1. EU SABIA QUE ESSE CARRO IA DAR PROBLEMA
[Final de
janeiro e começo de fevereiro, antes do carnaval começar...]
9h25.
- "Continuam foragidos os gêmeos presidiários
que escaparam da prisão no fim do ano passado! Já é o terceiro ano consecutivo
que isso acontece. Se você tiver
qualquer informação do paradeiro de Ítalo ou Ícaro Souza, os gêmeos criminosos
que fugiram da penitenciária em Salvador, ligue para..."
Escutei a
voz do repórter passando as informações no jornal, mas não consegui identificar
as imagens na tela rachada do pequeno televisor.
- Gêmeos
fugitivos, ein? – falei comigo mesmo, enquanto coloquei a chave do carro em
cima do balcão. – Terceira vez seguida que os caras fogem e ninguém faz nada?
Que merda! Da outra vez foi aquele tal de Lázaro fugindo e matando todo mundo,
agora isso.
Na minha
frente, de pé do outro lado do balcão, a senhora baixinha, morena e coroa
começou a rir, ao mesmo tempo que me entregou um copo americano quente e cheio
de café com leite.
- Até
parece que cê não conhece o país que mora, meu fio. Hehehehehe! – carregada de
sotaque baiano, ela respondeu e pôs o saleiro perto de mim. – Todo mês foge
duas, três cabeça lá da Mata Escura. E vô te falá, é bom rezá pra nenhum desses
verme aparecê aqui pra se escondê, painho, que da última vez já foi uma
moléstia. Num foi, ô Matilde?
A senhorinha
pôs as mãos nas cadeiras, virou pro lado e falou com uma outra coroa, a que
tava fritando ovos, tapioca e pães na chapa do fogão. Assim que ouviu a
pergunta, essa segunda mulher levantou a mão e fez sinal positivo com o dedo
polegar, confirmando o que a amiga do balcão tinha acabado de me dizer. É claro
que senti um frio na barriga.
- Sério?
– não contive a reação sincera. – Nossa! O que rolou por aqui?
- Os
presídio é tudo aqui perto, fio. Vira e mexe aqueles puto foge e entra nesses
ônibus, ou então pula na caçamba dos caminhão que passa na rodovia. É difícil
vê uma viatura por aqui. Num é, ô Matilde?
Mais uma
vez e de um jeito meio cômico, ela se equilibrou com as mãos na cintura, olhou
pra janela da cozinha e esperou pela reação da senhora que fritava comida na
chapa. A cozinheira confirmou e isso me deu vontade de rir, não fosse pelo teor
sinistro da conversa entre nós, que me deixou mais assustado do que rindo. Quem
é que fica animado de saber que tá tomando café da manhã numa pousada na beira
da estrada, onde fugitivos perigosos de uma prisão próxima podem entrar a
qualquer momento? Até o pão na chapa com ovo frito que eu tava comendo no
balcão murchou.
- Eu só
sei que se quebrarem meu bar de novo, eu vô é dá tiro em cima de todo mundo.
Quero nem sabe. Tô certa ou num tô, ô Matilde?
Um calor
daqueles bem abafados, eu cheio de fome e com o corpo queimado de sol. Estava
voltando da Bahia depois de ter passado parte das férias de janeiro com a minha
família em nossa terra natal, Feira de Santana. Fiz uma longa viagem de carro e
agora voltava pra cidade onde moro, o Rio de Janeiro, por isso tive que dar
algumas paradas, tanto pra cochilar quanto pra comer, abastecer o veículo e
usar o banheiro. Devo dizer que tava bastante puto, pois esperei aproveitar a
viagem pra trepar com tudo quanto era macho diferente, no entanto choveu pra
caralho e eu praticamente não saí de casa, fiquei literalmente no zero a zero.
Ainda tinha muitas horas de viagem pela Rodovia BR-116 pra fazer, então achei
melhor parar pra tomar café na pensão, mas só até ouvir o noticiário violento e
perigoso da região.
- "Ícaro Souza é o gêmeo mais velho e responde
por diversos roubos, assaltos à mão armada e até um sequestro relâmpago, sendo
um homem de comportamento agressivo, sádico e extremamente violento.” – o
repórter na TV voltou a explicar a situação dos irmãos fugitivos. – “Qualquer informação a seu respeito é
totalmente sigilosa, além de valer uma recompensa de 7 mil reais."
Com a
tela toda rachada, foi difícil visualizar a foto dos gêmeos, o que acabou até
sendo bom, porque eu tenho um medo inexplicável de retratos falados e fotos de
bandidos. Me causam um certo mal-estar, como se eu fosse virar pro lado e dar
de cara com o rosto daquela pessoa me encarando pela janela. Só deu pra
identificar a face bruta de um marginal com muito semblante de ruim, bem mal
encarado mesmo: a barba desgrenhada no queixo e nas bochechas finas, alto,
aparentemente troncudo, forte, dos ombros largos, com uma das sobrancelhas
riscadas, tatuagens no pescoço e também sob um dos olhos castanhos. O cabelo
cortado em moicano baixo, a pele parda e os lábios grossos, bem escuros.
- Sete
mil! Sete mil conto no bolso, já pensô, fio!? A gente nunca teve nem mil, né,
Matilde!? HAHAHAHAHA! Que falta faz uma graninha dessa, ô pai.
Da
cozinha, a mulher na chapa confirmou com o dedo polegar e adicionou algum
ingrediente delicioso na mistura da comida que estava fazendo. Subiu uma fumaça
e um cheiro muito bom, isso abriu meu estômago e eu finalmente voltei a comer o
pão com ovo frito no prato à minha frente. Enquanto comia, escutei a voz do
repórter informando os números de contato para denunciar os gêmeos e achei
interessante guarda-los, só por via das dúvidas. Tirei o celular e a carteira
do bolso numa mão, segurei o copo quente de café com leite na outra, foi aí que
alguém passou sorrateiramente do meu lado, me deu um susto e o tempo parou de
repente.
- Opa! –
me desequilibrei.
Em
questão de pouquíssimos segundos, virei muito rápido com o corpo, esbarrei com
o cotovelo e derrubei todo o líquido do copo por cima da roupa do sujeito,
chamando atenção da coroa no balcão, que tratou de me dar um esporro na mesma
hora.
