Paraíso, mas certamente, para Abner, era a sua própria era de ouro sendo escrita em sua carne, de tão perdido e ao mesmo tempo encontrado que ele se viu, sentando no colo do único homem que esteve ao seu lado desde sempre, em todos os momentos de sua vida. E vice-versa. Juntos, Bezinho e Lelé fizeram amor. Sim, amor! No meio do caos do subúrbio, que nem uma flor no meio do asfalto bruto, fraturado e incandescente.

- OrrrSSS! Caralho, cria! FFFfF!

- Porra, Leonardo! Hmmmss!

Os corpos abraçados e deslizando no mesmo suor, assim como as pernas suadas e os dois enroscados um no outro. As golfadas de prazer líquido cresceram dentro da carne do negão, enquanto outros jatos de tesão bateram no peito imponente do dono do morro, na maior sincronia e sinergia entre aquelas forças. No fim da noite, Abner tava fazendo o que ele sempre quis fazer junto do parceiro, desde que sentiu o coração cheio de sangue fervente e apaixonado pela primeira vez: amor. Depois disso, eles permaneceram ali aninhados, ainda conectados, encostados no banco de cimento, abraçados e olhando para o alto, admirando o céu. Aquele era, literalmente, o verdadeiro céu do Paraíso.

- Aqui é bonito pra caralho, fala tu?

- Pra caralho, doidão! Literalmente o paraíso, tá ligado? – o capoeirista apontou pro horizonte distante, absoluto e em diferentes tons de escuro. – O que é que eu vejo? É o céu ou o mar, Leonardo? Ou... o Paraíso?

Mas, do pico do Morro do Paraíso, a dupla enxergou nitidamente o mar de nuvens tempestuosas que se aproximava de longe. Eles estavam mais velhos e mais experientes do que antigamente, então tinham um certo tempo pra se preparar pra tudo. Ou pra quase tudo, porque nem todas as coisas eram fáceis de serem previstas.

- Abner, eu tenho que te dar um papo. – um Leonardo sério avisou.

A pausa dos mundos. A meteorologia paradisíaca pareceu perfeita demais. A previsão do tempo agora mostrava um horizonte cheio de nuvens tempestuosas se aproximando.

- Lembra da vez que tu disse que era observador... Que nem uma câmera de vigilância? Então, eu acho que tem umas paradas que a gente não viu chegando, tá ligado? Nem com câmera.

O clima no horizonte do Paraíso ficou diferente de um tal forma, que nem mesmo o observador e atento Bezinho conseguiu prever.

- Eu tô... gostando de uma mina aí. A gente tá se gostando... e eu tô me preparando pra cair fora, tá ligado?

As palavras saíram mais potentes do que os tiros de uma pistola, e olha que de disparo de arma de fogo aqueles dois entendiam muito bem. No fundo do horizonte distante, absoluto e escuro, os raios de luz surgiram como fagulhas, um prelúdio da tempestade vulcânica prestes a acontecer no céu ou no mar do Paraíso. Bezinho sentiu o coração esquentando, assim como sua corrente sanguínea, e logo se lembrou das cenas que viu no baile funk.

- Tu não pode ir embora com essa mulher, não, doidão!

Faltou fôlego pra dizer tudo, quase que as palavras não saíram da boca.

- Por que? Vou morar num sítio, fumar maconha o dia inteiro, tá ligado? Escutar Criolo!

- Vai jogar fora tudo que nós conquistamo junto por causa dessa piranha!?

- Né piranha não, Abner! Minha mulher, mano.

- Mulher é o caralho, essa mina é mó filha da puta!

- Tá vendo aí?! Todo mundo pra tu é filho da puta, mané, por isso que eu tô indo embora! – nervoso, Lelé andou de um lado pro outro, visivelmente incomodado. – Aí, me amarro na tua, não vou entrar em contradição contigo, não, mano. Sou teu amigo pra caralho! Bota na tua cabeça que eu tô indo embora, Abner.

Pausa.

- Gosto de tu pra caralho, Abner, mas não dá mais pra mim, não, parceiro.

Não teve como o momento ser leve. Automaticamente, todas as lembranças dos anos de convivência permearam a ponte entre eles. Na face bruta do negão, as lágrimas começaram a escorrer em peso, o nervosismo foi se espalhando em ondas e, no fundo da mente, ele escutou o barulho das primeiras trovoadas se aproximando no céu, chegando em massas de ar carregadas de energia. O que esperar do verão, afinal de contas?

- Tu não pode fazer isso comigo! Eu só entrei nessa parada de bandidagem porque tu me chamou, agora tu quer sair!? E eu?! E a gente, Leonardo!? E tudo que tamo fazendo aqui, porra!?

Tentando acalmar o parceiro, o dono do morro pôs as mãos no rosto bruto de Abner e falou cara a cara, quase o beijando, de tão perto.

- Bezinho, abraça o papo. Eu tô em outro momento da vida agora, tá ligado? Não quero morrer de repente, quero cuidar da minha família, da minha filha que tá vindo aí, se ligou? Tem um monte de gente competente pra ficar no meu lugar, tu devia era tá feliz por mim, porra! Não era teu sonho, me proteger e me ver fora disso?!

Nada mais fazia sentido na cabeça de Abner. Tudo aquilo que ele havia chamado de chão desde que perdeu a mãe agora estava se desfazendo, não dando qualquer certeza ou estabilidade sobre o presente, muito menos a respeito do futuro. Tempo, agora, simplesmente perdeu o sentido pra ele.

- A sua família sou eu, Lelé! Não acredito que tu vai me largar por causa de buceta, doidão! Por causa de piranha?!

- Piranha não, maluco, a mina maneira, mó gente boa. Ficou perdida depois que o marido morreu. É com ela que eu quero passar o resto da minha vida, não aqui, vendendo papelote de droga e podendo ser morto a qualquer momento, se ligou?!

Silêncio. Olhos nos olhos. Pausa. Ira. As segundas e terceiras trovoadas explodiram nas nuvens acima deles. Estar no pico do Paraíso significava ficar muito perto das estrelas e do céu noturno, mas ao mesmo tempo também era receber as tempestades direto na cabeça, primeiro que todo mundo. Diante da espera dos amigos, a primeira gota caiu, bem no meio da enorme distância que agora separava a dupla inseparável. Como são as coisas, não?

- Se tu tá ralando, então... – a voz de Abner embargou. – Então agora é tudo meu.

Sem dar um pio contra esse argumento, Lelé fez que sim com a cabeça e concordou.

- É tudo teu. Já deixei o pessoal avisado, ninguém é maluco de mexer contigo. Tu é meu protegido, meu fechamento. Meu cria.

Mas tudo era muito raso depois do que eles fizeram juntos. Protegido talvez fosse antes, no começo, quando Bezinho ainda se sentia frágil, não após a química, a física e a biologia que desenvolveram em sintonia. Não depois da história que construíram juntos naquele lugar, naquelas ruas, becos e vielas.

- Então, se é tudo meu, eu quero que tu meta o pé agora mesmo, Leonardo! – as mãos fecharam, os pulsos enrijeceram e um ressentimento absurdo tomou conta do negão. – Hoje! Agora! Eu quero que tu suma e não volte mais, nunca mais!

Certeza nas palavras firmes, tensão entre eles, até que a última sentença saiu, parecendo uma maldição de verão.

- É melhor tu desaparecer da minha vista, doidão, senão...

Pausa. O dono do morro olhou pra mão trêmula do parceiro, lembrou que já havia passado por aquilo anteriormente, mas soube que não tinha outra forma de dar a notícia. Ele, mais do que ninguém, conhecia Abner dos pés à cabeça e tinha certeza de que a reação seria brusca e violenta em qualquer hipótese.

- Senão... – Lelé insistiu, querendo saber o que vinha adiante.

- Senão... – o capoeirista colocou a mão na pistola e a sacou, apontando na direção do peito do melhor amigo. – Senão eu faço tu sumir agora mesmo, Leonardo! Mete o pé, porra! Some daqui!

O choro caindo incontrolavelmente, embargando sua voz e dificultando ainda mais o entendimento entre eles. Bezinho tentando não soluçar, mas era muito difícil controlar os próprios sentimentos, principalmente naquelas condições anormais de temperatura e pressão. Devagar e em silêncio, o dono da boca deu alguns passos à frente, sem medo, e caminhou na direção da arma. Sorriu e mostrou as covinhas que todo mundo no Complexo do Céu na Terra conhecia, carismático que só ele.

- E tu teria essa coragem, cria? – encostou com o peitoral contra o cano da pistola, segurou as mãos trêmulas do parceiro e tornou a sorrir. – Teria coragem de fazer comigo que nem tu fez com aquele monstro do Caixa Alta, Abner?

Olhos nos olhos. A pele suada por cima da mão nervosa.

- Então eu quero ver. Atira em mim, meu cria. Atira bem no meu coração, que é onde tu mora, seu arrombado! Atira, me mata e mata também tudo que tá aí dentro, vai?

Um deles chorando e o outro rindo, esperando pelo que aconteceria a seguir. Até que Bezinho tomou coragem, fechou os olhos e...

- “BUUM!” – o barulho do trovão explodiu nas nuvens acima deles.

Nada aconteceu. O tempo parou e ficou só a dupla inseparável se olhando, desfrutando do doloroso processo de se separar, de fluir e de deixar ir. Nunca foi tão difícil se livrar de um “in” e se enquadrar ao “separável”, e quem dera essa fosse apenas uma questão de ortografia e escrita.

- Eu não atiraria em tu... Que nem eu fiz com o Matão, doidão. Não atiraria, porque... Eu te amo pra caralho, tu tá ligado? Hahahahaha! – o riso no meio da tristeza só denotou o quanto ele ficou quebrado por dentro. – E daquele cachorro eu sentia raiva, ódio! Eu sei que te amo e tu tá indo embora de mim. Isso... Isso dói, doidão!

Ouvindo toda a sinceridade presente em seu melhor amigo, Leonardo esticou os braços e deu um último abraço em Abner, apertando o amante contra o próprio corpo e o aconchegando em seu cheiro único. Ao fazer isso, pressionou a mão no peito dele, por cima do coração, e falou no ouvido, igualmente choroso.

- Enquanto tiver um canto pra mim aqui no Paraíso, eu prometo que tô sempre por perto, pra tu cuidar de mim, meu cria. Tamo junto? – respirou fundo, fechou os olhos e se despediu. – Tu tem razão. A favela é tua, então é melhor eu me adiantar e meter o pé logo, que é pra não te deixar mais bolado, já é? Se cuida, cria...

Os dois abraçados, com carinho no cabelo e pistola na mão. Era incrível a habilidade que ambos tinham de desarmar um ao outro, por mais que fossem traficantes de um comando organizado de uma comunidade do Rio de Janeiro. E agora, toda essa habilidade simplesmente se via sem fim, dada a despedida. Em movimentos rápidos, porém muito seguros, Lelé tirou a arma da cintura, o colete, os anéis e cordões, e colocou tudo nas mãos do colega. Entregou também a chave da moto e tentou fazer tudo isso sorrindo, apesar dos olhos parecendo cachoeiras e da voz mega embargada.

Assim que o sorriso mais carismático do Complexo sumiu na escuridão, duas tempestades desabaram: uma chamada chuva, que desceu do céu, e outra chamada Abner, que caiu de joelhos no chão e deixou a água tomar seu corpo choroso. Os céus desabaram, mas Bezinho permaneceu ali por muito, muito tempo, tomando tempestade nas costas e deixando os olhos, ironicamente secos, debaixo das péssimas condições meteorológicas do Rio de Janeiro. Pancadas de chuva com probabilidades de coração estilhaçado no subúrbio. Ficou ele chorando no chão, a água caindo e a música triste e nostálgica do fim de baile rolando no fundo. O que doía mais talvez não fosse a saída de Lelé da vida do crime, até porque, desde o começo esse era o sonho de Abner: convencer seu melhor amigo a abandonar aquela ocupação perigosa. Até por isso ele topou ser braço direito de Leonardo e nunca se viu sendo bandido como os outros, quase como se só tivesse aceitado o convite pra poder ficar mais fácil de cumprir com a promessa de cuidar do seu cria. A dor no peito destruído de Bezinho era o eco daquela frase:

- “É com ela que eu quero passar o resto da minha vida, não aqui.”

Horas após a rachadura no coração e o início da tempestade pesada no Morro do Paraíso, eis que uma figura apareceu entre as trilhas que levavam ao topo da colina e avistou o negão ajoelhado, imóvel no chão.

- Primo!? Pelo amor de Deus, cara! Tua tia tá até agora te procurando, Abner, o que é que cê tá fazendo sozinho aqui?!

O sujeito acelerou o passo e foi correndo pra perto do capoeirista.

- Misericórdia! Já te procuramo em tudo quanto foi beco da comunidade, pensamo até que tinham te sequestrado lá pro Éden, poxa!

Todo cuidadoso sob a capa de chuva, o primo mais novo de Bezinho de alguma forma sabia daquela área isolada no topo da favela e apareceu, já perto do amanhecer. Preparado com uma toalha e guarda-chuva, ele se aproximou do corpo entristecido do negão e o consolou, tentando procurar vida naquele par de olhos escuros e ressecados.

- Ou?! Seja lá o que aconteceu contigo, reage, tá!? Não vou te deixar caído aqui assim, não, pode ter certeza!

Com muita força e resistência, o primo tratou de botar Abner de pé e o levou com o apoio do ombro até o barraco, tendo MUITA dificuldade nisso. Ajudou a tomar banho, preparou um misto-quente pra ele e, pela primeira vez em horas, Bezinho finalmente se sentiu com calor, confortavelmente seco e acolhido debaixo do teto do parente. O edredom jogado ao redor de seu corpo enorme, ele só com o rosto bruto de fora e todo bem cuidado pelo primo novinho.

- Eu...

Não soube nem como começar ou o que dizer. Pensou duas vezes, achou melhor se fechar, porém tinha que falar qualquer coisa.

- Valeu, doidão. Ainda nem te agradeci.

- E nem tem que agradecer. Eu só quero saber o que diabos cê tava fazendo debaixo daquela chuva até uma hora dessas, isso sim! Vai explicar ou não? – com as mãos nas cadeiras, o novinho fez pose de marra e aguardou uma resposta. – Quando minha mãe chegar, ela com certeza vai querer saber. Todo mundo ficou preocupado contigo, Abner!

Bezinho hesitou por alguns segundos. Olhou pra baixo, viu as próprias mãos marcadas e pensou mais um tempo.

- Eu... Briguei com um parceiro aí, porque ele tá metendo o pé do morro. Foi isso.

Silêncio. Seu olhar estava diferente. Mais que nunca, existia uma revolta muito natural e presente no ângulo de visão daquele homem, bem na ponta dos olhos, dando uma tenacidade incomum ao seu jeito de olhar. Era quase como se sua perspectiva para encarar e conceber o mundo estivesse totalmente mudada. Até piscar os olhos Abner tava fazendo menos, agindo como se estivesse compenetrado nas coisas que estavam em seu campo de visão. Resumindo, era um vislumbre novo e... fixo.

- Certeza que foi só isso, primo? Cê tava caído no chão há muito tempo, Abner. E esse ouro, essa arma... Sabe que minha mãe não vai gostar nada disso, né?

Ele fez que sim com a cabeça, olhou praquelas joias e sentiu a presença de Lelé ainda impressa nelas, assim como seu cheiro e seu perfume, por mais que tivessem sido molhadas pela chuva. O primo sentou na sua frente, olhou em seus olhos, mas o negão desviou o olhar, querendo não ser lido, tampouco julgado.

- Eu não me importo com o que cê tá fazendo, contanto que não teja machucando ninguém. Cê tá machucando alguém?

Abner fez que não com a cabeça. Machucar não era com ele, seu objetivo sempre foi proteger, cuidar, zelar. Foi isso que sempre fez pela mãe, foi isso que ele sempre fez pelo ex melhor amigo e era o que também fazia pelo Morro do Paraíso.

- E nem tá se machucando, né, Abner? Por favor.

Aí ele parou e não respondeu nada.

- Bezinho... – o novinho insistiu, fazendo um tom quase que maternal com o primo mais velho. – Tá se machucando, cara? Tem que ter cuidado com esses caminhos, poxa! Lembra do que minha tia dizia pra você?

Deu um abraço no capoeirista, alisou seu rosto e beijou a bochecha dele fraternalmente, deixando o primão um pouco tímido. Era muito raro ter aquele tipo de carinho sincero vindo de alguém, por isso aquela reação meio envergonhada, apesar de ter aceitado os chamegos.

- É melhor esconder essas coisas, antes que minha mãe chegue e fique falando no teu ouvido, Abner. Da outra vez que ela viu as coisas do...

O moleque parou de falar e essa falta de palavras chamou a atenção de Bezinho, que olhou pra ele e esperou pelo restante da conversa. Foi a vez do primo mais novo ficar vermelho e do negão se sentir curioso.

- As coisas do...? – quis saber o restante do assunto. – Desembucha.

Mas nem resposta.

- As coisas de quem, doidão? Eu conheço? Fala logo!

O novinho fez que sim com a cabeça, porém continuou sem responder verbalmente, copiosamente tímido.

- Ih, caralho, tu tá de caso com um boy, é!? HJehehehe! Ele é daqui da favela ou é lá do Éden?

Abner perguntou isso e o outro não soube onde esconder o rosto, de tão envergonhado por aquelas perguntas. Aí sim o negão investiu na graça do momento e disparou.