- Eita,
foi m-
- Puta
que pariu! Olha só a lixeira que cê tá fazendo no meu bar, peste! – ela berrou
e foi pegar um pano.
- Mil
desculpas, de verdade! Eu tava prestando atenção em outra coisa e acabei me
distraindo. Ia salvar o número... – olhei pra cima e dei de cara com aquela
figura excêntrica me observando e analisando meu jeito atrapalhado de fazer as
coisas. – Nossa, eu...
O tempo
estava parado. Perdi as palavras quando notei o par de olhos azulados, sérios e
ao mesmo tempo serenos focados em mim. Pareciam ter um brilho marrom em volta,
mas foi o azul que mais chamou minha atenção, quase ciano e de uma intensidade
viva. Até demorei pra perceber que o cara tava TODO vestido de bate-bola, isso
porque consegui ver através da máscara colorida em sua fantasia e só dei
atenção inicialmente à cor dos olhos me decifrando de cima a baixo.
-
Desculpa! – quase gaguejei. – Eu te sujei...
- Relaxa.
– a voz grave do homem deixou meu corpo frio e travado.
Nesse
exato instante, o âncora do jornal voltou a falar, sendo que eu não consegui
parar de olhar o sujeito nos olhos claros. Seu semblante me passou
tranquilidade, serenidade, mas alguma coisa me disse que tinha algo de errado
ali. Por que ele tava fantasiado, afinal de contas? Será que era pela chegada
do carnaval?
- "Ítalo Souza, por outro lado, só
responde por formação de quadrilha com o irmão, não tendo qualquer tipo de
crime hediondo na ficha criminal." – a voz do apresentador do noticiário
continuou explicando. – "É até
engraçado, porque, segundo nossas informações, nas últimas vezes em que foi
capturado, foi o próprio Ítalo que se entregou à polícia. Os agentes confirmam
que Ítalo é pacífico, um preso incomum. É isso mesmo, produção?”
Na tela
do televisor rachado surgiu o gêmeo mais novo, que aparentou estar tranquilo e
com um certo ar de serenidade. Um pouco mais magro do que o irmão raivoso, sem
barba, com a cara lisa, mas igualmente tatuado e de olhos castanhos, tendo a
pele em tom de café e os lábios também grossos. Os dois eram fisicamente
bastante parecidos, apesar das poucas diferenças visíveis, como a ausência de
barba e um corte de cabelo diferenciado. Ouvir o som do televisor me fez
lembrar que eu ia salvar os números de contato da polícia local, só que, no
auge do tempo parado, a única coisa que pude sentir foi a mão do cara
fantasiado de bate-bola alisando minha cintura, tudo isso rolando no clímax de
eu ter jogado café quente por cima da roupa dele. Na pressa, peguei uns
guardanapos no balcão e tentei ajudá-lo a se limpar, apesar de ser inútil.
- Juro
que foi sem querer, eu tava assus-
- Shhh,
já disse que relaxa. – ele insistiu em me acalmar.
Eu
nervoso, o cara todo tranquilão, na dele, muito embora eu não conseguisse ver
seu rosto completamente, apenas os olhos azulados por entre a típica máscara de
bate-bola “Clóvis”, toda colorida e cheia de brilhos, purpurina, joias e
paetês.
- Eu vou
só ali... – o sujeito apontou num sentido, depois botou a mão por cima do
volume entre as pernas e meio que deu um aceno de cabeça na direção interna do
bar. – No banheiro, dar uma limpada.
Segurou a
peça, olhou pra baixo, conferiu o material, apertou firme o pacote de pica e me
olhou no fundo dos olhos, como se PRECISASSE que eu VISSE o que vi. Nunca
imaginei que receberia uma puta rabiscada dessas, numa estrada qualquer,
principalmente de um cara tão perdido quanto eu no trajeto. Por que ele tava
vestido de bate-bola? Era só o que eu queria saber.
- Deixa
que eu arrumo, sai logo daí! – a senhorinha dona da pensão voltou com o pano e
me puxou do assento, pronta pra limpar o lugar.
De pé e
perdido no que fazer, me vi meio que sozinho no balcão, escutando a voz do
âncora do jornal falando sobre algo que já nem me lembrava exatamente o que era.
O homem fantasiado havia entrado pro banheiro e me deixou seco de vontade de
segui-lo. Só consegui me ater ao fato de que viajei pra aproveitar as férias e
não dei a bunda pra ninguém na Bahia, então ainda queria muito ser dominado,
controlado, mexido por dentro por um macho desconhecido e truculento, bem do
jeito que todo viado submisso e cadelo feito eu merecia. Devido às
circunstâncias, não pensei duas vezes e deixei a curiosidade e o fogo no cu
falarem mais alto. Quando fui andando na direção do lavabo, ouvi o barulho de
alguém entrando no bar, mas nem fiquei ali pra ver quem era, só imaginei
encontrar novamente com aquele sujeito aleatório e ajuda-lo a limpar a bagunça
que eu mesmo causei em sua fantasia.
- “Será
que esse maluco tava dando em cima de mim mesmo?” – pensei. – “Tipo, na cara de
pau assim? Que sem vergonha ele ter pegado no pau.”
Passei
pelo corredor da pensão, atravessei a portinha do banheiro e, assim que entrei,
já senti o cheiro adocicado e refrescante da essência de bate-bola, me dando a
certeza de que estávamos no mesmo cômodo. Andei até o mictório e ali estava o
bofe dos olhos claros, com a rola pra fora da fantasia e mijando pesado na
chapa metálica. Parei ao seu lado, ele me viu e ficou encarando brevemente,
como se quisesse entender o porquê de eu ter escolhido aquele mesmo metro
quadrado pra mijar.
- E aí,
conseguiu limpar? – não segurei a curiosidade e olhei pra baixo, na intenção de
manjá-lo na cara de pau.
Era um
caralho não tão grosso, mas longo! Um jebão grande e da pele escura, que me deu
a impressão de que o homem por trás da máscara era negro da pele clara, o
típico moreno em tons pardos. A tromba tinha aparência rupestre, feita às
pressas em garranchos, bem do jeito que eu gostava, e era cabeçuda mesmo
estando flácida, ao ponto da chapoca ficar permanentemente marcada sob o
prepúcio espesso. As bolas grandes e pesadas no saco tímido. E o que dizer da
pentelhada cheia lotando o púbis do safado? Quase lambi os beiços, de tão bem
servido que me senti diante da rola preta do bate-bola. Só conseguia pensar: “é
esse macho que vai saciar minha vontade de ser currado na maldade antes de
voltar pro Rio de Janeiro”.