- Tua mãe já sabe que tu tá se engraçando com um maluco do corre, moleque? Hahahahaha!

- Não, claro que não tô me engraçando com ninguém! Na verdade, agora que cê falou, eu acho que tô só de fogo, sabe? Ai, esquece que te contei isso, primo. Não me leva a séri-

- Então ele é do corre mesmo, é? – perguntou na lata. – Aff, não boto fé! É aquele marginal do Cabelinho, né, seu puto!? Hahahahaa!

O primo mais novo quase caiu pra trás com a pergunta saindo tão sincera e honesta.

- É o Cabelinho, num é, Bey!? – Abner insistiu. – Tu tá se engraçando com o malandro do Cabelo!? Hahahaha!

Bey riu e fez que sim com a cabeça.

- Que merda, ein? E o pior é que... vocês nasceram pra ficar junto, já te falei isso.

- Aff, explica isso pra ele, Abner!

Apesar do comentário positivo, Bezinho pensou mais um pouco e não se segurou naquele olhar frio e fixo.

- Sai disso, doidão. Essa parada de gostar de traficante é uma merda. – olhou pras próprias mãos e viu os cordões e anéis de ouro que Lelé deixou pra trás, antes de sumir pra sempre no escuro do beco. – Daqui a pouco sabe o que rola? Ou ele morre, ou bota na cabeça que tem que largar tudo por causa de alguém, aí tu fica sozinho de pista. Aproveita enquanto tu é novo e tem tempo, Bey.

O novinho ficou chocado com aquela resposta tão pronta, tão processada, tão elaborada e construída.

- Eu falo isso o tempo todo pra ele, Abner! Que ele não é gato, não tem sete vidas. Uma hora o bicho pega de verdade e eu fico aqui chorando sozinho, sabe? Mas cê conhece aquele idiota do Cabelo, não conhece!? Ele sempre diz que vai parar, que vai sair... E eu, otário...

- E tu acredita em papo de malandro, Bey?! Malandro não para, malandro dá um tempo. Eu conheço o Cabelo e tô ligado que tu fala dele porque tá apaixonado e se preocupa. por isso que te dou essa visão. Faz um favor pra tu e pro Cabelo e não se envolve, não cria muito vínculo com ele, pro bem de vocês. Se ele gosta de tu de verdade, vai se afastar e não vai te trazer nenhum risco, se ligou? Papo de cria.

Ouvindo com atenção, o primo mais novo sentou na poltroninha e ficou refletindo sobre aquela conversa sincera com o parente que não via há algum tempo. Esse papo foi só o começo da relação próxima e fraterna que Abner e Bey desenvolveram, com o capoeirista sempre o lembrando dos riscos que envolviam a relação com Cabelinho.

- Papo reto, doidão. O que foi que tu viu naquele marginal do Cabelo?

- Ah, cê sabe, né, Abner? Quando o sentimento começa, a gente nem pensa direito nas coisas. Vai dizer que cê nunca amou ninguém na vida?

A pergunta inocente ardeu nas rachaduras recentes do coração do negão. Ele pensou por alguns segundos, não respondeu, e o primo mais novo entendeu o recado. Bey aproveitou a deixa e desconversou.

- Mas cê tem razão, às vezes eu fico pensando a mesma coisa. Hahahahaha! – colocou as mãos nas cadeiras, suspendeu a blusinha e mostrou o umbigo. – Tô gostando de um cara que não deixa nem eu fazer um piercing, dá pra acreditar nisso!? Logo eu?!

Ao escutar isso, o negão automaticamente franziu a testa e quase que juntou as sobrancelhas, de tão encucado com aquela frase. Como assim o Cabelinho não permitia alguma coisa?

- Quem é ele, meu filho?! – Abner não conseguiu segurar a indignação. – Quem o puto do Cabelo pensa que é pra te proibir de alguma coisa, Bey?! Abre o olho, doidão! Deixa esse cara te dominar não, ein!

- Hahahahaha! É verdade, primo! Eu tinha era que cagar pra ele, isso sim...

Incapaz de se manter quieto, Bezinho deu um pulo pra fora do edredom no qual estava enrolado, pegou alguns cordões de ouro e enfiou no bolso da bermuda apertada, emprestada do padrasto do novinho.

- Bora furar agora esse umbigo, anda!

- Quê?!

- É, porra! Anda, doidão! Vamo lá, eu te levo de graça. Tem um maluco que fura ali perto do bar da boca, tu não tá a fim? Só bora!

Nervoso, Bey não esperou por aquele momento e sentiu a aflição do cateter atravessando a pele do umbigo ali mesmo.

- Tô, é que... Sei lá, parando pra pensar, acho que eu tô nervoso! Hehehehehe!

- Que nada, só bora. Vai dar bom, doidão!

E lá se foram os dois na moto, de rolé pela favela até o estúdio de perfuração. Por muitas horas, Abner conseguiu viver com menos cobrança, menos peso sobre os últimos acontecimentos envolvendo o coração. De repente, tempo era exatamente do que ele precisava. Tempo e... reconhecimento. Sim. Quando os primos chegaram no lugar pra fazer o piercing, o dono do estúdio não cobrou valor, simplesmente porque sabia quem era Bezinho e sabia também da vontade de Lelé. Esse detalhe fez o capoeirista lembrar que o Morro do Paraíso tinha um novo dono: ele. Foi nesse mesmo dia que, trêmulo, Bey quase desistiu de furar o umbigo, de tão nervoso. Aí segurou o braço do negão e choramingou.

- Isso não vai dar certo, primo!

O novo dono do morro tinha que dar o exemplo, não?

- E se eu furar contigo, doidão?

- ... Que?!

- E se eu furar contigo, doidão? – ele repetiu silabicamente, dando um tom cômico à cena de nervoso. – Isso te dá coragem, moleque?

Resultado: a dupla saiu do estúdio com os umbigos furados. Exatamente, o chefe da boca de fumo da favela também furou o umbigo, deixando Bey impressionado pela coragem e pela inesperada ousadia. Pra completar, Bezinho ainda suspendeu a blusa e ficou com a barriga definida de fora, só pra mostrar a mais nova joia pendurada no meio do abdome. Alto, forte, truculento, um negão de quase dois metros de altura, rindo à toa, acompanhado do primo mais novo e ambos ostentando seus piercings no umbigo pra todo mundo ver, essa foi a cena. Eles ainda tavam andando pela calçada lateral do estúdio, quando chegaram perto do bar e uma senhora elogiou.

- É isso aí, meu filho! Vive pra ser feliz, não vive pra agradar ninguém, não. Só se vive uma vez!

- Valeu, tia! – Bey achou graça.

Mas um homem que estava ali próximo, com roupa de pastor, segurando uma bíblia e de cara fechada, fez questão de abrir a boca e opinar contra.

- Perdoa essa alma, Senhor! Perdoa essa mente jovem e perdida, que não sabe o que tá fazendo, pai!

Assim que escutou isso, Bezinho parou de andar e essa reação inusitada fez todo mundo ficar um tanto quanto tenso pelo que aconteceria a seguir. A senhora, o primo mais novo, os poucos transeuntes ao redor, incluindo o próprio pastor, todos pararam pra ver o que vinha a partir dali. De pé, Abner cruzou os braços, encarou o sujeito e riu, bem debochado.

- Aí, gente fina, vou te dar o papo reto? Se tu não gosta de viado, é melhor virar a cara quando eu tiver passando na rua, tá ligado? Porque além de viado, eu sou bandido. Isso te incomoda?!

Mas o evangélico simplesmente ignorou, como se não tivesse ninguém por ali falando com ele. A atitude fez o sangue do novo dono do morro esquentar. Ele não se aguentou e começou a andar na direção do homem, que, por sua vez, levantou a bíblia e passou a berrar em frente ao barzinho da coroa.

- LIVRA ESSA ALMA DO PECADO, MEU PAI! Tira ele dos caminhos da sodomia, da droga, da luxúria, meu Senh-

Com apenas uma mão, o negão capoeirista apertou a gola da blusa social do pastor e, em movimentos brutos, começou a suspendê-lo no ar, chegando a tirá-lo do chão de terra da comunidade.

- Escuta aqui, seu otário! Quer que eu te diga a diferença entre a tua igreja e a minha boca de fumo? A droga que vende na boca é mais barata. Hehehehehehe!

A cena fez Bey e a dona do botequim ficarem de queixo caído. Desacreditado do nível de força do dono do morro, o novinho até tentou argumentar.

- Pera aí, primo! Vai com calma! O cara é pastor, ele só tava-

- Só tava porra nenhuma, moleque! Esse vermezinho não tiraria essa marra se fosse outro traficante, tá fazendo isso porque é comigo! – fechou a cara, olhou firme pro sujeito pendurado na mão e falou com bastante raiva. – Ele olhou bem pro meu piercing na hora de falar de sodomia, o caô dele é comigo!

Nervoso, mas sem desistir de suas convicções religiosas, o homem tentou se debater, porém não conseguiu se livrar do controle absoluto de Abner sobre si. Os pés ainda não tocavam o chão.

- TIRA A MÃO DE MIM, SEU MARGINAL! EU SOU SERVO LEAL DE DEUS!

Bezinho obedeceu, o largou e deixou o pastor cair sentado, com a bunda plantada na terra. Em seguida, o capoeirista limpou uma mão na outra, fechou os dedos e ficou encarando o pilantra de cima, enquanto sentia o sangue fervendo de raiva.

- Servo de Deus?! Tu?! HAUHAUAHA! Tu é só um merdinha, fiscal da vida dos outros. Tu é tão pecador quanto eu, seu lixo!

- Lava sua boca, seu imundo!

- Lavar?! Lavar é o que vocês fazem com dinheiro de gente pobre lá naquele inferno de vocês, seu charlatão! Tá pensando que o... – ele pensou brevemente naquele nome e preferiu evita-lo. – Tá pensando que o covarde do “ex dono” não me passou a visão dessa porra de igreja de vocês, não?! Só trouxa que não tá ligado, doidão!

Ouvindo isso, foi aí que o cara resolveu se soltar e mostrar quem era de verdade. Cheio de ódio e com cara de ruim, o evangélico apertou os dedos no solo, juntou um pouco de terra e tentou lançar contra Abner, mas o dono do morro percebeu antecipadamente e desviou a tempo.

- Eu vou reclamar na facção, sua bicha imunda! Doença!

- RECLAMA, CUZÃO! – decidido e insubmisso, o negão botou a mão na cintura, sacou a arma e apontou na direção da figura caída à sua frente.

- PRIMO, NÃ-

- “BUUM, BUUM, BUUM!”

Foram três salvos na mesma direção, deixando as poucas pessoas próximas com um forte zumbido nos ouvidos. A senhora que era dona do bar correu pro lado de dentro, deixando Bey sem reação e com as mãos cobrindo o próprio rosto. Até que, lentamente, o primo mais novo abriu os dedos, depois os olhos, e finalmente viu aquele corpo caído no chão.

- Isso é pra tu ficar ligado no papo, pastor. – gargalhando, Bezinho encarou o homem e guardou a pistola ainda quente de volta na cinta. - Ou tu abraça o papo ou é o papo que te abraça, morô? Quer ir lá na facção dar queixa, pode ir. Manda aqueles puto brotar aqui, que eu mamo um por um, pra provar que sou bicha! Vai dar em nada, doidão!

Sem qualquer ferimento e bastante trêmulo, o sujeito olhou pro lado e viu a marca dos três disparos no chão perto de si, com a terra ainda soltando fumaça do seu lado. Envergonhado e com o coração acelerado, eis que ele se deu conta do excesso de calor entre as pernas, olhou pra baixo e viu a calça toda molhada.

- Q-quando eu conheci a tua mãe... T-tu não era assim, B-Bezinho. – o evangélico tentou dizer qualquer coisa.

- Bezinho é o caralho, meu nome agora é Abner Pequeno, morô?! E se tu não me respeitar, a chinela vai cantar no teu lombo, maluco! A escolha é tua. Aqui no Paraíso o perigo sou eu, tu escutou? – o capoeirista abaixou, pôs o dedo no queixo do pilantra e o obrigou a encará-lo. – Eu fiz uma pergunta. Escutou ou não escutou?

- E-escutei, Pequeno! Escutei, sim senhor!

- Então levanta e vê se vai tomar um banho, que essa calça tá vergonhosa, mijão.

Só então o negão deixou o homem ir embora, voltando a dar atenção ao primo Bey, que estava completamente sem palavras, de olhos arregalados e o queixo caído. Foi a primeira vez na vida que ele testemunhou o mais velho tomando atitudes drásticas como aquela, e sua primeira reação foi... rir!

- Qual foi? – Bezinho quis saber o motivo da graça.

- Sabe que se minha mãe me visse andando contigo agora ela ia dar um esporrão, né? HAUHAUHAHUA!

Sem jeito, o capoeirista coçou a cabeça, cruzou os braços e riu, balançando o piercing do umbigo de um lado pro outro.

- É melhor a gente não ser visto junto, pra não te complicar. Né?

- Ih, relaxa! Se mainha não ver, mainha não sabe. Hehehehe! Apesar de que o povo aqui da favela é muito fofoqueiro. HAHAHHA!

Entre os risos, Abner levou esse comentário na graça e viu os olhos sinceros do novinho rindo consigo. Momentos como aquele valiam muito mais do que qualquer ouro no pescoço, nos dedos ou no umbigo. Involuntariamente, o capoeirista esticou os braços e ficou parado, deixando Bey até admirado por aquela atitude. Em seguida, eles deram um abraço sincero e começaram a se despedir. O amor fraterno parecia mais aconchegante e sincero do que o amor que o negão sentiu outrora, tão frágil e inconstante. Por fim, querendo fazer algo significativo pelo primo, Pequeno pôs a mão no bolso, puxou várias notas e entregou ao rapaz.

- Que isso, Abner?

- Vai lá comprar umas cracudinha pra tu, que eu sei que tu se amarra. E ó, avisa praquele doidão do Cabelo que logo menos eu vou brotar no Éden pra entornar umas com ele, já é? Hehehehehe! Tamo junto, primo!

Quase dois metros de altura, piercing de ouro no umbigo, os cordões e anéis dourados pendurados no pescoço e pelos dedos, além da pele negra suando e reluzindo debaixo do sol suburbano, quente e fogoso do verão carioca. Aquela também foi a primeira vez na vida que Abner Pequeno sentiu um fogo perigoso esquentando seu corpo, quase como se fosse o cano da pistola aquecendo suas vontades, o ego, a cintura e seus desejos. Quando o novo dono do morro finalmente sentiu seu poder, seu lugar e também sua sexualidade, eis que a energia quente ascendeu todo o lugar à sua melhor fase. Era chegada a hora da era de ouro da vida no Paraíso.

ABNER PEQUENO: A ERA DE OURO

            Por mais que Lelé tivesse deixado os moradores, traficantes e vapores avisados de que Pequeno, seu braço direito, seria o novo dono do Morro do Paraíso, esse fato não foi suficiente pra fazer todo mundo aceita-lo de imediato. Principalmente porque, na mente de quase todos, ainda estavam frescas as lembranças de um Abner que chegou a ser visto como traidor, na vez em que ele se irritou de ciúmes e pensou em apontar a arma pro melhor amigo, mesmo não o fazendo. Entre outras palavras, o aviso deixado por Lelé ajudou, mas o que fez Abner Pequeno realmente se firmar como dono do Paraíso foram suas ações na favela, coisas que antes ele só se via fazendo ao lado do parceiro Leonardo. Antes, durante, depois, aos poucos Pequeno tratou de reconstruir muitas coisas: seu respeito na comunidade; o coração estilhaçado; o tempo desfeito em escolhas erradas... Inspirado na era de prata do Complexo do Céu na Terra, quando sua função era auxiliar e cuidar de Lelé, Abner construiu uma verdadeira sensação de prosperidade na região do Morro do Paraíso, movimentando uma massa de gente e de dinheiro que não havia acontecido até então. Foi fazendo tudo sozinho, sem ninguém do lado, apesar dos outros traficantes trabalharem com ele e até acatarem suas ordens às vezes.

- E por que eu aceitaria a ordem de um traidor, maluco? – um dos vapores questionou, uma vez.

- Porque é esse traidor que o teu ex chefe botou no lugar dele, antes de fugir com o rabo entre as pernas. Se existe um traidor da comunidade, é ele. Ele traiu vocês, traiu geral e ralou peito. – o capoeirista respondeu na lata, sempre evitando dizer o nome do “ex dono” do lugar. – E, ó só, vô te dar um papo reto, doidão? Eu também preferia quando era aquele covarde aqui fazendo tudo. Tu acha mesmo que eu queria tá sentado aqui, tendo que lidar com um bando de marmanjo feito vocês?!

Se os caras do comando queriam falar grosso, o tom dele tinha que ser quatro vezes mais afiado. No começo foi difícil, boa parte daqueles bandidos que tinham que obedecê-lo estiveram na segurança de Lelé durante muitos anos, incluindo no dia em que, enciumado, Pequeno pensou em dar uma resposta armada ao ex melhor amigo. Ou seja, além dessa lembrança, os bandidos não gostavam do jeito respondão, autoritário e impositivo de Abner Pequeno, mas essa era sua defesa intransponível e absoluta para lidar com o mundo. No presente tudo virava ex alguma coisa, essa era uma tendência quase que fatídica na vida do negão. Tudo era perecível, inclusive sua paciência.