- Limpei,
limpei sim, irmão. E tu, veio procurar o que aqui? – o puto fez a pergunta,
sacudiu a jeba grandalhona e seguiu soltando mijão farto no mictório, chamando
minha atenção pro eco do jato enchendo o banheiro. – Perdeu alguma coisa?
- Perdi
não, só vim ver se eu não te queimei com o café. Tava tão focado na televisão
que nem reparei quando você passou do meu lado. Foi mal mesmo, bicho.
Novamente
o macho balançou a pica mole, deixou a mijada cair e chegou naquele estágio
final em que o mijo só sai mediante pulsadas, sendo que cada estanque dele deixou
minha boca cheia d’água e resultou no estado de meia bomba da rola escura.
Conforme o sacana sacudiu pras gotas de urina saírem, eu acompanhei com a visão
fixada na ferramenta, deixando o malandro ter a certeza das minhas intenções
naquele banheiro. Meu desejo era apenas um: ser feito de cachorra por um putão
bom de pica, só isso. Era pedir demais?
- Que
foi? – ele perguntou pausadamente. – Gostou da piroca, piá?
Mesmo sob
a máscara, eu soube que ele deu um sorriso malicioso pelo jeito sacana com o qual
me fez a pergunta. Enquanto falou, o pilantra ainda veio se aproximando de mim
e eu quase tremi de nervoso, mesmo querendo que rolasse a putaria. Acho que foi
pela tensão sexual do momento, por assim dizer, já que a única coisa em que
consegui pensar foi em ser dominado em pleno banheiro da pensão e por um homem
totalmente desconhecido, cujo rosto eu sequer havia visto ainda, tampouco sabia
seu nome.
- O gato
comeu a tua língua, fiel? Piazinho. – o cara tornou a perguntar.
Não respondi
de imediato, porém não tirei os olhos da estaca preta que o bate-bola tava
segurando entre os dedos, apontada na minha direção. Crescendo, ficando
corpulenta, dando estanques e se mostrando incapaz de ser observada sem reagir
à altura. E que altura! A bengala inchou em pouco tempo de exibicionismo, mudou
de envergadura e trocou de forma bem diante dos meus olhos, ao ponto de eu ser
capaz de babar ali mesmo, na frente do roludo anônimo. Até meu cuzinho deu uma
piscada saliente nessa hora, não posso mentir, os mamilos endureceram e eu logo
soube que a putaria estava armada.
- Cê tem
o maior rolão, ein, cara? – finalmente respondi. – A sua mulher com certeza é a
maior sortuda, com todo o respeito! Hahahahaha!
Foi eu
dizer isso, o macho soltou a cobra e mexeu a cintura bruta de um lado pro
outro, transformando a tromba numa verdadeira jamanta, cada vez mais longa e
mais dura. A tora chegou a mudar de ângulo e começou a tomar rumo por si só, como
se tivesse vida própria durante as latejadas intensas. Nesse balancê, a ponta
da pica soltou vários pingões de mijo quente no chão e eu lambi os beiços de
fome e de sede de macho.
- Que
mulher o que, paizão. Tô voltando da pré-folia em Salvador, não peguei ninguém
naquela porra, só gastei dinheiro em fantasia. Agora tô aqui, de pau durão na
pensão. E tu, tá viajando pela estrada também?
- Tô, tô.
Também tô vindo da Bahia, indo direto pro Rio de Janeiro. Olha que
coincidência, eu também não dei sorte nessas férias, sabe? Tava crente que ia
me divertir e aproveitar ao máximo, mas não encontrei o que eu queria.
- Não
encontrou? E como é que um piá feito tu aproveita ao máximo? – ele fez a
pergunta, olhou pra baixo e observou a peça de carne mijada segurada na própria
mão.
Antes de
responder, lambi os beiços outra vez, manjei a pistola e quase babei por cima
da extensão avantajada da vara preta e cabeçuda do marmanjo.
- Bom,
tem vários jeitos de me divertir e aproveitar ao máximo, amigo.
Dei a
resposta, estiquei o braço e encostei no peso quente e massivo do caralho
alongado, escuro e esticado por natureza. Mais de dezoito centímetros, sem nem
precisar de régua pra medir. Na verdade, era a tromba do bate-bola que devia
ser usada pra medir as outras coisas. Apertei seu trombone, o sujeito me deixou
à vontade e chegou o corpo pra frente com o quadril, como se quisesse me ver
bem servido na linguiça toscana. Pra completar, a jararaca engrossou de tom no
contato com a minha pele, cresceu mais absurda do que antes e seu peso
exagerado deixou meus dedos tremendo de nervoso, tão aficionado e eufórico que
fiquei.
- Será
que tomar leite de macho no meio da estrada é diversão pra tu, fiel? – o moreno
perguntou, passou a mão no cabeçote da pica e levou até meu nariz, pra eu
sentir seu cheiro íntimo, o odor de sua testosterona quente misturada com a
essência de tutti-frutti da fantasia.
- Hmmsss,
com certeza! Viajou de saco pesado o tempo todo, não comeu uma bucetinha e
agora tá precisando de uma boquinha de veludo quente em volta dessa piroca, né,
safado? – instiguei.
- Boquinha
não é meu forte, tá ligado? Só se for assim, carnuda e de vagabunda que nem a
tua. – aí alisou meus lábios com o mesmo dedo que passou na chapeleta da
caceta, me temperando no cheiro e no gosto do mijão recente. – Dá aquela moral
no paizão aqui, vai? Finge que eu sou um picolé e cai de boca no meu pau. Sabia
que tu tem mó cara de piranha?
Em poucos
segundos de papo foguento, a espada dele apontou pra cima, envergou no talo e
pulsou firme, ficando quase trincada de tesão. Nesse impacto de ereção, o
prepúcio recuou e deixou a chapoca preta aparecer naturalmente, nem precisou de
toques pra arregaçar. Ele ficou literalmente tinindo, disparando estanques com
a jeba e pedindo atenção, sem parar de me dar o próprio cheiro de rola no
nariz. Não pensei muito e nem quis papo, ajoelhei ali mesmo, no mictório do
banheiro da pensão à beira da estrada, e caí de garganta no mastro cavernoso do
macho vestido de bate-bola, nem aí pra nada. Senti o freio robusto se
esfregando na minha língua e enchendo minha boca de um suculento gosto salgado,
a saliva ficou abundante em volta do tronco alongado e logo o cabeçote estalou
lá no fundo da goela, dando uma latejada profunda e intensa nas minhas
amídalas.
-
Orrrfffff! Eita, boca quente do caralho! SSSS! – o puto travou meu crânio pelas
orelhas, engatou o quadril e começou a arregaçar minha garganta, se aproveitando
do atrito da jamanta com a língua. – Sabia que de onde eu vim tem muito
viadinho submisso assim que nem tu? Hehehehehe! Fffffff, para não, isso!
Empolgado
e excitado com o boquete, o cachorro suspendeu um pouco da parte frontal da
fantasia e eu pude ver detalhes de seu tórax, incluindo o
abdome tatuado, a leve pancinha de parrudo e os exagerados e enormes pentelhos
negros, em quantidade abundante e chamando muita atenção. Nada melhor pra
um boqueteiro profissional do que chupar uma trave que preenche a boca inteira
e ainda por cima farejar a pentelhada farta do macho sendo mamado, não é
verdade? Sendo assim, abri o bocão, deixei a tora encarnar na garganta sem
piedade, senti quentura e as orelhas pegaram fogo, puxadas como alças pelo
bate-bola caralhudo e dominador.
- AAAARSSSS!
Filho da puta do caralho! Onde é que viado aprende a mamar tão bem uma piroca,
me diz? – ele me encarou com os olhos azuis, testemunhando enquanto eu tentava
incansavelmente engolir toda a extensão da bigorna. – HMMM, FFFFF! Tu fez
curso? OOORSSSSS! Tá mamando vara melhor que muita piranha por aí, papo reto! SSSSSS!
Vai no talo, vai?
O bofe
fez o pedido, ajeitou as pernas um pouco afastadas e foi estacionando a víbora
pra dentro de mim, alocando mais de um metro de naja venenosa e peçonhenta no
fundo da minha goela quente pouco a pouco. Ao fazer isso, nem o próprio
cafajeste se aguentou e esticou o corpo todo, ficando na pontinha dos pés,
arrepiado e olhando pro teto do banheiro da pensão.
- UUURRSSSS!
Caralho! MMMMFFF, bezerrão da porra! Tudo isso pra ganhar suco do meu saco, é?
Mama, fiel, mama! Para não, viadinho! MMMSSS!
Um
vergalhão do tamanho de uma régua alojado na faringe, o membro latejando no
poço da minha garganta e ficando cada vez mais pesado, maior, até um pouco mais
grosso. Eu suguei a uretra tubular do caralho escuro, lambi a cabeça, rocei as
papilas no freio e deixei a pilastra ir até o talo só pra sentir a raiz da
pentelhada exagerada do bate-bola pincelando minhas narinas, além do cheiro
aflorado de suor misturado com essência de tutti-frutti. Mó chupação do
caralho, meu furico piscando sem parar e eu matando todas as sedes de
masculinidade na marreta inchada de um putão desconhecido e tão morto de fome
por putaria quanto eu.
- Chupa
minha bola, vai? FFFFF! – pediu e suspendeu a pochete de ovos bem desenhados. –
Sinto mó tesão nos ovos, viado! SSSS! Me amarro quando caem de boca na minha
bola esquerda, pode caprichar na língua. MMMMM!
O pedido
foi uma ordem. Qualquer pessoa poderia entrar naquele banheiro a qualquer
instante, mas ignorei totalmente as circunstâncias, escorreguei pro escroto
pentelhudo e comecei o banho de gato, linguando, mamando e sugando com pressão
cada um dos bagos enxertados do viajante cafajeste. Enquanto pagava o boquete
no saco, olhei pra cima e o vi mordendo os beiços por trás da máscara, cheio de
tesão por conta da minha refeição oral ao masturbar sua caralha com a boca.
Senti as bolas acomodadas no meu queixo, meus olhos começaram a lacrimejar de
orgulho e só então o canalha liberou minhas orelhas, parando de usá-las como
alças.
- OOORRFFFFF!
Puta que pariu, mermão! Diz pra mim onde foi que tu aprendeu a cair de boca
assim numa pica, diz? AAARSSSS! Aposto que tem uma porrada de viadinho que dá
aulas na hora de mamar trolha, num tem não? FFFFF!
O puto
esticou a rola, botou retinha na minha direção e deu várias pauladas na minha
fuça, derrubando babão e saliva no chão do banheiro.
- Chupa
só a cabeçota. Isso, porra! OORSSSSS! Safado! Esse curte mesmo um boquete, tô
vendo. MMMMFFFF!
Obediente
que só, permaneci de joelhos, sugando o instrumento cabeçudo e escuro do bate-bola,
ao mesmo tempo que massageei seus culhões com uma mão. Ele praticamente se
perdeu, suando bastante e às vezes fazendo movimentos involuntários com as
coxas, de tanto que se viu concentrado em marretar a minha garganta. Foi aí que
a cabeça da tora inchou, o peso da caceta aumentou e pude sentir um gosto
salgado de pré-porra vazando na língua, como se ele estivesse prestes a gozar.
- SSSSSSS!
Caralho, tô quase enchendo a tua fuça de leite, viado! UUURRFFFFF! – controlou
minha cabeça, esfregou a chapoca por dentro das bochechas e tremeu na base. – AAARFFFF!
Que delícia de goela quente, porra!
Nas
poucas vezes em que parei de chupar, fiquei olhando pra tora preta pulsando na
minha frente, envergada pra cima e bombeando muito sangue por dentro das veias
espessas e destacadas em alto relevo. O cheiro de piroca misturado com essência
de tutti-frutti entranhou nas minhas narinas, chegou ao cérebro e quase me
derreteu, tamanho nível de intimidade naquele mictório. No auge da garganta
profunda, o moreno perdido escorou as bolas no meu queixo, enterrou a jamanta
no fundo das amídalas e só consegui sentir o delicioso cheiro da raiz dos
pentelhos abundantes.
- HMMMM!