- Tão enrolando essa droga na moral, doidão?! Segunda vez que reclamam na boca, porra! – o capoeirista pegou a trouxinha de maconha, cheirou, apertou e jogou nos peitos do mesmo traficante que questionou sua ordem da outra vez. – Enrola essa porra do jeito que eu te ensinei, porra! Perdeu a noção do perigo, mermão!?

- Foi mal, chefe! Vô refazer, vô refazer! – o sujeito respondeu, todo apressado pra não decepcionar o dono do morro. – Perdão, perdão!

Ninguém melhor do que Abner Pequeno pra mostrar que respeito não se pede, se impõe. E é claro que todas as responsabilidades vinham carregadas com prazeres e diversas delícias, além dos pecados. Afinal de contas, aquele morro era conhecido pelo nome de Paraíso, situado acima da Favela do Éden, duas das cinco comunidades de um extenso e denso Complexo do Céu na Terra.

Em sua era de ouro, Abner organizou os melhores bailes funk da cidade do Rio de Janeiro. Mesmo não gostando, seus acordos com a polícia e com a politicagem corrupta garantiam paz quase que permanente à comunidade, durante o maior período de tempo já visto após o Inferno Carioca. Pensando em lazer, o novo dono da favela analisou tudo que os políticos não faziam em sua região e elaborou uma espécie de planejamentos de uma série de construções ao redor do morro. Primeiro foram duas enormes piscinas olímpicas e depois três quadras poliesportivas, pros jovens ficarem mais tempo na escola e menos tempo à toa nas ruas. Pra não parecer que o sujeito só fez coisas positivas, no âmbito da criminalidade, Pequeno abrigou e acolheu cerca de 142 traficantes que foram expulsos do Complexo de Favelas do Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, recebendo parte deles em sua própria comunidade, providenciando estadia e uma espécie de exílio “temporário”. No auge de toda as realizações que fez naquele momento, alguns detalhes na vida de Abner permaneceram intactos: ele morava no mesmo barraco de sempre, agora sozinho, e mantinha o hábito de fumar da laje em todo entardecer, olhando pro céu se tornando escuro e pensando nas coisas, todas elas, tentando conciliar e organizar cada uma no seu tempo. Ou pelo menos as que estavam no seu controle, sob seu alcance. Seu círculo de conhecidos mais próximo era constituído somente da tia e do filho dela, o primo Bey, com quem o capoeirista se encontrava raramente. Além do primo, havia sempre uma mina ou outra de olho no negão dono do morro, pra não falar dos caras que olhavam pra ele e viam muito além do que os outros olhos comuns conseguiam ver.

Apesar de ter começado de forma complicada, sua gestão do Morro do Paraíso ficou historicamente marcada na comunidade, contabilizando o menor número de conflitos armados ao longo da existência do Complexo do Céu na Terra. Em poucos anos, os moradores finalmente passaram a respeitá-lo completamente, entendendo que o puto era marrento, pavio curto e que ninguém pisava em seu calo e saía impune. Ninguém. Detalhe matemático: ninguém sabia que no fundo da mente do traficante Abner Pequeno ainda residia Bezinho, o jovem observador do mundo e dos fins de tarde cariocas. Pensando nesse fator incógnito, do qual ninguém sabia, e somando isso a 142 novos traficantes exilados e vivendo no Paraíso, nasce a probabilidade mais improvável de acontecer: após o “expediente” na boca de fumo e o típico rolé de moto pra conferir se tudo tava certo pela favela, o dono do morro sentou em sua laje, olhou pro céu e se pôs a enrolar um baseado, admirando o pôr do sol e se concentrando no degrade lilás do final do entardecer. Até que...

- Psiu!?

Não deu nem pra ignorar ou fingir que não ouviu o sussurro chamando, porque o corpo ficou todo arrepiado, dos pés à cabeça, deixando o negão com a sensibilidade um tanto quanto aflorada, além do coração acelerado. Existe uma forte nostalgia nos crepúsculos do verão carioca. Sabendo disso, Abner correu pra lateral da laje, esticou o pescoço lá de cima e viu aquele homem parado no portão, olhando pra si e fazendo cara de curioso.

- E aí, chefe? – o cara não escondeu a empolgação. – Como é que tá essa força?

Àquela altura da era de ouro, todo mundo já sabia que nada e nem ninguém era capaz de prender, de dominar ou de fazer a cabeça de Abner Pequeno, como já aconteceu uma vez no passado. Mas mesmo assim, o negão não teve como esconder a porrada que desestabilizou seu estômago e também as pernas, que foi quando ele viu quem viu, lá embaixo, parado na lateral do portãozinho.

- Tudo suave com o dono do lugar? – o homem tornou a perguntar. – Mó paz, ein? Hehehehe...

Sem blusa, só com short de algodão caindo pela cintura e mostrando a estampa da cueca boxer por baixo. A camiseta estava jogada por cima de um dos ombros esféricos, bem perto do cordão dourado pesando no trapézio proeminente. Alto, moreno, com um cavanhaque malandreado na face rústica, o corpo taludo e rígido, denotando o tanto de esforço físico que aquele cafuçu costumava fazer durante o dia. E também às noites, quando ele ficava de plantão na boca de fumo. Semblante de mal encarado, apesar do risinho cínico no rosto bruto. O peitoral desenvolvido, porém não bombado, cheio de pelos em trilha no meio, descendo até o umbigo, sendo que tudo isso estava com um delicioso cheiro de perfume vagabundo, típico de malandro, de carioca sagaz e suburbano. Chinelos slide nos pés enormes, as sobrancelhas escuras e grossas, uma delas riscada. O cabelo igualmente escuro, disfarçado nas laterais, mas escondido sob um boné pra trás. Várias tatuagens no corpo, a mais desgastada delas certamente era o nome da mãe, “Doralice”, escrito no verso de um dos antebraços. Ninguém jamais esperou uma aparição daquelas, principalmente em pleno Paraíso.

- CK?! – de cima da laje, Abner não escondeu a surpresa. – O que tu veio fazer no meu barraco, doidão!? Já não dei o papo que eu só resolvo as parada quando tô na boca?

Mantendo o risinho, CK abaixou a cabeça, fez como quem não queria nada e levantou uma das mãos, mostrando um saco com várias coisas dentro.

- Tá sozinho, chefe? Posso subir?

Assim que ouviu a pergunta, Pequeno sentiu vontade de rir, mas logo desconfiou e pôs a mão por cima da pistola na cintura.

- Subir no meu barraco!? Te dei intimidade de vim zoar meu plantão uma hora dessa, Erick!? Perdeu a noção, foi?!

Vendo o dono do morro se preparando pra pegar na arma, o sujeito perdeu a compostura, ficou todo sem jeito e já tratou de tentar explicar o que foi fazer ali.

- Relaxa, chefia, relaxa! Fica tranquilo, que eu só brotei pra agradecer, se ligou?

- Agra-decer? – o negão quase gaguejou, totalmente perdido diante daquela situação tão inédita. – Agradecer o que, doidão?!

Afinal de contas, em pleno verão da era de ouro do Morro do Paraíso, quem imaginaria que um CK adulto apareceria no portão de Abner, pedindo pra entrar? Parado lá embaixo e aparentando uma singela timidez, o cafuçu balançou a sacola na mão e tirou um charuto de maconha da parte de trás da orelha.

- Agradecer pelo exílio, chefe! – decidido, ele não sairia dali tão facilmente, nem que tivesse que apelar e fazer um charme. – Foi tu que deu casa quando fomo expulso lá do Amarelo, tá ligado? Então eu brotei pra te dar uma moral, chefia. Trouxe uma cerva, um skunk do bom. Tá a fim de fumar um natural? Hehehehe!

Abner escutou tudo com muita atenção, parado lá em cima da laje, enquanto encarava CK no portão. Nos exatos segundos em que os dois se fitaram, o dono do morro sentiu um fogo descomunal começando a cerca-lo. Foi quase como se ele fosse invadido, lido, incendiado por dentro, tudo por conta do jeito charmoso e hipnótico com o qual o cafuçu malandreado o olhava, diretamente nos olhos. Quando eles se encaravam e se olhavam bem nas írises das vistas, o lado mais escondido dentro da mente do negão se sentia exposto, percebido, nu. Erick conseguia olhar para Abner Pequeno e ver nitidamente Bezinho em seu interior, isolado, sozinho. Esse era o maior perigo: CK possuía a mesma energia, o mesmo fogo no olhar e na atitude que Abner também tinha em si, a fagulha da insubmissão. A mesma caloria que o dono do morro usava de combustível pra forjar a era de ouro a partir da era de prata. Por conta de todos esses detalhes e similaridades perigosas de alquimia, Pequeno só poderia ter uma única reação natural à ameaça representada por CK.

- Eu lá tenho cara de quem precisa disso, Erick? – o capoeirista acendeu o próprio baseado na mão, virou um copo da cerveja que estava bebendo sozinho e debochou do cara lá embaixo. – Tenho cara de quem precisa de puxa saco?

Soltou a fumaça no ar, cruzou os braços e continuou encarando o malandro parado em seu portão. Mas o cafuçu sabia bem que não seria fácil convencer o chefe a dar o braço a torcer ao menos uma vez. CK chegou ali preparado, desde o dia em que, ao lado de mais 141 traficantes, pisou pela primeira vez no Paraíso. Sendo assim, ele fez cara de triste para a resposta dada por Abner, depois virou o corpo e saiu andando devagar, cabisbaixo, com jeito de quem ficou mal.

- Erick?

Lá de cima, o dono do morro chamou e a voz dele fez o cafuçu parar de andar. Antes de virar e encarar o chefe, o pilantra deu um sorriso e comemorou ocultamente o sucesso do plano. Só depois disso ele finalmente virou o corpo sem blusa, olhou no fundo dos olhos de Abner e esperou pelo que viria a seguir.

- Quem mandou tu ir embora? – Pequeno perguntou, abaixado de cócoras na beira da laje.

CK abriu um sorriso e não segurou a animação pela mudança de planos. Mas nenhum dos dois se mexeu. Eles continuaram parados, se olhando de longe, um no terraço do barraco, o outro parado no portão. Os olhos se fitando, transmitindo muito calor sob o pôr do sol, e a fumaça do baseado de Abner entre eles.

- Tá sozinho? – o chefe quis saber.

- Com certeza, chefia.

- Então sobe. Mas ó... – pausou antes de prosseguir. – Tô armado, doidão. É melhor tu não tentar nada, escutou?

- Nunca, chefe, que isso!? Tá maluco? Eu só vim agradecer, o papo é reto.

A partir desse ponto, tudo aconteceu lentamente e em completo silêncio, sem qualquer ruído aparente que pudesse interromper o enorme diálogo entre os dois. Revezando entre tragar do cigarro de maconha e observar o homem subindo até à laje, Abner sentiu calor no corpo e a mente querendo ficar bagunçada, algo que jamais permitiria. Do alto do terraço, eis que aquele dia se tornou um dos maiores vislumbres do Paraíso. Becos, vielas, fraturas, favelas, tudo mergulhado no mesmo Complexo do Céu na Terra, no verdadeiro Inferno suburbano que o Rio de Janeiro pode ser no verão. Sob um céu travado no entardecer, Pequeno viu CK chegando do seu lado e o cheiro forte do perfume vagabundo entrou por seus pulmões, deixando o dono do morro zonzo.

- O que foi que deu em tu, doidão? – a única pergunta que o capoeirista conseguiu fazer, perdido nas palavras.

- Já dei o papo. Tu me aceitou na favela, né, chefe? Se não fosse isso, eu tava perdidão na rua até agora. Heheheehhe!

Os olhos não pararam de se fitar, um bem focado no outro. Entre as passadas de baseado, as fumadas e os goles na cerveja, a dupla permaneceu ali, em cima da laje do barraco de Abner, observando o pôr do sol e desfrutando da companhia alheia.

- Tem certeza que é só isso, maluco?

Frente a frente, Pequeno fez a pergunta e viu um Erick sorridente se aproximando de si. Sem reagir, ele viu e sentiu o exato momento em que o cafuçu segurou seu ombro e fez um carinho.

- Eu tenho te observado, chefia... Eu tô ligado que...

Debaixo do crepúsculo duradouro, em tons de laranja forte, lilás e azul escuro, CK passou a mão bruta pela cintura do dono do morro, o agarrou pelas costas e o puxou bruscamente para si, unindo os dois corpos pela primeira vez na história. Mais do que qualquer outra pessoa ali e por qualquer razão aparente, o marginal conseguia ver nitidamente Bezinho quando olhava para Abner, por isso aquele momento estava acontecendo entre eles. Boca na boca, a língua de um procurando pela do outro, enquanto o negão só sentiu o coração disparando, ainda sem saber o que fazer. Os lábios mexendo contra o dele, a mão apertando sua cintura no sentido do corpo cheiroso e descamisado do malandro, e o instante se desdobrando em vários segundos. Até que, finalmente, do meio do beijo roubado, eis que o capoeirista se viu brevemente respondendo, reagindo, correspondendo à pressão da boca na sua, mesmo que por breves milésimos. E aí a mão respondeu mais rápido, empurrando bruscamente o físico de Erick pra trás.

- PERDEU A NOÇÃO DO PERIGO, SEU PIVETE!?

- Calma, chefe, calma! Pode se soltar comigo! Confia no pai, eu já fiz isso ant-

- QUE MANÉ PAI, FILHO DA PUTA! – sacou a arma, apontou no peitoral do pilantra e fez cara de puto. – TIRA A MÃO DE MIM! SE ADIANTA, PORRA! Tá maluco de me encostar assim?! Rala, CK!

- Mas chef-

- Rala, porra! – mirou na direção da ruela e insistiu. – Bora, tô mandando! Se adianta, doidão!

Não teve conversa. O começo de noite acabou não sendo exatamente do jeito que Erick havia planejado. Malandro e gaiato que só, ele até tinha noção do comportamento desconfiado e insubmisso ostentado pelo dono do Paraíso, porém jamais esperou que a conquista fosse tão complicada quanto pareceu. No entanto, mesmo tendo ralado do terraço de Abner, um impacto já havia sido causado, pelo menos naquele primeiro momento.

- Agora tu vê!? Filho da puta viaja, mané... – querendo admitir ou não, o chefe do morro ficou pensativo. – Tem me observado, até parece! Erick, Erick... Tu toma vergonha, doidão!

Parado, sozinho e olhando pro horizonte se tornando escuro, Pequeno ficou refletindo sobre o beijo roubado e sentindo aquela marca deixada em sua pele. Mesmo depois de vários minutos após o ocorrido, ele ainda tocava a própria boca com os dedos, só pra ter a certeza de que aquilo tinha realmente acontecido. Os lábios ainda estavam marcados com o calor do beijo impresso. A quentura de outra boca, uma boca rústica e morena, havia preenchido seu paladar. Quando foi mesmo a última vez que algo assim aconteceu? Ah, sim...

            Esse período na história do morro não foi chamado de era de ouro só por conta da sensação de prosperidade presente na comunidade. A fase também significou a explosão do calor, do fogo do verão e do jeito saliente e infernal que Abner passou a ostentar desde então. Afinal de contas, quem muito trabalha tem que se divertir dobrado. Como consequência, de um lado havia os bailes funk do Paraíso, cada vez mais lotados e inflados de gente circulando. Do outro, o comportamento excêntrico do chefe da favela, se tornando cada vez mais intenso, mais incontível, incapaz de ser dominado. Um dos episódios que mais deixou essa insubmissão em evidência foi na véspera do aniversário de 26 anos, quando, do alto do camarote do baile funk lotado, Pequeno olhou pro meio da multidão lá embaixo e viu aquele homem se destacando de todo o restante.

- O que aquele filho da puta pensa que tá fazendo aqui?! – apontou pro meio da quadra onde ocorria o evento e chamou a atenção dos capangas que faziam sua segurança. – Quem foi que deixou esse arrombado brotar no meu baile?!

- Quer que a gente bote pra fora, chefe? – Erick logo providenciou a oportunidade, mas ele logo foi interrompido pelo próprio dono do morro.

- Não, pode deixar. Pode deixar, que eu mermo vô lá dar um papo no filho da puta! Pode deixar comigo.

Quando o negão dava um aviso desses, todo mundo só obedecia e ficava olhando, ciente de que alguma coisa grande ia acontecer.

- “Oh, novinha, eu quero te ver contente. Não abandona o piru da gente! Aqui no Helipa, confesso, tu tem moral. Vinha aqui pra favela pra sentar no pau!” – o som não cedeu nem por um minuto.

Praticamente sem piscar os olhos e tampouco tirá-los de seu alvo, Abner cruzou a quadra lotada, foi passando de pessoa em pessoa, até que finalmente chegou bem na frente do sujeito.

- Tá fazendo o que aqui, cara?

- Ih, qual foi? – a figura fingiu que não entendeu, balançou o braço e mostrou a pulseira de VIP. – A favela também é minha, eu sou morador. Tô de penetra não, sodomitazinho!

Mesmo com o barulho dos alto-falantes explodindo exageradamente ao redor deles e todo mundo se mexendo, Pequeno escutou muito bem a palavra chegando em seus ouvidos, assim como leu os lábios do evangélico dizendo exatamente o que queriam dizer. Pelo visto, o pastor ainda não sabia nada sobre respeitar o chefe da favela. De bíblia na mão e roupa social, ali estava o figurão, no meio da multidão, tentando evangelizar alguém, como se fizesse algum tipo de vigília em pleno baile funk.