Sustenta, vai? AAARSSSSS! Sustenta o boquete no teu macho, sua cadela de rua! –
emocionado e trincado na minha goela, ele deu tapas no meu rosto e foi se
soltando cada vez mais, perdido entre me botar pra mamar e me dominar. –
Sustenta que eu sei que tu dá conta, boqueteira! Filha da puta! Vagabunda!
Viadinho do caralho, disso que tu gosta, é?
Tão
entretidos, tão mergulhados no sexo oral com teores de dominação e submissão,
que nem escutamos quando a porta do banheiro foi aberta e um policial fardado e
armado entrou. Assim que aconteceu, o bate-bola tentou esconder a pica rapidamente
e eu levantei às pressas, porém foi tarde demais.
- Que isso, meu amigo?!
Assim cê deixa a gente até sem jeito, porra! – o viajante pirocudo foi o
primeiro a reagir, visivelmente nervoso. – Nem pra dar uma batida na porta
antes, pô!?
Senti um cagaço fodido de
ser preso por atentado ao pudor, meu corpo simplesmente travou, o coração
saltou na boca e eu não soube como reagir, muito menos o que dizer diante de um
flagrante grave. Foi a primeira vez na vida que fiz putaria em público com
outro macho, senti a maior adrenalina me corroendo, porém infelizmente fomos
descobertos e a conta chegou. Que bosta! Só que, na mais estranha inversão de
valores que já vi acontecer, o policial pareceu constrangido por ter
interrompido a mamação entre a gente, como se ali fosse realmente área de
putaria daquele tipo. Não sei dizer se foi inexperiência, porque ele até tinha
cara de novinho e meio bobão, só sei que o macho que me botou pra mamar não se
sentiu envergonhado, pelo contrário, continuou reclamando e dando esporro no
agente.
- Eu garantindo a mamada
do dia e fica por isso, é?!
- Os senhores por acaso viram
um foragido entrando por aqui?
- Claro que não, porra!
Cê pegou a gente no susto, mermão! Fecha logo essa porra aí, doido! E se a coroa
descobrir que eu tô aqui dentro com esse viado?!
- Mermão, pra início de
conversa vocês dois tão errados pra caralho, se ligou? Tá pensando que tá
falando com quem? – finalmente o PM cresceu pra cima da gente e eu comecei a tremer
de medo, afinal de contas nós realmente estávamos em desvantagem ali.
Mas aí o bate-bola pensou
mais rápido, pareceu já estar preparado para o que estava pra acontecer e sacou
duas notas de cem reais azulzinhas do bolso da fantasia de carnaval.
- E agora, paizão, será
que dá pra gente desenrolar e eu dar uma gozada em paz?
Tão cafajeste quanto o macho
que eu tava mamando no banheiro da pensão, eis que o policial deu um riso
cínico, pegou o dinheiro com pressa, guardou no bolso da farda, depois saiu e
fechou a porta, nos deixando a sós novamente. Eu sinceramente não soube o que
pensar, fiquei imaginando que aquela pensão onde estávamos, no meio da BR, era
realmente um lugar muito incomum, sendo ponto de fuga dos bandidos dos
presídios próximos e também um antro de putaria e sexo fácil, considerando a
normalidade com a qual o agente nos tratou. Enquanto eu pensava em todas essas
coisas, eis que o sujeito vestido de bate-bola me ignorou, fechou o resto da
fantasia e andou em direção à porta.
- Ué, que foi? – fiquei
curioso, óbvio. – Já acabou? Não vai gozar?
Sem responder, ele parou,
olhou pro balcão do bar pela fresta da porta, esperou alguns segundos e depois
virou pra mim. Eu só consegui ver a máscara colorida, a roupa de tecido fino e
brilhante, as sapatilhas nos pés enormes e a meia calça escura por baixo da
fantasia. O canalha pôs a mão num bolso da roupa, mexeu em alguma coisa e tirou
uma carta de baralho, que pôs de pé, presa no espelho quebrado do banheiro.
- Isso é um... – cheguei
perto pra ler. – Ás de paus?
Silêncio no cômodo. Não
vi ele indo embora pelo reflexo do espelho, olhei pra trás e o cara
simplesmente havia desaparecido. Eu fiquei absolutamente sozinho, com a boca
salgada, carregada da pré-porra do maluco, enquanto o canalha optou por meter o
pé dali e nem me disse seu nome. Só então caiu minha ficha e me dei conta da
loucura que tinha acontecido.
- Gente, será que eu tô
ficando maluco? – falei comigo mesmo, vendo apenas meu reflexo no vidro
quebrado. – Numa hora eu sujo a fantasia do cara de café com leite, na outra eu
tô ajoelhado entre as pernas dele e mamando. Depois entra um policial e o puto
some? Porra, que loucura! Será que ele ficou com medo do cana prender a gente
por atentado ao pudor ou outra coisa do tipo?
Lavei as mãos na pia ao
mesmo tempo que observei o misterioso Ás de paus que o bate-bola prendeu no
espelho rachado do banheiro. Perdido em pensamentos, lavei a boca, bochechei,
ainda esperei uns minutos, mas nada aconteceu, o sujeito realmente foi embora.
Saí dali, voltei ao balcão da pensão e vi as duas senhorinhas trabalhando na
cozinha, uma na chapa e outra na louça. Por conta das circunstâncias e também
da pressa de voltar pro Rio de Janeiro, nem fiquei muito tempo ali, só terminei
o pão com ovo e finalizei o café com leite, enquanto o noticiário no pequeno
televisor continuou informando as notícias.
- “Um novo vírus recém
descoberto pelos Chineses pode colocar o mundo em alerta total nas próximas
semanas. Vamos até Wuhan com a reportagem do Leonel Guerra. Leonel, é com
você.”
- Até parece! – a dona da
pensão resmungou. – Se o próprio governo num destruiu o país, num vai sê uma
doença que vai derrubá nenhum brasileiro. É ou num é, ô Matilde?!
Como sempre, a cozinheira
parou de fritar os ovos na chapa, esticou o dedo polegar e confirmou a
informação. Paguei a conta, peguei minha bolsa e me preparei pra sair pela
porta do estabelecimento. Quando tava prestes a meter o pé, a senhorinha no
balcão chamou minha atenção.
- Fio?
Olhei pra trás e vi o
sorriso irônico nos olhos dela.
- Cuidado com essa pista
que ela é traiçoeira, ein? Hehehehehehe...
Fiquei um pouco curioso, confesso,
mas minha mente já estava cheia demais com os últimos acontecimentos no
banheiro da pensão, então achei melhor não pensar em mais enigmas. Por mais que
eu tivesse lavado a boca, o gosto salgado da rola do bate-bola ainda estava
presente na minha língua junto com o cheiro de suas bolas e a fragrância forte
da essência de tutti-frutti. Esses detalhes me deixaram puto, porque eu sabia
que jamais encontraria com aquele macho safado novamente e passaria algumas
boas horas só pensando nele, no tamanho da vara preta e na quantidade de
pentelhos no púbis bruto. Saí da pensão, fui pro carro estacionado na entrada
do local, botei a mão no bolso e...
- Caralho! Cadê minha
chave!?
O coração saltou no
peito, meu corpo logo ficou acelerado. Voltei no bar, procurei, mas não
encontrei. Fui no banheiro e nada. Perguntei às senhoras se elas viram minhas
chaves e nem sinal.
- “Será que eu deixei
essa porra dentro do carro?!” – pensei comigo. – “Mas... Como?”
Voltei ao veículo, olhei
pela janela do motorista e, inesperadamente, lá estava a chave presa na
ignição. Com pressa, abri a porta e comemorei por não estar trancada, porque aí
teria sido bem pior e eu não sairia da BR tão cedo. Pois bem, entrei no meu
carro, fechei a porta, botei o cinto e virei a chave pra ligar o motor. Quando
achei que estava tudo bem, aconteceu.
- BZZZZZ!
O vidro da porta do
carona travou, com certeza por alguma falha técnica.
- Afff, começou essa
porra a dar defeito! Sabia que ia ter que gastar uma nota viajando nesse carro,
puta merda! Era melhor ter ido de avião.
Enquanto reclamava, tive
que usar a mão pra ajudar a janela a descer, já suando muito graças ao calor
interno no veículo. Segurei o câmbio da marcha, pisei na embreagem e me
preparei pra começar a soltá-la, regulando o outro pé no acelerador. Num
movimento involuntário e espontâneo, pus a mão no bolso, procurei a carteira e
foi nesse instante que dei a falta de R$200 ali dentro. A mente foi
automaticamente de volta pro banheiro da pensão, onde vi o tal bate-bola dando
duas notas de cem pro PM livrar nosso flagrante do boquete.
- Caralho, que filho da
puta! Aquele ladrãozinho de merda, certeza que foi ele! Queria que esse otário
tivesse aqui agora pra ele ver só uma coisa. Arrombado. – reclamei sozinho no
banco do carro.
Tudo aconteceu muito
rápido em seguida. A próxima coisa que vi no retrovisor foi um vulto colorido
crescendo no assento de trás, uma sensação fria subiu pelo meu pescoço e a mão
grossa tapou minha boca, me impedindo de gritar.
- QUE PORR-
- SHHHH! Quietinho,
viado! Quietinho que hoje eu tô da paz, hoje eu não tô procurando conflito, tá
ligado? Tu tá ligado ou não tá? Hehehehehe! Não tô podendo vacilar, prometi ao
meu irmãozinho, então tu vai ter que me ajudar a cooperar, entendeu? É só
cooperar.
Do nada um invasor oculto
apareceu já me rendendo e me mantendo imobilizado no banco do motorista, sob a
mira de um revólver apontado na lateral do pescoço. Na verdade, não tão oculto
assim: era ele, o viajante cacetudo, cachorro e vestido de bate-bola que me
botou pra mamar no cano da pistola minutos atrás no banheiro da pensão. Agora armado,
com a arma parada perto da minha nuca e rindo sadicamente pelo retrovisor.
-
Quietinho, Alisson. Não precisa de showzinho, tá escutando?
- C-Como
é que você sabe o meu nome!? O que você quer?! – fiquei tão trêmulo que mal
consegui finalizar as frases. – NÃO ME MAT-
- SSSSSH!
Tu deixou a carteira de motorista aqui dentro, seu incubado! Quem mandou ser lerdão?
Perdeu. Hehehehehe! – riu do meu desespero e desenhou com o metal frio na minha
pele. – Primeiro de tudo, tu tem que tá ligado aonde eu tô mirando nesse
momento. Tá sentindo isso aqui?
Fez a
pergunta, pressionou o cano do revólver firme na carne do meu pescoço, apertou
contra algum nervo e me causou um tipo de dormência imediata na nuca e na parte
traseira da cabeça. Eu tava muito nervoso, o corpo tremendo e as pernas bambas,
então não sei dizer se foi consequência direta do pânico ou se o sujeito
realmente estava me deixando mole de desespero. Já comecei a pensar que ia
morrer, imaginei meus pais chorando e meus olhos encheram d’água, junto com o
coração disparado no peito, o ar faltando nos pulmões e o suor escorrendo
pesado na testa. Que aflição do caralho.
- Uma bala
na tua carótida e não vai levar dois, três minutos até eu ver um litro de
sangue vermelho e quente escorrendo no tapete do teu carro, Alisson. Já ouvi de
uns carniceiros que tiro na cabeça não dói, porque o cérebro em si não sente
dor, tu sabia disso? Mas mesmo assim o maluco fica zonzo, desnorteado quando
leva chumbo no crânio. Fica ouvindo só o zumbido do disparo dentro dos ouvidos.
Consegue imaginar a aflição, viado? Pensa nisso antes de tomar qualquer
atitude, já é, fiel? Minha intenção aqui não é te machucar, eu só quero fugir.
Só fugir, só isso. Tá me entendendo, piá?
Apesar da
cena inesperada de assalto e violência, o homem falou comigo de um jeito muito
certo, muito seguro do que estava fazendo, acho que por isso eu levei um choque
tão grande, mas consegui recuperar o fôlego e me recompor aos poucos, apesar da
sensação de nervosismo e desespero latentes por dentro. Não soube reagir,
fiquei em silêncio, de olhos arregalados e observando o marginal pelo reflexo
do espelho.
- Fala
alguma coisa, porra! Tô falando contigo, num tô?!
- F-falar
o que!? Eu acabei de ser rendido por um bandido armado e ainda tenho que dar
resposta?! Pode levar o carro, pode levar tudo, só por fav-
- Não,
não, não, não, não. Ó só, não vou levar nada. É tu quem vai levar aqui.