- Sodomitazinho? – Abner repetiu a palavra e deu um risinho, preferindo desviar o olhar por alguns segundos, pra não acabar tomando qualquer atitude drástica e repentina.

Aí ele esfregou a mão no rosto, depois olhou pra cara de fanfarrão daquele sujeito, apontou na direção do portão principal da quadra do evento e falou em tom de ultimato, quase que cuspindo as letras.

- Sai.

Não houve reação. Frente a frente, ambos se olharam e esperaram pelo que aconteceria a seguir, mas nada aconteceu, então o barulho do baile seguiu normalmente entre eles.

- Sai, senão eu mesmo vou te jogar daqui! Sai daqui, seu diabo!

- TÁ REPREENDIDO EM NOME DO SENHOR! – o cara suspendeu a bíblia e aumentou o tom de voz.

- Ah, não vai sair, não?! NÃO VAI SAIR!? – Pequeno olhou pro lado, viu Erick chegando armado e já deu a ordem. - TIRA ELE DAQUI, CK! Tira ele daqui, que eu tô sodomitazinho PRA CARALHO pra me estragar por meio diabo! TIRA DAQUI!

O pedido foi acatado na mesma hora, o malandro já foi logo batendo com o tórax contra o pastor e o encurralando pra fora do lugar, mesmo com muita resistência por parte do evangélico. Enquanto a cena acontecia, os outros traficantes riam à beça, acompanhados pela visão de um Abner gargalhando, xingando e berrando de longe.

- Rala, mete o pé! Seu MANDADO! Xô, vai pra casa do caralho! METE O PÉ! VAZA! Leva ele, leva ele, Erick! Canta pra subir!

Depois de ter expulsado o pastor, aí sim o baile do Paraíso ficou uma uva, só felicidade. Porém, ao mesmo tempo que o nome do lugar remetia ao divino, cada vez mais os passos dados por Abner no chão da comunidade se tornaram infernais. Seu andar marginal pra cima e pra baixo nos becos e vielas passou a ser carregado de muito fogo, com Pequeno sendo sempre bem escoltado por seus três únicos homens de confiança, todos fortemente armados dos pés à cabeça. Essa escolta acontecia inclusive na hora do baile. E aí, cheio de vontade de dançar e de ficar à vontade, o capoeirista começava a beber, a baforar lança perfume, depois pedia pros “seguranças” darem uma volta, afinal de contas, ele também precisava de espaço pra soltar o corpo e se sentir em casa.

- “E ela vem sacolejando a raba na frente do seu neném. Quer botadona braba? Isso eu vou te dar também. Só botadona, meu bem! Só botadona, meu bem!”

O funk alto explodia no paredão de som do canto da quadra. Um MC cantando, a multidão dançando e bebendo ao redor, todo mundo comemorando o aniversário de 26 anos de Abner, com tudo regado e em excesso, bem do jeito que o chefe gostava. Som, droga, mulher e homem pra tudo quanto era lado, direção e sentido, muita bebida e o fim de semana de comemorações só começando.

- “Bota, bota, bota, bota aqui. Bota, bota, bota, bota tudo em mim! Bota, bota, bota, bota aqui. Bota, bota, bota, bota tudo mim!” – nenhum sinal de que o volume da música seria abaixado, pelo contrário. – “Bota, bota, bota! Bota, bota, bota!”

Sem qualquer medo de se jogar e de ser quem era, Pequeno sentiu o corpo esquentando, por causa do álcool, aí apertou o copão entre os dedos da mão e se apoiou nos próprios joelhos. Bêbado, ele empinou a bunda de leve, fechou os olhos e foi cantando conforme rebolou, mexendo o quadril pra frente e pra trás no ritmo do funk. Quase sete da manhã, o dono da favela de óculos escuros, com seu ouro de sempre, relojão no pulso, os tênis de molas, calça jeans justa, blusão e o colete por cima. Baforando lança perfume, enchendo a fuça, comemorando o aniversário e rindo à toa, fortemente armado e rebolando o cu de um lado pro outro, no ritmo do tamborzão acelerado.

- Caralho, é papo reto que o chefe é viadão?! – Sandro, um dos seguranças do capoeirista, não pôde deixar a cena passar despercebida. – Achei que era só zoação, maluco! O cara é dono de morro e dá ré no quibe, é isso mermo?

- Porra, até parece que tu não tava ligado, paizão. – TH, o segundo na escolta, respondeu. – Ó só como ele tá dançando?

Parados perto de Abner Pequeno, mas dando espaço suficiente pro chefe da comunidade dançar e rebolar à vontade, os dois traficantes se olharam e ficaram vendo a dança do negão, acompanhando com bastante atenção os movimentos do lombo avantajado subindo e descendo devagar. Pequeno com um fuzil parafal nas costas, preso à bandoleira, uma pistola cromada em ouro em cada lado da cintura, vários radinhos pendurados, mas a raba sacolejando firme na putaria acelerada do 170bpm carioca, sem parar.

- Agora eu quero saber quem é que vai ser o primeiro a ter coragem de chamar ele de bicha. Hehehehehe! – Sandro não resistiu à piada e mandou pros amigos próximos.

Todos eles se olharam, dois saíram da roda imediatamente, três fecharam a cara e só ele ficou rindo. Assim que escutou isso, um deles veio do lado do parceiro e o advertiu.

- O cara te aceitou na favela, te promoveu pra ser segurança, te deu uma porra de Hornet de trinta mil conto e tu ainda fica gastando, seu otário?! – CK apertou o ombro de Sandro e tratou de mostrar a insatisfação. – Abraça o papo do Pequeno, senão o papo do Pequeno te abraça, maluco! Já esqueceu do que tu fazia lá no Amarelo antes da gente vir pra cá, é? Qual foi?!

O homem que fez a piada sentiu uma enorme pressão ao escutar aquela resposta na lata. Ele viu os olhos escuros de Erick o fitando e só então segurou a onda. A partir daí, os três voltaram a observar Abner dançando e se soltando na pista do baile. Drogado, Sandro novamente não conseguiu se conter e ficou rindo.

- Qual foi agora, cuzão? – CK cruzou os braços e fez cara de puto mais uma vez. – Lá vai começar de novo?!

- Tô aqui lembrando da época do Amarelo... Quem vai ser o primeiro a pedir pra enrabar o chefe?

- UHAUAHAHAHA! – TH, o entregador do grupo, caiu na gargalhada e isso deu ainda mais empolgação pro Sandro achar graça.

O sol começando a nascer, mas os raios ainda não batiam neles, graças aos morros em volta. Isso criou uma área de penumbra sobre todos, uma espécie de sombra fraca, que deu um efeito visual bonito de ver. Era literalmente o Paraíso. Até que, pra começar o inferno, Abner escutou as gargalhadas do seu trio de seguranças e só então percebeu a algazarra que eles estavam fazendo. Aproximou-se dos três de surpresa, pisou firme no chão e mostrou a cara de desgosto.

- Posso saber do que as três florzinhas tão achando graça!? – fez a pergunta e gesticulou com a pistola “sem querer” na direção deles. – Tem algum palhaço fazendo palhaçada aqui?

As reações foram imediatas e unânimes.

- Não, chefe! Claro que não, nunca!

- Que isso, chefia?! Zoar o senhor? Jamais!

- Sem querer, Pequeno!

Ouvindo as respostas com bastante atenção, o negão caminhou devagar na frente deles, olhando pra cara de cada um, até que parou diante do mais abusado e marrento do trio, aquele que sempre tava fazendo piada com alguém.

- Do que tu me chamou, Sandro?

- P-Pequeno?! – o puto até gaguejou.

Em represália, Erick CK bateu com o cotovelo no braço do amigo parrudo e tentou corrigi-lo a tempo, mas já era tarde demais. Abner apontou a pistola dourada no queixo do homem, o obrigou a encará-lo e não gostou do que ouviu.

- Pra tu é chefe também. Eu sou o teu chefe, tu tá me ouvindo, rapá?

Falou bruto, sem qualquer educação, cobrando taxativamente o devido respeito do capanga.

- Foi mal, chefe!

- Tô dando confiança pra tu me chamar de Pequeno não, Sandro. Escutou?!

- Escutei, escutei! Perdão, chefia!

- Assim que eu gosto. Acho muito bom!

O traficante parado, sério, ouvindo o esporro e só concordando, fazendo que sim com a cabeça. Relaxado, bêbado e baforando o lança perfume, o dono do Morro do Paraíso deu um tapinha em cheio no rosto de Sandro, só pra desmoralizá-lo ainda mais na frente dos colegas. Vendo essa cena, CK começou a rir, porém também foi logo percebido.

- Tá achando graça, é, Erick?! Quando tu foi expulso lá do Amarelinho, fui eu que te acolhi, seu traste! Deixei tu segurar minha mochila pesada, com mais de não sei quantos mil de dinheiro vivo, e tu fica aí rindo da minha fuça!? Perdeu a noção?!

- Calma, calma, chefia! Eu tava rindo do Sandro, nunca ia rir de tu, jamais! Papo é reto, pô!

Quase num efeito dominó, TH também riu da sequência de esporros e acabou sendo o próximo na linha de reclamações.

- E tu, TH, tá rindo de que também!? – o capoeirista segurou o vapor pela gola da roupa protegida, olhou nos cornos dele e quase cuspiu as palavras. – Botei um colete de fibra de carbono em tu, botei parafal e granada na tua mão, mas mesmo assim tu nunca viu um viado rebolando no baile!? Abre teu olho, doidão!

- Não vai acontecer mais, chefe! Que isso!

- Não vai, não?! – o negão botou pressão na fala e insistiu.

- Não, chefe!

- NÃO MESMO?!

- NÃO, CHEFE!

- PROMETE?!

- PROMETO, CHEFE! MÁXIMO RESPEITO!

- Acho bom mesmo! Tô gostando de ver a educação que eu dei. Já falei que ou abraça o papo ou o papo abraça vocês, num já?

- Já, chefe! – todos responderam juntos.

Só então um Pequeno bêbado e drogado voltou a rir e dançar, finalmente deixando os três homens aliviados pelo excesso de truculência com o qual vinha se comportando há algum tempo. Sem parar de observar o marginal balançando e se divertindo com a cara deles, o trio permaneceu em silêncio, retomando seu estado natural de vigilância e de segurança do dono do Paraíso. Até que, sem mais nem menos, Abner voltou pra perto dos marmanjos e dançou ali de propósito, olhando pra cara de cada um dos machos desajeitados, que ficaram literalmente sem saber o que fazer. TH tratou de buscar mais bebida e drogas pros amigos, Sandro saiu dali e foi pro canto enrolar um balão, enquanto apenas Erick permaneceu ali de pé, observando o chefe jogando a raba de um lado pro outro.

- E tu, tá olhando o que, doidão?

- Nada, chefia. Tô só te analisando...

- Me analisando? E eu preciso de analista?

Pequeno parou na frente de CK, alisou seu rosto e, provocativo, mexeu com o dedo sem seus lábios grossos, como se quisesse testar até onde iria a paciência e a resistência do capanga. Entre os risos e na maior intimidade com o patrão, o malandro não se deixou abalar e permitiu que Abner fizesse o que bem entendesse. O capoeirista foi chegando perto, mas tão perto, que encostou de leve no volume da rola do Erick. Aí, sem mais nem menos, passou o dedo pelo elástico do short do traficante, afastou a roupa e manjou lá dentro, na maior cara de pau, fazendo CK cair na risada de vez.

- Tu tá sem cueca, doidão? – Pequeno quis saber.

- Tô, chefe. Tô do jeito que tu gosta!

- Ah, é?

- É! – o salafrário respondeu todo entregue, nem aí pra quem fosse ver o que tava rolando.

- Então vem dançar comigo. – Abner provocou e o puxou pela ponta do dedo. – Tem coragem pra dançar com o dono do morro, doidão?

- Coragem pra dançar contigo, chefinho? Tá me gastando?

CK esqueceu do mundo e foi pra trás do negão, entrando no ritmo da dança junto com ele. Essa foi a cena que impactou muita gente no baile, o vislumbre de dois machos dançando funk quase que colados, um rebolando a bunda e outro posicionado atrás, ambos completamente à vontade. Os dois armados, com radinhos na cintura, armas na cinta e um deles com o fuzil preso nas costas, porém nada foi capaz de impedir o momento de acontecer.

- “E ela vem sacolejando a raba na frente do seu neném. Quer botadona braba? Isso eu vou te dar também.” ­ – a música alta seguiu explodindo nas caixas de som emparelhadas no paredão da quadra. – “Só botadona, meu bem! Só botadona, meu bem!”

Os raios de sol finalmente começando a banhar todos os moradores do Complexo do Céu na Terra em luz matinal. Os movimentos de rebolada mexeram e remexeram com o volume sem cueca de Erick. Pequeno mexia a bunda e fazia o lombo descer e subir, encaixando exatamente na peça do outro marginal. Dava pra senti-lo cada vez mais galudo por baixo das roupas, com fome, perdido entre dançar com o chefe e ensaiar como seria enrabá-lo. Um se amassando no outro e nenhum sinal qualquer de que parariam o que estavam fazendo no meio do baile, sem medo de mergulharem de cabeça.

- “Bota, bota, bota, bota aqui. Bota, bota, bota, bota tudo em mim! Bota, bota, bota, bota aqui. Bota, bota, bota, bota tudo mim! Bota, bota, bota! Bota, bota, bota!”

Dois machos conectados pelos movimentos da traseira de um na virilha de outro. Corajoso, o cafuçu malandro aproveitou a dança sinuosa e o contato íntimo imediato com o patrão e desceu as mãos pelas costas dele, chegando até as ancas, onde se segurou e tomou ainda mais ângulo pra aplicar pressão naquele roça-roça. CK ficou literalmente montado na raba do negão, o travando pela cintura e sentindo cada rebolada que Pequeno dava contra ele.

- Pelo visto tu tá gostando bastante da dança, né, pivete?

- Gostando?! Porra, chefinho, eu tô é perdendo a cabeça contigo, isso sim! SSsS! Ah, se tu soubesse o que eu quero fazer e não posso...

O pilantra não tinha como ser mais sincero.

- Tá perdendo o respeito comigo, doidão?!

- Tô te passando a visão no máximo respeito, morô, chefia? – CK respondeu por trás do ouvido do capoeirista, sem parar um só segundo de dançar e de remexer deliciosamente junto dele. – Não consigo ficar mais um minuto do teu lado sem querer foder contigo, papo retão! Se quiser me dar um tiro por causa disso, eu tomo até dois, três, viro queijo suíço na tua mão, chefinho. Mas não tem como fugir desse tesão, não, tá ligado?

Parecia um cachorrão babando por cima da carne, doido pra avançar e finalmente comer, até encher o bucho e se sentir saciado. Em cada imprensada que Erick dava com o quadril estancado agressivamente entre as nádegas do parceiro, ele sentia a raba sacolejando em sua vara e ficava ainda mais encaralhado, doido pra cruzar ali mesmo, no meio do baile funk lotado. Era quase um Drake na Rihanna.

- Cuidado com o que tu tá me dizendo, doidão!

- Cuidado é o caralho, chefe! Já tô cansado de fingir que meu pau não sobe firme toda vez que te vejo de rolé pela favela. Eu quero foder contigo, quero te sentir por dentro. Qual vai ser? Bora fudê, vamo? Hmmfff!

Era a matemática perfeita entre uma dança sensual, um momento sexual e a intimidade flamejante que aqueles dois machos em ebulição possuíam. Não havia como negar a sinergia entre eles. Usando as mãos presas na cintura do dono do morro, CK fez pressão e deixou a pilastra meia bomba cantar na traseira de Abner, ao mesmo tempo em que remexeu o quadril, as coxas e dançou encaixado.

- Tá perdendo a noção, doidão? Te orienta, Erick!

- Já tô perdendo a noção há mó tempão, já, chefia! Bora fudê, bora? Bora sacudir um barraco, fazer logo dois, três moleque junto? Não aguento mais, Pequeno, puta que pariu! SSsS!

Ao redor deles, os outros traficantes e vapores do Morro do Paraíso viram o momento entre os dois e só ficaram rindo, cada um na sua. Música alta, vários homens espalhando lança perfume no ar e deixando o ambiente com o mesmo clima, o mesmo cheiro forte de putaria. CK terminou a noite dando mordidas e lambidas na nuca do dono do Paraíso, tudo isso enquanto dançaram e quase se comeram ao vivo no baile. Bêbados, drogados, entretidos, aliviados da sobrevivência no Complexo do Céu na Terra. Entregues. Toda comemoração era pouca pro aniversário de Abner Pequeno. Nem mesmo abrir a mochila do corre e jogar dinheiro pro alto ajudou a dar conta de toda a energia e diversão naquele amanhecer acelerado no Morro do Paraíso.

            A tarde do dia seguinte foi basicamente de ressaca. Quase todos os estabelecimentos da favela abriram tarde, com algumas ruelas ainda tendo copos jogados pelo chão, bebuns caídos por cima de mesas de pracinha, alguns cães devorando restos de podrão e vários viciados em pó andando aleatoriamente na comunidade. Tudo estava em silêncio, desde a manhã agitada, pós véspera de aniversário do gerente da boca, até o começo da noite do dia seguinte. Ninguém esperou que a pré-comemoração de Abner fosse ter as proporções que teve. No entanto, o que ninguém realmente imaginou foi que o inferno estava pairando sobre o Paraíso, à espreita pra fazer chover fogo. Na madrugada, quando a maior parte dos moradores foi dormir e pouca gente circulava pelas ruelas da comunidade, Pequeno fez seu movimento.

- “Coé, contenção?” – um dos meliantes que ficava na entrada da favela, de olho na movimentação de pessoas, acionou outro cara pelo radinho. – “Tem alguém lá fazendo a cobertura no barraco do chefe?”

Acompanhado de apenas um vapor na boca de fumo, quem recebeu o chamado do parceiro foi o cafuçu malandro número um de Abner, Erick CK. Sentado no balcão e olhando pra ruela vazia, CK puxou fumaça de um baseado e respondeu com a voz carregada.

- Não, tem ninguém lá, não. Tu conhece o Pequeno, ele não gosta de ser incomodado fora da boca, por isso não quer ninguém lá perto do barraco. Por que, qual foi?

- “Não, é que parece que alguém acabou de sair de lá. Vocês conseguem ver daí?”

Ouvindo isso, o cafução se pôs imediatamente de pé, curioso por quem poderia ser.

- Alguém saiu do barraco do Pequeno!? À essa hora!?

- “É. Morador aqui me passou a visão, por isso que tô perguntando.”

Preparado pra fazer alguma coisa, o malandro já foi acionando TH e Sandro no radinho e tratando de posicioná-los para qualquer eventualidade possível de acontecer. Com o trio formado na boca de fumo, eles decidiram ir até o barraco do chefe do morro, mesmo sabendo que Abner detestava receber visitas fora do horário. Quando se prepararam pra ir pra rua, foi nesse instante que os portões do inferno se abriram diante deles. Ou melhor, foram abertos.

- O que é... – TH, o entregador, foi o primeiro a perceber e até apontou na direção do que viu. – Puta que pariu...

- Meu Deus...

- Eita, porra! Vai babar.

Andando no sentido oposto ao deles na ruela, eis que a figura inusitada foi subindo e se fazendo presente na boca de fumo. Parecia até um imperador, um rei envolto num roupão bastante aconchegante, feito na cor vermelha por dentro e branca por fora, com direito a golas felpudas, típicas de uma realeza. Sim, era a majestade de todos aqueles homens do Morro do Paraíso. Abner Pequeno fez um precioso contraste entre sua pele escura e a tonalidade clara do roupão, tudo isso sendo banhado pela luz lunar da madrugada, em frente à boca de fumo da comunidade. Parados, Sandro, TH e CK não souberam o que dizer, completamente secos e sem palavras diante do chefe naquele visual totalmente inesperado.

- Ontem lá no baile vocês tavam decidindo, né? Eu escutei. – o negão fez a pergunta, mostrou as duas pistoladas forjadas em ouro puro, cada uma numa mão, e deu um risinho carregado de luxúria. – Tavam decidindo quem ia ser o primeiro a enrabar o chefe, não era isso?

O trio não teve reação. TH até chegou a encarar Sandro, lembrando que foi ele quem havia feito esse comentário na madrugada anterior, mas agora já era tarde. O inferno já estava com os portões abertos bem diante dos três, Pequeno jamais voltaria atrás na decisão tomada. Sem mais, o chefe do Morro do Paraíso parou na frente da mesa repleta de entorpecentes, abriu o roupão no meio e exibiu o corpaço completamente nu, vestido tão somente numa cueca estilo jockstrap, que deixou as coxas de capoeirista, as ancas firmes e a raba avantajada de fora.

- Agora eu que pergunto. Quem vai ser o primeiro a enrabar o chefe?

Pausa. E mais uma pausa. E outra pausa, porque não teve como prosseguir com o raciocínio a partir daquele ponto. Aquela dali foi a mudança de ventos do Morro do Paraíso, literalmente. Até as correntes de ar cessaram brevemente, só pra ver o show que estava prestes a acontecer nos portões do verdadeiro inferno. Abner empinou o corpo de lado, deixou o roupão deslizar na pele e desnudar completamente o físico crescido, forte, totalmente recheado. A traseira se tornou ainda maior, contida nos elásticos da cueca jockstrap.

- Caralho, ch-chefe! Tipo... – Sandro se perdeu na visão das coxas grossas. – Caralho, mermão!

- É hoje, Erick! – TH avisou e cutucou o amigo.

Mudo, CK não deu conta de processar tanta informação, se mostrando incapaz de corresponder à presença onipotente do chefe seminu diante de si.

- Puta que pariu, chefia! Isso é o que!? Vai sentar pros traficante, filho da puta? HAHAHAHAUAHA! – o cafuçu malandro debochou, deu a primeira apertada no caralho faminto por cima da roupa e esfregou as mãos, se preparando pra comer BEM.

- Bem que tu queria, né, doidão?! Hehehehe! Vocês vão comer traficante no lanche de hoje! – Pequeno apontou pra porta do barraco lateral à boca e deu a ordem. – Abre esse setor aí, que a gente vai dar uma gastada. Vamo fazer um rodízio pra geral aqui sair rindo e ainda fazer o outro rir.

Ordem dada foi ordem cumprida. Em menos de um minuto, lá estavam os três sentados num sofazinho velho, num barraco abandonado e deixado ainda nos tijolos e cimento. Eram os crias da boca de fumo, a verdadeira roda de traficantes do Morro do Paraíso, reunidos em volta do mesmo chefe, da mesma pessoa seminua. O trio admirava aquele rabão como se analisasse carne num açougue, mas, na realidade, era Abner quem os manjava naquele momento e se preparava para a carnificina.

- Quem vai ser o primeiro? – o capoeirista perguntou.

E, não mais que de repente, um Erick incapaz de conter a própria excitação acabou ficando de pé na frente do sofá, do nada, bem rápido, primeiro que os outros amigos. A perna mexendo nervosamente, o suor escorrendo no meio do peitoral desenvolvido e descendo até os pelos abaixo do umbigo, de tão aflito por aquele momento. A fome do malandro era grande, ninguém mais do que o cafuçu sabia bem disso, por essa razão existia tamanha tensão sexual explodindo em seu corpo bruto.

- Eu, chefe. – falou baixo, certo de tudo.

- Que surpresa, ein? Hehhehehe...

O volume da estaca logo ficou desenhado no tecido fino do short, ele não teve como segurar tanto tesão. Sem pensar duas vezes, Pequeno passou o braço no pescoço do capanga, puxou ele pra si e as bocas se encontraram em ritmo acelerado, com os rostos já se movendo em sentidos opostos e tornando o encaixe uma dança perfeita. CK estava como sempre esteve, sem blusa, só com short caindo na cintura e a estampa da cueca boxer dando palinha. Conforme o beijo explodiu, seu cheiro de perfume de malandro foi preenchendo Abner cada vez mais, transformando o barraco numa verdadeira arena para o duelo daquelas línguas. Ao mesmo tempo que isso aconteceu, o dono do morro também tratou de puxar TH pelo braço e posicioná-lo exatamente atrás de si, fazendo daquela pegação um verdadeiro sanduíche, com o negão no meio, um macho beijando na frente e o outro roçando por trás.

- Gosta de sentir uma pica sarrando na portinha do teu rabo assim, chefia? Gosta? SSsS! Já pensou quando eu te sentir por dentro e te deixar todo marcado, ein? Hmmmff, hehehehe!

TH, que normalmente era o responsável pelas entregas de moto na favela, também não conteve o tesão e sussurrou bem marginalmente por trás da orelha do chefe. Enquanto CK era alto, moreno e ostentava um cavanhaque de cafajeste no rosto bruto, TH era um entregador de pele mais escura, tatuada, e fazia o estilo magro, do bigodinho fino e loiro, o cabelo batido e disfarçado na máquina curta. Relojão no pulso, cordão no pescoço. Já tinha comido mais de não sei quantas piranhas na época que morava no Amarelinho e agora tava ali, sugerindo obscenidades ao pé do ouvido do dono do Morro do Paraíso.

- O primeiro a me deixar marcado vai perder a piroca no cano da minha pistola! – Pequeno parou de trocar linguadas com CK só pra responder, fazendo todo mundo rir. – Tenta a sorte, doidão, pra tu ver no que vai dar? Hehehee!

Enquanto os três se pegavam e entravam em sinergia, Sandro permaneceu ali sem saber o que fazer, onde exatamente entrar e como participar, então optou por enrolar um baseado, enquanto observava os dois amigos se envolvendo com Abner. Alessandro, também conhecido por Sandrinho, era um cara moreno, da pele em tom marrom, os braços grossos, ombros esféricos, destacados do corpo, e o físico parrudo, com uma leve pança protuberante. Careca, dos sovacos peludos e ostentando as entradinhas do oblíquo, convidando pra ver o que existia dentro do calção. Pernas peludas, rígidas e levemente arqueadas, os pezões enormes, mas nada do cara tomar qualquer atitude, ele simplesmente ficou olhando. Enrolando um baseado e olhando a cena.

- Vai ficar aí só de neurose, Sandro? – Pequeno provocou. – Tá com medo, é? Hehehehe!

- Cai logo pra treta, paizão! – CK concordou.

- Vem, cria!

Mas o coitado do Alessandro não se moveu, só acendeu o baseado e deu a primeira tragada, olhando bastante curioso pros movimentos sexuais dos parceiros. A paciência do dono do morro acabou, Abner simplesmente puxou o macho parrudo pelo braço e o colocou de joelhos à sua frente. Puxou o elástico da jockstrap de lado, virou de costas e enfiou o rabão na cara do marmanjo.

- Chupa esse cu, chupa?! SSSS, isso, seu puto! Cai de boca no cuzão do teu chefe, vai? HHmffFF, pilantra!

Todo pedido era uma ordem, por isso o traficante deu a cutucar a língua quente e massuda no meio do anel de pele do patrão, todo suado e cheio de pelos curtos em volta. Escuro por natureza, apertadinho e rosado por dentro, características que deixaram todos ali muito excitados. Enquanto Pequeno não parou de apertar o crânio de Sandro contra sua bunda, Erick começou a se masturbar por cima da roupa, enquanto TH ficou apertando o caralho no jeans surrado, mostrando seu semblante genuíno de macho faminto de cu.

- Dá uma pegada aqui pra tu ver como eu fico galudão num cuzinho, chefe? – pegou a mão do capoeirista e apertou no próprio malote ereto, depois ainda passou a roçar na lateral da coxa dele. – Seu filho da puta, eu tava ligado que teu bagulho era piroca, putinho! SsS! Tá rabudo que nem as piranha do pornô, sua cadela!

Sem medo, o chefe do Paraíso recebeu a sarrada pesada da piroca latejando em sua perna, mas teve que apontar a pistola dourada no queixo do capanga e corrigi-lo, ao mesmo tempo em que continuou forçando o cunete do Sandro com a outra mão.

- Quem tu tá chamando de filho da puta e de cadela, doidão?! Perdeu a noção?! – aí sentiu a linguada ferroando a lomba. – SSsSS! Isso, Sandro! Filho da puta, mané! AafFff!

Tesão, violência, marginalidade, excitação entre machos, tudo acontecendo no mesmo barraco, no mesmo setorzinho dos crias da boca de fumo. Só roça-roça, só trocação e cunetada rolando solta, com um Sandrinho cada vez mais suado e perdido nas linguadas certeiras no cuzinho latejante do dono do morro. As mãos tentando separar as nádegas escuras de Abner, a boca aberta e a língua conectada às entranhas do negão.

- SSSsS! Até que tu chupa bem um cu, seu puto! Soca a língua, vai? Satisfaz teu chefe. HHmmFFF!

Ao mesmo tempo que pediu isso, Pequeno chegou o corpo pra frente a meteu a cara na rola inchada de CK, por cima da roupa mesmo, deixando o cafução tirado a malandro todo instigado e de pau na mão. Sem nem pensar duas vezes, ele abaixou o short do capanga, deixou a caralha respirar e ficou admirando o tamanho do taco do marginal, analisando a quantidade de pentelhos e também o delicioso cheiro de macharia que exalou no ambiente. Rola preta, grossa e veiúda, comprida e bem bonita, com a cabeça bem feita e destacada do corpo engessado, repleto de veias e terminações nervosas.

- Qual vai ser, chefia? Vai dar aquela calibrada gostosa na minha peça?

Erick perguntou quase sussurrando, sério, olhando pra baixo e vendo os olhos negros do patrão olhando pra si. Nem precisou de resposta. Lentamente, Abner só abriu a boca, agasalhou a pilastra envergada e parou apenas quando sentiu o cabeçote inchado cutucando o fundo da goela. De pé, CK torceu os dedos dos pés, sentiu um arrepio dominando seu corpo e olhou pro alto, pro teto do barraco, numa reação involuntária de quem tava sentindo muito tesão.

- ORrrsSSS! FFfFF! Carai, chefinho! Hmmfff...

Simultaneamente, Sandro não parou de devorar, cuspir, linguar, morder, lamber, chupar, mordiscar, puxar, dedar, fazer de tudo com a auréola elástica que era o cuzinho escuro e rosadinho do Pequeno. Boquete, cunete, cucetete, tudo rolando ao mesmo tempo, no maior entrosamento, na maior troca de suor, de fluídos e de testosterona entre os quatro machos suados, salgados e marginais. Latejando de tesão, TH arriou o zíper da bermuda e liberou o caralhoso grande, preto, tortão, boludo, pesado e sacudo, que facilmente se destacou do restante dos outros caralhos ali presentes.

- Abre a boquinha pro pai, vai? – o entregador provocou, sabendo que o chefe não era de acatar ordens. – Todo mundo na favela tá ligado que tu curte pica, chefia, agora não adianta fazer cu doce. Até porque, o tempo passa, mas meu pau continua não sendo diabético, não, viado! Tu tá é fodido na minha mão! Hehehehehe!

Levando linguada no meio do alvo do cuzinho, Pequeno parou de boquetar CK e ficou admirando aquela estaca de pica envernizada balançando sozinha no ar, pedindo atenção e agasalho da garganta quente de novo. O cafução malandro ainda estava arrepiado, suando frio e delirando no tato incandescente da língua do patrão, tanto é que levou alguns segundos até se dar conta de que Abner havia parado de chupar. O dono do Paraíso fez isso pra olhar na cara de TH e responde-lo.

- Tu tá pensando que eu sou as piranhas do Complexo, que tu come e usa, moleque?

Mandou a pergunta e engoliu o meio metro de tronco escuro e massudo no fundo da goela, deixando o marginal arrepiado de prazer, que nem CK ficou no começo. Os pelos do físico mavambo e definido do entregador logo se ouriçaram, conforme a garganta macia, aconchegante e muito convidativa do negão capoeirista comportou sua pilastra massiva

- ORrrSSSS! FffFf, caralho de boca quente! SSS!

Vendo a cena, Erick aproveitou e começou a implicar com o amigo do corre.

- Ué, TH? Pelo visto o tempo passa e tu não muda, né? Não tava querendo me gastar outro dia, comédia?! Agora tá ganhando mamada? UAHUAHUA!

- Ih, qual foi?! Se manca, tô só de onda, pô!

- De onda?! Duvido! Até parece que eu não tô ligado na tua, isso sim! Hehehe!

Os dois parceiros trocando zoações e revezando o mesmo crânio, a mesma boca, as mesmas amídalas, língua e boca faminta. A saliva de Pequeno se misturava com a pré porra que saía da caralha de um e depois ia parar na rola do outro, ao ponto de vira e mexe as cabeças se encontrarem dentro do mesmo ambiente bucal de Abner e até se tocarem, roçarem firme uma na outra. Duas picas massivas e juntas na mesma boca, enquanto Sandro suava e quase desmaiava na deglutição do cuzinho do dono do morro. Um Complexo do Céu na Terra padecendo nas deliciosas chamas do inferno carioca.

- OrrrFFFfF! Puta que pariu, chefe! Tu é bom no que faz, ein? Porra!

- Boquete de marginal é brabo, né, TH? – Abner parou a mamada só pra bater com a caralha grossa contra o rosto e lambê-la. – Será que preenche minha boca toda?

Ouvindo isso, o morenão não teve como não latejar e socar mais trolha no fundo da goela do dono da favela, diretamente no meio da garganta, fazendo de tudo pra tentar engasga-lo na marra. Mas ele não conseguiu nem chegar perto de fazer o patrão tossir, mesmo sendo bem dotado, e isso foi deixando TH visivelmente nervoso, acelerado, cada vez mais suado.

- SSsSS, orrsSsS! Profissional mesmo, ein, chefinho? Puta merda, fffff...

Gemeu sincero, quis dar tapas no patrão, mas se controlou, desfrutando das escorregadas do cabeçote inchado mergulhando na goela do marginal. Ao mesmo tempo, Sandro não parou de brincar de friccionar o dedo na porta do cu exposto de Abner, que passou a rebolar e a gemer na sensação do toque bruto do parrudo abrindo seu tato. Dois dedos quentes e babados já atolados até o fundo do rabo.

- Isso, putinho! Passa vontade não, pode engolir mais, que eu sei que tu aguenta, chefinho! SsSSS! Tu tem mó cara de piranho, eu tava ligado na tua! OrrSS!

- Eu sou piranho sim, doidão, e do pior tipo, tu não tem noção! – Pequeno deu a resposta e largou um tapa em cheio na cara do meliante, de propósito. – Isso, seu filho da puta! Me engasga que nem homem, porra!

O dono da favela segurou o talo grosso de caralho babado na mão, arregaçou o prepúcio espesso e emborrachado e deixou o cheiro de pica tomar conta do ambiente. Em seguida, Abner mandou brasa, caiu de boca e encheu as bochechas com o gosto salgado e quente da pica. Quase lacrimejou de nervoso, mas não tossiu, e essa maestria fez TH quase explodir no orgasmo ali mesmo, de tão à flor da pele que ficou.