- E-Eu?!
N-Não, você só pode tá brincando comigo! Levar?! Puta merda! Não faz isso
comigo, cara! Se meu nome aparece no jornal envolvido com esse tipo de coisa, é
capaz da minha família me matar antes de você!
- Eu
preciso de tu pra chegar no Rio. Tu vai me ajudar a fazer essa travessia e logo
mais a gente tá na Cidade Maravilhosa, se ligou? Não tem erro. Faz tudo do
jeito que eu mandar que tu sai ileso, sem nenhum machucado, sem nada. Tá
ouvindo?
Mas o
nervosismo não me deixou raciocinar tanto, então não me liguei nas palavras do
elemento.
- Por
favor, leva meu celular! Usa ele pra ligar pra facção, faz qualquer coisa, mas
por favor-
- Shhh,
cala a boca, porra! Já falei que minha intenção não é te machucar, caralho, mas
se continuar com essa matraca aberta eu vou te fazer ficar quietinho, Alisson!
Silêncio
dentro do carro. Minha cabeça zonza custou a pegar no tranco devido à
adrenalina.
- Aí, bem
melhor. – o bate-bola riu, só então subiu a máscara de “Clóvis” e revelou sua
identidade. – Tu vai dirigir normalmente, como se tivesse voltando pro Rio, e
eu vô tá do teu lado. Vou me passar como teu primo, teu irmão, qualquer merda, só
até a gente brotar no RJ, é só o que eu quero. Tu faz isso e eu deixo tu ralar
sem problemas, não tem caô. Sem dor, sem sangue, sem morte. Vou fazer bem do
jeito que aquele arrombado do Ítalo sempre pediu.
O rosto
rústico pareceu mais cuidado do que nas imagens do televisor da pensão. Pra ser
franco, o Ícaro Souza até tinha mesmo cara de ruim, talvez pelas feições mal
encaradas, mas não tanto quanto a foto que escolheram pra passar na reportagem.
Barba cheia no queixo e nas bochechas, alto de estatura, o corpo entre o forte
e o parrudo, e os ombros bem espaçados, esféricos. Sobrancelha riscada,
tatuagens espalhadas, moicano na cabeça e pele parda, bem morena tipo latino. O
gêmeo diabólico da dupla de criminosos foragidos se fez presente no meu carro,
me rendendo e mantendo a pistola gelada apontada no meu pescoço, engatilhado e
pronto pra apagar minha existência por qualquer movimento brusco e
desnecessário da minha parte. É do caralho a adrenalina que o corpo libera
quando se está sob a mira de um revólver carregado e à mercê de um marginal em
fuga.
- E aí,
qual vai ser? Vai fazer o que eu tô mandando ou eu vou ter que te matar e
deixar o Ítalo bolado outra vez, viadinho?
Pensei
bastante nessa pergunta, tentei assimilar as informações e, mesmo nervoso,
consegui me lembrar dos nomes na reportagem.
- O
Í-Ítalo é seu irmão mais novo?
- É, é. Tu
tá ligado quem eu sou, pelo visto. Eu prometi praquele filho da puta que não ia
derrubar uma gota de sangue nessa porra, então é isso que eu tô fazendo. Vai
cooperar comigo?
Subiu meu
queixo com o cano da arma e me obrigou a olhar pro espelho retrovisor. Foi
nesse momento que fitei o par de olhos azuis me encarando, rindo sadicamente no
meu cangote, enquanto a barba do moreno pinicou minha pele arrepiada.
- Vai me
ajudar a cumprir a promessa que eu fiz pro meu irmãozinho ou será que eu vou
ter que te deixar pianinho, Alisson? Escolhe. Quer morrer?
Pensei
muito nessa hora. O mundo parado à nossa volta, nós ainda no estacionamento da
pensão e a BR passando próxima, com muitos veículos trafegando, porém nenhum
policiamento, pelo menos naquela região específica onde estávamos. Atrás de
mim, me rendendo e me mantendo sob a mira do revólver, estava Ícaro Souza, o
tal gêmeo perverso foragido da polícia. Na minha boca, o gosto salgado do suor
do saco escuro do pilantra, pois ele me usou no banheiro pra escapar do
policial e por isso tudo se desenrolou daquela forma.
- V-Você
jura que só quer chegar no Rio de Janeiro, cara?
- Não
tenho nenhum interesse além desse, só tenho que chegar logo no Rio. Vai me
ajudar de boa ou vai me ajudar na marra, qual é a tua escolha, piá?
Fez a
pergunta, engatilhou o cão da pistola e eu quase tremi quando ouvi o “créc”
preparado pra estourar minha cabeça. Engoli a seco, respirei fundo, me
concentrei na resposta e não tive como negar, do contrário sofreria a
consequência.
- Não
tenho muita opção, né?
- Porra,
era exatamente isso que eu tava esperando escutar de tu, fiel! Hehehehehe! –
como se fôssemos colegas, o Ícaro pulou pra parte da frente do carro e sentou
no banco do carona, do meu lado. – Tô ligado que a gente vai se dar benzão até
chegar no Rio, tem caô não. É só tu não me desafiar e fazer tudinho do jeito
que eu mandar, se ligou?
- T-Tudo
bem, eu só te peço pra n-não... – não consegui parar de tremer diante daquele
ferro mortal há poucos metros do corpo. – Não me machucar, por Deus!
- Eu não
vou. Tu só tem que dirigir e obedecer, botou fé? Só isso. Sem tentar qualquer
gracinha que é pra gente se dar bem. Morou?
- Então
eu posso dirigir que nem tava dirigindo antes? Pegando a BR mesmo?
- É por
aí. Sem chamar atenção de ninguém que é pra eu não me estourar contigo. Ouviu,
Alisson? Não tenta nenhuma gracinha comigo.
Fiz que
sim com a cabeça, mas ele não parou por aí.
- Por
enquanto eu tô só pegando carona e te ameaçando, não é lá grandes coisas. Mas
se alguém me reconhecer e essa porra der merda, aí tu vai virar meu refém e
conhecer meu pior lado. Fica o aviso pra gente se dar bem. Hehehehehee!
Só então
o marginal parou de apontar a pistola na minha direção e enfiou o cano da arma
pra dentro da cintura, escondido debaixo dos tecidos finos e coloridos da
fantasia.