- AAAfff, que filho da puta, mané! SsSS! Engolindo tudinho no talento, caralho...

- Não foi o que tu pediu, doidão?

- OrrSssS!

Na ponta dos pés, com a pistola na cintura e o boné pra trás, TH fez pressão com a cintura no rosto do capoeirista e tomou mais tapas na cara por esse abuso, sendo a todo momento instigado e provocado pelo negão especialista em mamada. Dominador e agressivo, Pequeno enfiou dois dedos na goela do marmanjo, ao mesmo tempo em que era alargado nos dedos de Sandro, massageava as bolas de CK e agasalhava a caceta preta de TH nas amídalas. Essa cena modificou a visão que cada um dos três machos possuía do patrão.

- Tira a mãozinha, tira, chefinho? – Erick pediu com um falso carinho, alisando o rosto de Abner e balançando a chapoca na frente dele. – Me mama na melhor forma, vai? FfffFf!

Ele olhava pra baixo e via a pistola sendo deglutida quase que junto do mastro inchado do parceiro TH, ao mesmo tempo em que Sandro não parava de cutucar e futucar o cuzinho dilatado e mordido do chefe do morro, tendo sua cabeça pressionada insistentemente contra o rabão suado e arreganhado em sua fuça. Nada de parar de dedar, de chupar e de massagear aquele anelzinho, na base da língua e também dos dedos. A boca do careca parrudo já estava lotada do gosto do suor de Abner, fazendo a piroca despontar ferozmente debaixo da roupa surrada. O marmanjo ficou tinindo de tesão, sem jeito de falar e até sem saber como se comportar, devido ao falo majestoso e gordo chamando atenção no volume entre as pernas. Pra completar, mesmo após ter preparado o chefe, Sandrinho permaneceu com o cheiro da curra permeando os dedos e os beiços, ficando num estado quase que permanente de ereção.

- Vou te dar o papo, chefia? Bagulho é tacar pica nesse teu rabo, tá ligado? Hehehehehe! Fala tu, CKzão? Cu é cu, né não, meu parceiro? Tem diferença nenhuma não! Hehehehe! – TH instigou e foi se fazendo no calor do momento.

- E quem é que vai me comer? Tu?

- Tá pensando que eu não te passo a vara, não, chefia?! Hehehheeh!

Mal o entregador disse isso, já foi descendo a mão nas costas do patrão e chegando na raba avantajada, procurando pelo cuzinho explorado na boca e nos dedos de Sandro. O parrudo caralhudo, por sua vez, permaneceu preso no estado de ereção, de pau duraço no calção, por conta do cunete agressivo que teve que pagar. Ele sabia que aquela cuceta só seria facilmente preenchida graças ao seu esforço bucal em alargá-la.

- Preparou essa rabiola do jeitinho que eu gosto, Sandrinho? – TH continuou instigando, enquanto apertava o lombo de Abner e ria. – É hoje que eu vou lanchar uma bunda! Hehehehe! Não vô não, chefia?

- Só dois dedos, que é pra não ficar muito larguinha. – Alessandro respondeu, apertando a bengala bruta por cima da roupa. – Nada mais gostoso do que uma cucetinha apertada de fábrica, né não? Hehehehee!

- Porra, então já tá no ponto! Arrebita o cuzão pra mim, chefinho.

- E tu acha que dá dentro comigo, doidão? – Pequeno não deixou barato. – Já falei pra tu não me confundir com as piranha do morro, num já, TH?

- Ué, e tu acha que eu não te como, não, Pequeno? – o entregador não resistiu e já foi tomando posição.

- Comer, qualquer um acha que come, doidão. Mas e me botar pra gemer, tu acha que consegue?

O chefe da boca deu um tapão na própria bunda empinada, bem rígida e dura, e provocou o traficante entregador.

- Então vem na minha direção, maluco! – deu o ultimato. – Brota no meu barraco, que essa eu quero ver.

O capoeirista abriu os portões do inferno: ficou de quatro no sofazinho, arreganhou as nádegas e mostrou a dimensão minúscula daquele anel escuro por fora, rosado por dentro e cheio de pelinhos curtos ao redor das pregas, perfeitos pra pinicarem o saco quando o caralho entrasse completamente no buraco. Vendo isso, Sandro e CK não tiveram reação. TH, por sua vez, não quis perder tempo e desejou se impor de alguma forma, então trocou de posição, passou a verga grossa pro lado de fora da roupa e se posicionou exatamente na traseira macia do chefe, pronto pra mergulhar no fundo do rabo arreganhado diante de si.

- Teu pedido é uma ordem, chefia. – o entregador avisou.

Com Sandrinho tendo pré trabalhado a língua e os dedos naquela rabeta, o traficante TH esfregou a chapoca inchada do vergalhão contra o anelzinho tímido e todo babado, fez um pouco de pressão e foi escorregando pra dentro sem dificuldades, desfrutando do caloroso atrito inicial entre a vara robusta e as paredes do cu apertado e quentinho do patrão.

- FFFfssss, caralho! – as mãos fechadas em forma de soco por cima do lombo, as coxas se conectando integralmente à traseira das pernas do negão e a respiração do macho entregador já ficando ofegante, tamanha pressão inicial da penetração marginal. – É disso aqui que tu gosta, é, ladrão?! OrrrFFF!

De quatro, arrebitado e completamente arreganhado, Pequeno permaneceu mudo, sem dizer absolutamente nada. Mas sentir ele sentiu, porque o calor e a ardência do início da cruza o fizeram arquear e soltar as costas lentamente, ao mesmo tempo em que as pregas e o esfíncter se alargaram pra permitir a locomotiva de caralho do TH dentro do ânus. Foi delicioso, mas Abner não gemeria tão facilmente, só de implicância com seu segurança.

- Caralho, SSSS! Que cuzinho guloso, chefia, já me engoliu todinho, ó? – o pilantra olhou pra baixo e viu a marreta sendo devorada no meio do anel elástico e cheio de pressão. – ArffsSS, tu vê que esse cuzinho é certinho pra tomar vara, ó só? Tem até apoio pro saco, fffff!

- MMfff... – o dono do Paraíso quase soltou o gemido, mas se concentrou, relaxou e não deu o braço a torcer, nem o cu.

Mal entrou, TH já foi saindo e entrando outra vez, sem dar pausa, no pelo e na pele. Botou uma das pernas por cima do sofá e foi metendo firme, acelerando sem dó. O barulho do choque dos corpos foi crescendo e dominando os ouvidos de todos naquele barraco. A sensação de ser tomado por dentro explodiu junto com a onda de prazer pela presença da caralha entrando e saindo, mas Abner não liberou qualquer gemido, nem mesmo quando o macho fodelão ficou na posição da rã por cima dele.

- OArrrsss! Caralho, chefia!? FFFFFF!

Só socadão de quatro no fundo do cuzinho, os outros machos ali perto, olhando tudo, e o capoeirista se concentrando em levar pica sem gemer. Foi aí que, cheio de tesão e batido pelo cabeçote por dentro, Pequeno simplesmente começou a rir, numa evidente demonstração de deboche às estocadas de TH. Vendo essa cena, o entregador caralhudo não teve como não ficar ainda mais empedrecido dentro daquele cuzinho tão macio, tão quente e apertado como o do dono do morro. Pareceu uma marreta dando bigornadas quentes contra as entranhas aconchegantes do traficante, sentindo as vilosidades massageando o mastro veiúdo, ao mesmo tempo em que extraviava e alargava o anel elástico no bruto.

- Soca fundo no cu dele, soca?! Soca essa piroca toda bem no fundo do olho do cu desse filho da puta, pra ele tomar no cuzinho e rir ao mesmo tempo!

Um Sandro descontrolado e tarado fez o pedido, não conseguindo apenas observar. Depois de dizer isso, o parrudo cacetudo parou na frente de Abner tomando no rabo na poltrona, chegou o corpo pra frente e começou a esfregar a pentelhada suada e cheia, com cheiro de macho do corre, bem nas narinas do dono do morro.

- Coé, chefinho, sente só o cheiro desse bifão de pica aqui, ó? A minha é mais cheirosa, saca o cheirão de cria? Hehehehehe! Tô ligado que tu se amarra, né?

Sendo amassado por trás, Pequeno abriu a boca e tentou mordiscar toda a grossura da pilastra do Alessandro, mas não conseguiu, de tão obesa aquela massa avantajada de caralho. O maxilar chegou a ficar dormente, por conta das tentativas de fazer jus e amassar a caceta na boca, pra não falar do cheiro forte de suor, testosterona e tesão, exalando dos pentelhos do marginal.

- Qual foi, tão achando que isso aqui é bagunça, é, seus puto?! SsSSS!

- Tá sentindo eu te bagunçando por dentro, tá, chefinho? – prendendo o negão pelos ombros, TH só deixou o corpo soltar e cantar insistentemente contra a traseira, extraindo o máximo do barulho das sacadas na porta do cu. – Tá do jeito que tu se amarra, tá? FFFfF, filho da puta, mané!

Vendo a cena, CK e Sandro não sabiam se sentiam prazer ou nervoso, de tão aficionados pela extensão da estaca sumindo com facilidade no botãozinho escuro e rosado do patrão. Era literalmente a cuceta mastigando toda a peça de calabresa, centímetro por centímetro, polegada por polegada de pica, tudo de uma vez. Indo e vindo no fundo, ao ponto das bolas baterem na portinha e ricochetearem por dentro do saco, agitando todo o sistema sexual da conexão entre aqueles machos suados, marrentos e esbaforidos por sodomia.

- Achou que ia ficar com essa raba pra cima e pra baixo na favela sem entrar em vara, chefia? SSsSS! Hoje tu vai perder a rabiola na minha pistola, tá escutando?! – solto, TH deixou o fogo explodir e aplicou a primeira e última tapa forte na lateral do lombo do negão, sem pena de marca-lo. – OrrrFFF, mastiga minha pica toda com esse xerecu, mastiga? FFF!

Sentindo a quentura das mãos do marginal impressas em sua carne, Abner revidou com um tapa no meio do peitoral do entregador caralhudo, agarrando-o pelo cordão de ouro e o segurando firme, bem brusco. Em seguida, Pequeno jogou o marmanjo no sofá, de pau pra cima, e já foi sentando com gosto naquele mármore de caceta, pronto pra mostrar ao safado do que era feito.

- No meu barraco quem manda sou eu, doidão! Tu quer me botar pra gemer? Então já é, agora tu vai me dar prazer e me botar pra gemer até o fim! HmmmSS!

Deu um tapa na cara do comilão e ficou apertando o rosto dele, querendo ver TH cara a cara, sem deixar o entregador caralhudo apertá-lo ou batê-lo, apenas comê-lo. Quicando com gosto, rebolando, mexendo e remexendo, Abner fez força e deixou o marginal louco, pronto pra levantar voo da poltrona. O puto chegou a se prender com as mãos firmes nos braços do sofazinho, tentando manter os pés fixos no chão, todo contorcido, segurando pra não delirar no atrito do cu apertado, quente e macio do capoeirista.

- AAinhn, FFF! Agora sim, porra!

- OrrrFFF! Caraio, chefia...

O dono do Paraíso rebolando, cavalgando e deixando todo o ânus encapar a integridade massiva da lapa de caralho que TH possuía entre as pernas. As bolas do safado sacudiam que nem pingue-pongue, de tão agitadas e saltadas nos impactos entre cu e pica. O cheiro do baseado subiu e, diante de si, Pequeno sentou na piroca e viu Sandro fumando e botando a vara gorda pra fora do short.

- Ainda não tá de boca aberta, chefinho? Hehehehe!

Apontou a saída da uretra na direção dos lábios do patrão, arrastou a cabeça escura do picão gordo na boca dele e teve a passagem concedida, escorregando pela parte áspera da língua e caindo lá no fundo da garganta facilmente.

- HHHmSSS!

- OrrrFFFF! Isso, soca, filho da puta! – Abner não se conteve, cavalgando com força e dando conta de engolir a viga obesa do parrudo à sua frente. – GGMhhSS!

- Fffff, isso, caralho! Chupa esse piru todinho, vai, chefinho? Que nem tu tava fazendo minutos atr... Porra! OrrrSSSS!

Ele nem precisou finalizar o pedido, pois logo o cabeçote inchadaço da bengala se perdeu no fim da goela do negão, loteando Pequeno de uma ponta à outra. Dois movimentos distintos acontecendo em sentidos opostos dentro de seu corpo, dois machos mandando ver e ele se saciando no máximo da luxúria carnal, preenchido fisicamente por duas forças masculinas completamente diferenciadas. TH fincando a estaca no cu por baixo, Alessandro pescando com a rola por cima e revezando a boca do patrão com um Erick cada vez mais excitado.

- SSSS! Tá querendo me apaixonar, chefinho? – Sandro gostava de botar pra mamar e instigar com palavras, verdadeiro putão tarado. – Assim eu só vou meter o pé quando teu queixo já tiver dormente de tanta bolada e com o cheiro do meu saco, seu puto! HHmmFFFF! Isso, engole a bola, vai?

Cheiro forte de maconha, o parrudo com os braços pra trás, meio que em pose de sentido, e só desfrutando da boca de veludo patrocinando a mais profunda mamada que já havia recebido na vida. De tão excitado, seu cheiro de macho putão, salafrário e marginal tomou conta do boquete, deixando tanto Pequeno quanto o próprio Sandrinho arrepiados. Na boca do traficante, o baseado aceso e ele ficando na onda da maconha enquanto ganhava um boquetão profissional, com direito as bolas sendo atenciosamente massageadas pelas mãos do dono do morro. Enquanto isso, TH se fartando de meter.

- FFffff, será que tu consegue fumar o baseado e chupar minha vara ao mesmo tempo, chefia? – foi CK quem instigou. – Bora fazer o teste? Hehehehe!

Chegou o corpo pro lado, sacudiu o caralho escuro e corpulento na frente do capoeirista e logo foi engolido, voltando a sentir o tesão se espalhando pelo corpo, só no poder da boca cinco estrelas de Abner. Em revezamentos, Pequeno tragou da maconha, voltou a mamar e só depois soltou a fumaça no ar, fazendo o trio de machos maloqueiros achar graça da cena de luxúria.

- Profissa mermo, ein, chefia?! Putão treinado!

Por baixo e só levando cavalgadas intensas, TH se agarrou com as mãos no lombo do patrão, estancou o corpo e cravou fundo com a bigorna ereta entre as carnes aconchegantes do negão, gemendo e arrancando um gemido sincero. Era a união mais fiel que dois, três, quatro machos poderiam ter entre si, todos eles abertos, arreganhados, expostos e grudados sexualmente uns nos outros.

- AAaihnSSS! Isso, filho da puta, rasga meu cu, porra! FFfFF! Faz que nem macho, seu arrombado! – Pequeno parou de mamar só pra soltar o verbo. – Me fode, TH! Me fode, porra! SSsSS!

- Tô fodendo, chefe! Tô te sentindo todo, seu filho da puta! Hmmm!

O entregador levou um tapa na cara pelo abuso, ficou puto por isso e, raivoso e truculento que só, acelerou, quase que realmente rasgando a extensão daquele cuzinho tão diminuto, aquecido, aconchegante, carnudo e apertadinho. Chegou a ser inacreditável que uma caralha tão arrogante, tão bruta, imensa e veiúda fosse capaz de consumir todo o espaço disponível no vão daquele anelzinho rosado e preto, cheio de pelos curtos. Mas era o que tava acontecendo, com toda a grossura e bruteza da uretra tubulosa ajudando a expandir a musculatura anal do dono do Paraíso, enquanto o capoeirista sentava, deslizava, cavalgava e dançava por cima do poste de piroca.

- Fode esse cu todo, fode, TH?! FFFF! Arrasa meu lombo, seu desgraçado! – no auge do tesão, Abner segurou a pistola cromada em ouro e apontou no queixo do malandro deflorando sua bunda. – FODE, PORRA! TÔ MANDANDO FODER, CARALHO! QUERO OUVIR O BARULHO DESSE SACO ESTALANDO NO MEU RABO, SEU PORRA! SSSSS!

Brasas afloraram do Complexo do Céu na Terra. Aquele era o solo do inferno criado por Pequeno e sua vontade inflamável de se libertar. Sentado no colo de um, mamando outro e punhetando um terceiro, o dono da favela sentia três espécies diferentes de cobras se arrastando em seu corpo, cada uma de um jeito, de um tamanho diferente e com uma fome distinta. Era como se elas rastejassem por baixo da pele do negão, prontas pra se enroscarem por todo seu corpo e darem o mais delicioso bote que ele já havia sentido na vida, completamente preenchido, cercado e saciado de machos prontos para satisfazê-lo. Um por baixo, outro por cima, um do lado e ele sentado, sendo marginalmente enroscado. Homens eram como serpentes.

- FODE, PUTO! FODE!

- Pode arregaçar, chefia?! OrrFFF!

- DEVE, PORRA! SOCA, VAI!? PARA NÃO! SSSS!

O estalo das botadas e do saco de pancadas ricocheteando no períneo de Abner foi o que preencheu o som do ambiente, seguido dos gemidos incessantes dos dois machos trepando. Era só prosperidade no Morro do Paraíso.

- SSsS! Gosta de comer cu de traficante, é, pilantra?! Então soca, vai!? FFff! Soca firme, filho da puta! Comilão da porra!

Aflito e dilacerado em prazer, Pequeno ficou de pau durão enquanto deu o cu, causando um pecaminoso efeito de contração anal. Essa reação física apertou e mastigou ainda mais a vara borrachuda do TH penetrada em seu ânus, resultando num aumento súbito de prazer. Entre outras palavras, Abner contraiu o cuzinho, deglutiu a vara envergada dentro de sua carne e ainda remexeu o quadril, só pra dançar por cima do tronco e fazê-lo dobrar em seu interior.

- FFFF, CARALHO! Assim eu vou gozar rápido, chefia! Que isso, tá do caralho isso daqui! SSsS! – os dedos dos pés de TH não paravam de se mexer, de tanto prazer que o entregador sentia naquelas quicadas violentas e perversas do dono do morro. – Assim tu vai me ver amarrotando esse cuzinho de porra grossa, chefinho! OrrFFF!

- Ué, já vai gozar?! Não era tu que pagava de comedor lá no morro onde tu morava, doidão? – sentando, rebolando e galopando na trolha, o negão não se segurou e só fez acelerar. – Não foi tu que uma vez ficou descontrolado e tacou vara na irmã, no irmão, na mãe e no padrasto da namorada, seu pilantra?! Caozeiro! Comeu geral e agora vai me negar meia hora de pica? FODE, PORRA! FODE BRUTO, VAI?! Cansou?!

Envolto na mais aconchegante e saciante luxúria, Abner foi quicando e piscando o cu, sentando e massageando a caralha com as paredes da rabiola, deslizando e mascando meio metro de pica larga com a pressão das pregas devorando o salame. Com os dedos dos pés se contorcendo, os olhos quase revirando e o saco perto de explodir em tesão líquido, TH se prendeu firme na lomba do chefe, abriu os braços e se largou no sofá, sendo verdadeiramente finalizado. O suor escorrendo feito banho, o físico exausto e as bolas virando.

- ORRsSSSFF! Caralho, Pequeno! – o entregador mordeu a boca, fechou os olhos e ficou com o corpo todo esticado, envergado com o vergalhão pra dentro do cu consumista do patrão. – AArFFF! Filho da puta, mané!

- Isso, porra! FFFfF, caralho!

Desgovernado e doido pra atropelar a carne quente e macia do capoeirista, TH se conteve e só aceitou os tapas que levou, ficando cada vez mais exaltado, mais quente, mais fervoroso e em ebulição por dentro. Até que ele se perdeu em tanta carne e atrito, fincou os dedos na anca das coxas do negão e se esfregou todo por dentro, penetrado, pulsando e desfrutando da última ferroada no meio das entranhas do chefe.

- HHMMFfssSS! OrrrSS, orrfFF!

- Que delícia, caralho! OhnnSS!

O cria da boca liberou várias e várias ejaculadas seguidas no fundo do cuzinho apertado, aconchegante e aveludado. Feito na medida certa pra pica robusta, veiúda, larga e pentelhuda tipo a sua, com cheiro de mijo, grossura de malandro metelhão que fica à toa pela rua, só esperando pela oportunidade de dar uma empurrada e esvaziar o saco. Foi exatamente isso que o entregador fez ali, se esticando e tremendo o corpo arrepiado.

- FFFfF! Carai...

- Tesão da porra, né?

- Gostou de foder comigo, chefia? Hehehehehe! – limpou o suor da testa, mas não saiu de dentro.

Sete, oito golfadas gordas de gala quente foram injetadas diretamente no olho do cu de Abner. O capoeirista tava todo melado, também chegou perto de gozar, mas ainda assim não desistiu de cair de boca nas rolas de CK e Sandro, que estavam parados à sua frente, vendo a cena e se excitando com tudo aquilo. O cu pareceu uma couve flor gratinada, largo e gasto no excesso de leite que começou a vazar pelos lados, mesmo sem TH ter desplugado a piroca ainda.

- SSsSS, que sensação gostosa do caralho, ein, chefinho?

- Gostou de comer traficante, doidão? Hehehehe! FFfFF!

Tudo rolando debaixo do mesmo barraco, com muito calor, tesão, suor aflorado e o cheiro salgado dos machos do verão se misturando com o da maconha. Muito fogo saindo de dentro do chão. Pra completar, revezando o baseado, eles foderam e ainda passaram loló entre si, baforando e ficando tontos, chapados no meio do prazer. Lambida aqui, chupada ali, linguada lá... De plantão, os traficas estavam suados desde o começo da tarde, considerando o horário do último banho, então aquela foi literalmente a mistura total da natureza rústica e cheia de testosterona entre eles. Lá no alto do morro, dentro da biqueira.

- Quem diria, ein, ladrão? – CK olhou pra baixo, viu sua trolha sendo engolida até o talo e tentou falar sem se perder nos gemidos. – FFfFF... Paga de mandão, mas engole uma vara no cu que é uma beleza, né? Hehehehe. SsSS!

Pequeno só parou de mamar pra responde-lo, ainda sentado no colo de um TH exausto da trepada violenta.

- E quem falou que viado não pode ser mandão, doidão? Que ideia!

- Tá certo, chefia, tá certo! – Erick incentivou. – Tem que ser assim mesmo, tá errado não.

Aí sacudiu a pilastra na frente do rosto do negão, ensaiou uma punheta e provocou.

- Inclusive, vai dizer que tu não tá doidinho pra me guardar inteiro nesse cu? Fala tu? Não quer, não, chefinho, me sentir queimando e enchendo teu brioco?

O dono do morro olhou pra cima, viu aquele cafução malandro pedindo com a maior cara de sem vergonha e não teve como negar. Pra completar, a sensação incandescente da tromba meia bomba de TH estava proporcionando o melhor de todos os tatos do prazer.

- Tu fala de um jeito tão vagabundo, tão cachorro, que me deixa mesmo com vontade de te dar o cu. Mas vai ter pau pra me comer? – o capoeirista mandou na lata.

- Porra, só se tu tiver uma boa lapa de cuzinho pra agasalhar minha piroca inteira, chefia! Hehehehe! – não perdendo tempo, Erick deu um tapinha no ombro do parceiro entregador e já foi se adiantando. – Coé, libera a vez aí, meu padrinho! Bora, bora, canta pra subir!

- Tem certeza? – o colega do corre respondeu, ainda suado e tentando se recompor dar sentadas truculentas que recebeu do patrão. – Deixei esse xerecu cheio de leite, maluco. Vai querer misturar?

Mas o cafuçu traficante nem se abalou.

- Agora que já tá cheio de porra, vamo lotar, né? Hehehehe! É o que o chefinho quer, é o que ele vai ter, pode deixar com o paizão aqui. Fica de quatro pra mim, fica, chefia?

CK foi pra trás do negão, posicionou o lombo empinado e, sem cerimônias, encaixou a caralha preta na porta arregaçada e esporrada, depois foi enfiando, lentamente, tentando sentir o encaixe da peça sendo revestida pela carne quente do cu inchado e carregado de esperma grosso. Não levou três segundos, o pilantra pôs Pequeno curvado com a raba pro alto e começou a socar, desfrutando de toda a intimidade que ele queria ter com o patrão nos últimos tempos. Ainda por cima, usando a gala densa do parceiro TH como lubrificante, ou seja, tava tudo muito escorregadio e quentinho, do jeito certo que pica de malandro gosta de ser agasalhada.

- OrrrSSS, caralho, que sensação gostosa! Hmmmfff, apertadinho, macio e quentinho, porra! AarSSS!

- Aaihnfff, seu pilantra! Curte mermo foder rabo, é? SSsS, achei que era caô!

- Caô?! Porra, me amarro! Ainda mais se for o teu! Orrffff! Me guarda no cuzinho, vai, chefe? SsSSS! Me atola no teu buraco, vai? Isso, FFF!

- HmfFFF, safado! Amarrota a cuceta do teu cria, vai? Puto, cachorro! Soca, porra! Soca, Erick, FFFF!

Sorridente e realizado, CK tacou a piroca pra dentro no ritmo acelerado de mavambo, só querendo liberar leite e mostrar o quão carregado estava ao longo de todo esse tempo. Enquanto isso, na frente, Sandro se viu sozinho pra ganhar uma mamada sem competição, já que TH permaneceu no outro sofá, só observando a fodelança.

- Soca pica no cu do chefe, soca!? Hmmffff, gosta de comer cuzinho de traficante, seu puto?! Pilantra, comedor de viado! Comedor de bichinha, fffff! Tu tá comendo um viadão, sabia disso!? E tu é outro viado do caralho, é todo mundo viado nessa porra, gffffff!

- Tô nem aí, o bagulho é te encher de esperma quente! Orrsss! Fode esse cu no meu pau, fode!? SsSSss! Isso, puto! Sempre quis te tacar vara, chefinho, mesmo antes de saber que tu curtia dar a bunda, tá ligado? HmmssSS!

À vontade, Erick chupou a boca de Abner e deu tapinhas leves na cara do negão, querendo instiga-lo. Simultaneamente, o malandro inchou a cabeça da piroca bem envergada, justamente quando empurrou o mastro na próstata do parceiro. Isso trouxe uma sensação descomunal de derretimento por dentro, deixando Pequeno com as pernas bambas e a visão tonteando de prazer. Como se nada disso bastasse, CK massageou os mamilos do patrão e o possuiu em todos os ângulos possíveis de cintura, mexendo até pros lados, só pra ter a certeza de que tava abrindo o que ninguém abriu antes, nem mesmo TH.

- Me come com gosto, doidão! SsSSss! Safado! Puto, hmmmf!

- Não tô te comendo, não, chefia, eu tô é te devorando! Tô banquetando esse lombo, que é pra ele saber que vai ser meu, Bezinho! ORrrFFFF!

“Bezinho”. Realmente... Existia um fogo ardente entre Erick e dono do Morro do Paraíso. Só isso poderia explicar as reações e gemidos enquanto arregaçava com o cuzinho inchado do patrão na frente de todo mundo, sem hesitar por um instante. Lá no fundo, Abner sentia a estaca corpulenta rastejando por sua tubulação de carne e quase que fazendo a curva nas entranhas, abraçando e apertando deliciosamente a próstata. Estava chapado e entregue, adorando e sentindo tudo no extremo.

- MACHUCA, VAI, MALANDRO? PISTOLA ESSE RABO, PUTO!

- Eu vou acabar te machucando, patrão! Tu vai acabar saindo fuzilado do meu AK, porra! SsSSS! – o marginal fodia e mexia com a arma de fogo presa nas costas, cravejando pica grossa por todos os cantos do cuzinho inchado. – Tá querendo que eu te machuque sério, seu viado?! FFffF!

- MACHUCA, PORRA! Não é tu que tem mania de mandar os outros pararem de frescura!? Então para de frescura e me fode, pilantra! Mostra que tu é melhor que o TH, fica com ciúme dele não, ffFFF!

Ao ouvir isso, o cafução se soltou. Segurou as ancas do dono do morro, apertou as mãos ali e só deixou a cintura cantar no rego, atropelando carnes, entranhas, vísceras, pregas, músculos, esfíncter, tudo junto. O BARULHO FOI DAS COXAS DO PILANTRA RICOCHETEANDO NA PARTE TRASEIRA DAS PERNAS DE ABNER. “Pá, pá, pá, pá, pá”, só sequência de batida ecoando pra fora das janelas inacabadas do barraco balançando no topo da favela. As bolas vermelhas, suadas e nocauteadas com as batidas contra a porta do ânus amassado do negão capoeirista. Suor, fluídos, testosterona, tudo misturado na boca de fumo.

- AAIHNSSsSSS! ISSO, PORRA! ME FODE, CARALHO! FFFF!

- Quero socar leite no teu cu, mas não é só gozar lá dentro, não, é gozar e continuar socando, pra estocar, até virar papa! AArSSSS! Quero papa da minha porra dentro dessa bunda, chefia! FFffssS! Tem mó tempão que eu tô juntando leite no saco só pra tu. Já comi tudo quanto foi puta, mas só me vem tua fuça na mente, até quando tô montado assim em cima delas, ó?! SSSS!

Embruteceu o corpo, montou por cima e voltou a foder, quase chegando a deslocar o sofazinho de lugar, de tanta pressão. O excesso de entrega deixou TH e Sandro visivelmente curiosos por aquela intimidade profunda que os dois possuíam, afinal de contas, ambos testemunharam Pequeno não tendo qualquer reação violenta diante do domínio passional com que Erick o possuía. A química, a física e a biologia que eles compartilhavam era explosiva e inegável. E a matemática também, é claro, porque tudo começou na probabilidade que Abner criou sem querer, quando decidiu dar abrigo a 142 traficantes provenientes de outro morro do Rio de Janeiro.

- Dá uma moral aqui, dá, maluco? – Sandro pediu mamada, sacudindo a caralha na frente do negão de quatro. – Não me deixa com frio, não, chefia.

Adorando aquela servidão de prazer, Pequeno enfiou o cabeçote do caralho do cria na boca, depois tirou e deu com ele na cara, enchendo a língua no peso exorbitante das bolas massudas do macho parrudo. Mamou cada um dos ovos enquanto tomava no cu e encarava Alessandro nos olhos, sentindo os culhões do marmanjo enchendo sua boca do gosto de suor do trabalho na boca de fumo, ao mesmo tempo em que tinha a rabiola extraviada nas estocadas ferroantes de um CK cavaludo e exaltado em prazer anal.

- Assim que eu gosto de vê, chefinho! SsSS, mama olhando pra mim, isso! – Sandrinho instigou. – Mama rindo, enquanto toma no cu, vai? OrrrSSS!

Abner engoliu tudo e deixou o marginal ficar lá no fundo da garganta, brincando, focado em foder goela a todo custo. Naquela posição, Sandrinho suava e deixava o suor pingar na cara do dono do morro, encharcando o ambiente com o cheiro forte de seus hormônios. Em volta deles, TH observando a putaria e CK acelerando na traseira do chefe, fazendo os olhos de Pequeno revirarem. O capoeirista quase desmaiou, de tanto prazer espalhando em ondas pelo corpo.

- OrrrSSSsSS! Deixa eu testar uma parada aqui, rapidão!

O caralhudo parrudo travou firme a mão enorme na nuca do patrão, depois jogou a glande rígida na goela e foi até o talo, amortecendo o peso das bolas diretamente no queixo suado e babado do negão. O gosto e o cheiro forte de mijo tomaram conta da boca, revelando há quantas horas aquele marginal tava de plantão no corre da favela. Sentindo isso, Abner passou a mamar cheio de fome de leite, como se dependesse daquilo pra viver, ao mesmo tempo em que empinou a lomba, arreganhou o cuzão e ficou todo à vontade pra mira afiada de Erick.

- Caralho, que cuceta é essa, mermão?! FFfFF, puta que pariu! – CK se soltou.

- Essa raba aí é original, paizão? – Sandro quis saber. – Do jeito que eu tô, é capaz de eu lotar a boca do chefinho aqui mesmo, na moral! SssSSS!

- Original de fábrica, pô! Tu tem que ver o cuzinho dele, mó responsa! – o pilantra respondeu, ferroando sem parar o anel arregaçado e todo vermelho. – SSSsshH, caralho, nunca comi um cu assim! FFffF!

Na frente, Alessandro baforou lança perfume, enquanto desfrutou da garganta profunda chegando no ápice do prazer. O corpo parrudo arrepiado, suado e explodindo de tesão, com as bolas pesando cada vez mais, devido ao leite produzido pro momento. Até que estendeu a mão pra Abner e botou a droga perto do nariz do capoeirista, enquanto o mesmo caía de boca na bengala.

- Bafora e chupa até eu gozar, vai? Deixa ela lustrada, engole até tu ver teu reflexo nessa chapoca. Dá essa moral, vai?

- Não se acostuma, não, ein, doidão? – Pequeno avisou.

- Que isso, chefinho?! Eu só te fortaleço, pô! Por que o CK pode e eu não?

- Quem disse que ele pode!? – o negão disse isso, mas continuou não reagindo ao toque truculento e bruto do malandro alojado com a jiboia dentro de si. – AAAihnSSS!

O dono da favela voltou a chupar até o talo, acatando a ordem e deixando Sandro desnorteado. O cheiro da droga se misturou com o do sexo e tudo virou uma coisa só, resultando no extremo do prazer pra todos os putos envolvidos na putaria simultânea. Puro inferno nos chãos do Complexo do Céu na Terra. Rápido, Abner tentou dar atenção ao tubo de droga e ao caralho ao mesmo tempo, perdendo o fôlego e engasgando, sem tossir. A tonteira veio, o fogo no cu dilatou e todos os caralhos presos ao seu corpo se enrijeceram, fazendo ele se sentir no Paraíso, literalmente. Agarrado em seus quadris, estava um cafuçu malandrão e marginal, que não sabia foder lento, enquanto a garganta era escalavrada pela cintura impulsiva do outro macho maloqueiro e parrudo.

- Hmmm! Boquinha gostosa essa, ein!? Mama na moral mermo, caralho! SssSS! Tá agasalhando minha piroca toda, nem a minha mina dá uma moral dessas! FFfF, dá pra sentir essa língua envolvendo tudo, do talo à cabeça!

Foi nesse momento que, acelerado atrás de Pequeno, Erick travou as mãos nos ombros do patrão, sentiu a vara engrossando e tomando ainda mais volume, bem corpulenta, ao ponto de dificultar a penetração de prosseguir. Parados, eles ficaram engatilhados, entranhados, conectados no clímax da transferência de fogo, da troca de energias e também do inchaço. CK jogou o corpo por cima de Abner, usou os braços pra prendê-lo e finalizou mexendo só o quadril firme e ignorante.

- OrrrrRSSS! ORrrssFFFF! Hmmmmm, caraio...

A última estocada veio e outra vez o dono do morro foi porrado durante a curra, tendo as entranhas banhadas em sêmen quente do saco de outro homem. Pra completar, o capoeirista sentiu o caralho babando e jorrando leite, ou seja, gozou só tomando no cu. Como se esse combo não fosse o suficiente, um Sandro ensopado de suor e galudo naquela cena terminou de entalar a goela do chefe.

- AAinFFFF!

- Isso, porra! ORrrSSsS!

- Filho da puta, caralho! Vô gozar, vô gozar! HmmmfffF!

Foram três cacetes ejaculando ao mesmo tempo, um no rabo, outro na boca e o último por cima do sofá. Tendo orgasmo, Abner piscou ainda mais a cuceta, massageando e ajudando a tromba de CK na hora de extrair e ordenhar a porra quente e grudenta sendo bombeada pra fora do saco. E caindo diretamente no olho da carne do cu do dono da favela. Três leitadas de uma só vez, isso depois da primeira que inaugurou o lanche da madrugada no Morro do Paraíso.

- Chefe? – caído no sofá, CK chamou.

- Caralho, Erick... – morto, Pequeno só conseguiu respirar fundo e relaxar o corpo exausto. – Tu me escangalhou, doidão. Puta merda...

- Ué, não foi tu quem pediu? Hehehehehe!

O malandro deu um abraço no patrão, jogou a perna por cima dele e eles ficaram naquela posição por alguns minutos, como se tivessem chegado de uma guerra intensa. A guerra suburbana do Rio de Janeiro, por assim dizer. Em questão de pouco tempo, eles voltaram a usar drogas e a desfrutar daquela putaria pesada na boca de fumo. Essa madrugada foi o episódio em que um traficante foi sentar pros outros traficantes, marcando o início do contato sexual intenso que Abner Pequeno e Erick CK passaram a manter a partir de então.

A relação passional e o fato de agora dedicar um bom tempo a foder e a saciar os instintos do próprio desejo sexual, Pequeno se manteve o mesmo traficante nervosinho e desconfiado de sempre, truculento com todo mundo e não levando nenhum tipo de desaforo pra casa. Erick ficava a maior parte do tempo tentando acalmar e tranquilizar os esporros do chefe, mas era sempre muito difícil ficar no caminho de Abner. O maior exemplo disso foi na vez em que o dono da favela ficou sabendo, sem querer, que o mequetrefe do Sandro tava espalhando mentiras sobre ele no morro. Foi numa manhã aleatória e bastante ensolarada que CK e TH, bastante contrariados, invadiram o barraco do melhor amigo pra tirar essa história a limpo.

- Que porra é essa, cês tão malucos?! – Sandrinho se assustou. – Qual foi?!

- Levanta aí, maluco! – o entregador já foi puxando pelo braço. – Bora, que tem alguém querendo bater um papo contigo lá fora. Pelo visto tu continua pisando na bola, né? Vacilão!

- O chefe tá lá embaixo querendo te ver e ele não tá nem um pouco feliz. Melhor tu brotar lá logo, sabe coé? – sem graça, o malandro cafuçu tentou ser complacente com o parceiro.

- Me ver!? – nem o próprio Alessandro entendeu, mas mesmo assim foi.

Quando chegou do lado de fora do barraco, só de cueca e com cara de sono, o parrudo viu Pequeno sério, com um charuto de skunk e haxixe na boca, preparado pra acender o isqueiro. Do lado de Abner, um galão com algum líquido desconhecido dentro.

- Qual foi, chefia!? Porra, voltei tardão do plantão! Precisava me acordar tão ced-

Sem nem dar um minuto pra ele observar a cena e pensar, o negão arrastou o dedão na pedra do acendedor e botou fogo no cigarrão, puxando a fumaça e soltando no ar corrente. Em seguida, ele propositalmente deixou o isqueiro cair no chão, ainda aceso, e isso de repente pôs fogo numa trilha de combustível deixada atrás de si. Só então Sandro olhou pra baixo e viu aquele rastro incendiando, seguindo até à lateral de seu barraco, exatamente onde estava a motocicleta nova.

- Que...?

- BUUM!! – a explosão aconteceu e tudo quanto foi ferro subiu além das telhas ao redor.

A onda de vento que se espalhou sequer abalou Pequeno, que se manteve na posição desafiadora, fumando o charuto de maconha e mantendo a cara séria. Quando a ficha de Sandrinho finalmente caiu, ele pôs as mãos na cabeça, começou a gritar, e foi imediatamente segurado e contido pelos parceiros CK e TH.

- SEU FILHO DA PUTA, TU TÁ MALUCO?! ESSA ERA A PORRA DE UMA HORNET, DESGRAÇADO!

Vendo o homem se transformar num bicho, Abner cruzou os braços, se aproximou e ignorou toda aquela revolta. Olhou pra dupla de seguranças e deu a ordem.

- Podem soltar! Solta ele! Esse babaca não é nem doido de me encostar um dedo!

Mesmo não querendo, eles obedeceram e soltaram Sandro, que, ciente da hierarquia da favela, não levantou as mãos pra fazer nada contra o dono da boca de fumo. Mesmo assim, ele fechou os dedos em formato de soco e quis muito afundar um murro no fundo dos cornos do patrão.

- POR QUE TU FEZ ISSO, SEU FILHO DE UMA PUTA?!

- Eu que te dei a porra do moto, agora tô tomando de volta. Para de escândalo, florzinha do caralho! Isso é pra tu aprender a dar o devido valor! Aqui é assim, ninguém é otário, não! Viado não é bagunça, não, Alessandro! Eu já dei o papo que eu sou teu chefe, não sou teu boiola de estimação. Acho que agora tamo acertado, não tamo?!

Sem reação, Sandrinho parou de reagir e não soube o que dizer. Até pensou em pegar água e apagar o pequeno incêndio consumindo sua moto, mas o estrago maior já havia sido feito. Motor, carcaça, tudo tinha sido explodido na vingança de Abner Pequeno.

- ACERTADO?! TU TÁ MALUCO?! QUEIMANDO UMA MOTO DE 30 CONTO?! A porra de uma hornet!?

- Tu vai aprender a me respeitar por bem ou por mal. Quem mandou sair por aí falando merdinha!? – o negão botou a mão na cintura e foi taxativo. – Tu tá falando por aí que me comeu, Sandro? Tu comeu o meu cu?! Fala agora, tu me sarneou que nem tu tá contando pra meia favela, seu traste!?

Em volta deles, alguns moradores se juntaram e estavam observando toda a situação. Envergonhado, o marginal parrudo tentou esconder o volume da rola evidente na cueca, sentiu o fogo lambendo seus pés e continuou parado, pensando em tudo que tava acontecendo naquela manhã inesperada.

- Isso aí. Sofre e sofre caladinho! Tu é um homem ou é um rato!? Hehehehehe! Bora, cambada!

Abner deu meia volta, ignorou o fôlego choroso do vapor e saiu andando, sendo seguido pela dupla de seguranças inseparáveis. Antes de saírem dali, TH esbarrou no ombro de Sandro e falou sem olhá-lo.

- Tem que respeitar o cara, maluco. Tu vacila mais do que respira!

Do outro lado, CK não esbarrou, porém igualmente deixou um recado antes de sair.

- Só tu ainda não aprendeu, paizão. Uma moto cara dessa... Antes ele tivesse dado pra mim, eu pelo menos respeito o Pequeno. – aí saiu andando, mas parou e lembrou do mais importante. – E ó, nem pensa em tentar nada, ein? Eu que faço a segurança do meu cria, tu vai se arrepender se tentar. Heheheheh!

Dito isso, eles saíram e deixaram o bofe chorando sozinho pela moto destruída. Quando disse por aí que tava passando o rodo no rabo do chefe da favela, Sandro não pensou que as coisas teriam aquelas consequências. Mas ao menos ele poderia ter desconfiado, já que Abner nunca deixou de ser o marginal atrevido e insubmisso que eles conheceram. Quanto mais o tempo passou, menos as coisas mudaram: ninguém tirava Abner Pequeno pra trás. Ninguém. Foi por isso que naquele dia de comemoração...

- Qual foi, Pequeno? Minha prima bem falou que quer dar pra tu. Ela tá ali no canto, ó? Tá vendo? – a mulher apontou na direção da viela. – Pediu pra eu te dar esse papo, porque ela tem namorado e o boy não pode saber, entendeu?

Não era novidade aquele tipo de situação acontecer. Abner Pequeno sabia bem que sua aparência de macho grande, forte, troncudo, com cara de ruim, negão e de voz grave, chamava a atenção onde quer que ele fosse, independente de qual área da favela estivesse. Principalmente no dia em que completava 28 anos de idade, não tinha como ser diferente. Encostado no muro lateral da viela, o mavambo tirou a mão de cima da pistola na cinta, deu um sorriso e segurou uma mecha do cabelo da moça entre os dedos, arrancando um risinho sem vergonha da danada.

- Vem cá, qual é o teu nome? – ele quis saber, sem desfazer daquele charme irresistível pra cima da rapariga.

- É Penélope. Por que?

Aí deu outro riso antes de responde-la.

- Nome de princesa, já te deram o papo? Hehehehe. É tu ou é tua amiga que tá querendo me dar a bucetinha, Penélope?

Fez a pergunta, pôs o dedo escuro e grosso no queixo da mulher e olhou no fundo dos olhos dela, deixando a coitada com as pernas bambas, só pela encarada pesada e crua.

- Eu... – ela até gaguejou, incapaz de não reparar na arma pendurada na cinta do macho. – Eu... Sou doida pra fuder contigo, Pequeno. Mas meu namorado não pode saber, por nada nesse mundo!

Ciente de que a putaria tava certa, ele não parou de sorrir. Deixou a mão deslizar do queixo da moça e chegar no ombro, só pra manter o contato físico enquanto eles se olhavam compenetradamente.

- Eu sou bandido, garota. Ando armado pra cima e pra baixo nessa favela, não tô nem aí se o puto do teu macho vai saber.

Ouvindo essa resposta, a patricinha chegou a ficar trêmula. Mesmo morando em uma favela carioca, ela ainda se assustava com as dinâmicas dos marginais portando fuzis e metralhadoras a todo momento diante dos seus olhos. Mais do que isso, a safada não conseguia segurar o tesão que sentia pelo negão corpudo e todo bruto que Abner era, apesar de se sentir nervosa com a visão da arma presa no quadril do cafução. Ele tava sem blusa, o short caindo pela cintura, boné pra trás, suor escorrendo no meio do peitoral e descendo pelo tórax definido, onde ficavam os vários cordões de ouro do malandro. Os dedos também eram cheios de anéis dourados, pra não falar do baseadinho fininho pendurado no canto da boca, perto dos dentes de ouro. E o que dizer do comportamento desaforado e mandão do traficante?

- Mas tem um caô, Pequeno. – ela continuou, toda sem graça. – É que meu namorado, ele... Também é bandido. Lá em baixo, no Éden. Não queria que ninguém se matasse por causa de buceta, tá ligado?

Foi nesse momento que eles caíram em divergência. Ao processar o significado daquele pedido, o marginal não segurou a graça e soltou uma gargalhada sincera na cara de assustada de Penélope, que não entendeu bem aquela reação. Há poucos passos dali, os crias da boca de fumo viram a reação do chefe caindo na risada e fizeram a mesma coisa, mesmo sem saber o porquê dele estar rindo. Essa sequência de gargalhadas deixou a patricinha ainda mais acuada, pensando duas vezes se aparecer ali e dizer tudo o que disse era o correto.

- Ó só, vamo fazer o seguinte? – Abner Pequeno gesticulou e tentou ser o mais didático possível. – Pra não ter caô nenhum comigo e com o teu boy?

Ela fez que sim com a cabeça e esperou pela resposta. O problema, pra Penélope, foi apenas um: mais do que não estar acostumada com um putão marginal devasso e marrento daquele porte, ela não tinha chão suficiente pra lidar com o lado sexual explícito do criminoso. Com nada a temer, Abner pôs a mão na orelha da menina, se aproximou e sussurrou entre os risos.

- Fala pra ele que eu como a tua buceta e depois ele come o meu cu com força, só de vingança, até me encher de porra. A mesma porra que ele soca na tua xoxota. Tá a fim?

Os olhos da patricinha quase se cruzaram no meio do rosto, de tão enjoada que ela ficou. Ouvindo isso, Penélope virou de costas repentinamente, tentou correr, mas o estômago embrulhou tanto, que ela teve que parar e liberar o vômito da ansiedade no canto do muro. Aí pronto, os crias da boca de fumo viram isso e caíram mesmo na gargalhada, deixando Abner ainda mais à vontade, bem do jeito que ele gostava.

- Ih, a lá! Cês viram isso, rapaziada?! Ela ficou bolada só porque eu falei que ia comer a buceta dela, enquanto o macho dela escalavra o meu cu! HAHAHAHAHA! Fraca do caralho, ein, doida?!

A roda de traficantes e vapores só achou graça, todo mundo rindo junto e sentindo os efeitos estimulantes das drogas. Todos ali conheciam muito bem o negão marrento, com jeito de putão, todo malandro, encorpado, sagaz, sempre rindo, carismático que só ele. Do tipo de homem que toda sogra queria como genro, exceto por dois detalhes: esse homem estava preso no corpo de um traficante de drogas, carioca e ASSUMIDAMENTE gay, com piercing de ouro no umbigo e tudo mais.

- Quem quer rir tem que fazer rir primeiro, ora porra! Quem essa mina pensa que é?! Ahahahahah!

- Dá o papo nessa maluca, Pequeno! Deixa ela careca, deixa ela careca! – os caras no plantão botaram pilha.

Sorridente e segurando um copão de bebida, o mavambo sentiu o sol rachando no topo do céu, olhou pras vielas mais abaixo no morro e viu aquele cenário paradisíaco e ensolarado dominando seu campo de visão. Milhares de telhas inacabadas, muros ainda por fazer, lajes descontinuadas e o cinza do cimento sobressaindo sob os raios de sol do verão. Calor, quentura, suor. Era o topo do morro. Pequeno, com seus quase dois metros de altura, rindo à beça perto dos colegas do corre, um mais maloqueiro que o outro. Aquela selva de pedras era o seu reino. Do folclore carioca, as melhores lendas urbanas e suburbanas são aquelas com cheiro doce e sabor refrescante, tipo as do verão carioca.

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ABNER PEQUENO: PRESENTE

            Depois de reencontrar com o primo Fael e pagar pela instalação de um sistema de câmeras de segurança na favela, Abner Pequeno mudou um pouco sua rotina. Naquela noite mesmo, por exemplo, durante as primeiras horas em que sentou na laje e ficou monitorando a comunidade através do celular, o negão capoeirista não imaginou que estava por descobrir novos ares do mesmo Complexo, do mesmo Paraíso que ele sempre conheceu. Passando de câmera em câmera, entre beco e viela, Pequeno sentiu o cansaço do dia e pensou em ir dormir. Já havia fumado o baseado pra relaxar, já tinha passado da meia noite, então nada mais justo do que finalmente descansar. Antes disso, ele passou pela última câmera que faltava, a do topo do morro. Do pico, bem no alto. E foi aí que Abner viu aquela pessoa parada sozinha, de costas pra câmera. Irreconhecível, em pé, olhando pro horizonte repleto de nuvens escuras se aproximando. Assustado, Pequeno chegou os olhos perto do celular e não botou fé. O coração acelerou, o corpo se agitou e imediatamente ele soube quem era aquela pessoa, por isso que a mente esquentou tanto.

- “Não pode ser!” – pensou alto.

E não sossegou até subir na moto, apressado que só, e correr até o local, lá no alto da colina que era o Morro do Paraíso. Quando bateu os olhos nas costas daquele casaco e viu a pele morena, Abner não acreditou.

- Tu... O que tu tá fazendo aqui?! – foi a única coisa que conseguiu dizer.

O sujeito escutou a voz familiar entrando pelos ouvidos, junto com o vento, e foi tomado por uma sensação de estar em casa. Afinal de contas, todo mundo ali o conhecia, ele era o filho número um daquele Complexo tão... complexo? Lentamente, o sujeito virou de frente, deu um sorriso sincero e mostrou as covinhas responsáveis por muitas cicatrizes. Depois de anos, o cabelo agora estava mais curto, porém igualmente enrolados e com as pontas pouco desbotadas no loiro. Os olhos de Pequeno não acreditaram no que viram. Na realidade, quem viu não foi Abner Pequeno. Quem viu foi o único com a visão certa e justa pra ver: Bezinho sentiu as vistas enchendo de lágrimas quando observou o homem de frente e viu os efeitos do tempo. E da distância...

- Coé, meu cria? – meio sem graça, a figura ajeitou o óculos na face e tornou a sorrir. – Não dei o papo que eu voltava pra tu cuidar de mim?

Bilhões de estrelas no céu noturno do subúrbio carioca. Era terrivelmente delicioso padecer no Paraíso. Literalmente.

 

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Inspirações:

https://www.youtube.com/watch?v=AFk5Sa1lVaw

https://www.youtube.com/watch?v=fat01X4Kn-M

 

"PARAÍSO" faz parte de VERÃO I, cujo conteúdo você confere clicando aqui.