- Outra
coisa, não me chama pelo nome. Não quero ninguém prestando atenção nos detalhes
a partir de agora, esse é o meu foco pro plano dar certo. Sacou?
- T-Tudo
bem, mas vou te chamar de que?
- Sei lá,
me chama de... – o pilantra se observou no reflexo do espelho e riu. –
Bate-bola. É isso.
- Bate...
Bola? Tá, eu vou tentar. – até apertei as mãos no volante, tentando me
controlar.
- Tentar
não, tu vai chamar e ponto final.
Eu tava
bastante nervoso por dentro, mas confesso que o gosto da rola do safado ainda
presente na minha boca foi essencial pra ajudar a equilibrar a tensão que
comecei a sentir. Por um lado, me peguei preocupado pelas circunstâncias, uma
vez que fiquei basicamente sob o cárcere guiado do meliante armado. Por outro,
fiquei também muito puto, porque, afinal de contas, paguei o começo de um
boquete pro bandido e agora ele tava me usando, me fazendo de refém pra
conseguir realizar seu plano de chegar no Rio de Janeiro. Não questionei muito,
virei a chave na ignição, dei partida no motor e caí na estrada. Antes de
sairmos, o Ícaro botou a mão pro lado de fora da janela, apertou os dedos num
estalo e, como mágica, fez um monte de cartas de baralho voar pelo chão de
terra da entrada da pensão.
- O-O que
você tá fazendo? – não segurei a língua. – E se alguém investigar e pegar esses
rastros?
- Shhh,
se liga só na estrada aí, Alisson. Sem muita pergunta que a gente não é amigo,
não, já é? Abraça o papo.
Fiz que
sim com a cabeça novamente, ele esticou o corpo no assento do carona, pegou meu
celular por cima do porta-luvas e me deu.
-
Desbloqueia essa porra aí pra mim, anda.
Dividindo
a atenção entre o volante e o telefone, eu só obedeci, entreguei o aparelho e
fiquei observando enquanto ele não teve sucesso ao tentar ligar para alguém.
- Que
merda! Esse arrombado ainda não deve ter conseguido um celular pra pôr a porra
do chip. Se for depender dele roubar o telefone de alguém pra falar comigo, eu
tô é fodido, isso sim! – botou a mão na testa, limpou o suor, abriu uma garrafa
d’água, mas nada de tirar o aparelho da orelha. – Anda logo, maninho. Dá um
sinal de vida, vai, cuzão? Atende, atende essa merda!
Não deu
certo. O gêmeo diabólico desistiu da chamada e botou o telefone de volta no
lugar. Eu dirigindo, focado na estrada, sentindo o vento balançando a parte
interna do carro e desfrutando do silêncio mais nervoso da minha vida, ao ponto
de as pernas tremerem junto com os pés nos pedais do veículo. Sem eu perceber,
Ícaro pôs os dedos indicador e polegar em volta do meu joelho e travou meus
movimentos, me paralisando.
- Sem
nervosismo, fiel. Já passei a visão que não quero te machucar.
A mão
quente, massuda, calejada e pesada do bate-bola fugitivo cessou a agitação dos
meus músculos. Pra ser sincero, sentir meu corpo sendo controlado novamente
pelo mesmo macho que me botou pra mamar foi péssimo, porque eu inevitavelmente
senti um fogo incomum percorrendo sob a pele, apesar de ser seu refém naquele
sequestro. Acho que o pilantra também percebeu minha tensão crescendo, pois
logo me olhou e ficou com os olhos claros mirados em mim, enquanto continuei tentando
prestar atenção à estrada.
- Foi
mal, é que... Eu nunca nem fui assaltado antes, entendeu?
- Morando
no Rio de Janeiro? Puta merda, que sorte! Hahahahaha! Mas aí, xô te dar o papo
reto mesmo? Isso daqui não é assalto, não, eu só quero brotar na Cidade Maravilhosa,
tá ligado? Não é porque tô foragido da cadeia que sou ladrão. Não quero nada
teu, só essa carona.
Aí eu parei
pra pensar em todo o contexto que o repórter do telejornal estava explicando ao
longo da minha curta estadia na pensão onde tomei café. Mesmo se tratando de um
sequestro relâmpago, por assim dizer, não segurei a curiosidade, ignorei as
instruções do presidiário e abri a boca.
- Que mal
lhe pergunte, o que é que você e o seu irmão tanto querem fazer no Rio de
Janeiro que todo ano rende uma fuga da cadeia?
- Hah? –
ele riu, meio debochado, e apontou o revólver engatilhado na minha cabeça. – Se
eu te contar o nosso plano, depois vou ter que te apagar. Quer pagar o preço,
fiel?
Nem respondi,
apenas fiquei quieto. Ele fez a mesma coisa, tirou a arma do meu crânio,
guardou na cintura e se manteve calado por vários minutos seguidos,
interrompendo o silêncio somente pra tentar fazer chamadas no meu celular,
porém todas foram sem sucesso. A luz no fim do túnel é que eu já havia feito a
maior parte do trajeto de volta pro Rio de Janeiro no dia anterior, então
faltavam só algumas horas até que chegássemos no destino final e eu finalmente
pudesse me ver livre da presença impositiva do meu sequestrador.
- “Eu
tenho duas opções.” – pensei comigo. – “Posso parar em um posto de policiamento
e entregar esse homem, correndo risco de morrer. Ou faço tudo de acordo e me
livro dele assim que chegar no Rio, como se a gente nunca tivesse se visto
antes na vida. O foda é se as investigações descobrirem que eu ajudei esse
maldito, aí eu tô fodido...”
-
Alisson. – ele falou como se estivesse ouvindo meus pensamentos. – Eu não fui
preso duas vezes à toa. Já sei quem tu é, quem são teus parentes na Bahia e
tenho contato perto do trabalho dos teus pais. Se em algum momento dessa nossa
viagem tu tentar uma gracinha, qualquer coisa mesmo, eu juro que vou preso, mas
mando sapecar cada uma das pessoas que tu gosta. Ouviu bem? Nem é nem pessoal,
é só pela vingança. Hehehehehehe!
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ESSE CONTO É APENAS O PRIMEIRO CAPÍTULO DA HISTÓRIA "BATE-BOLA", QUE FAZ PARTE DA COLETÂNEA "VERÃO III", DISPONÍVEL PARA COMPRA CLICANDO AQUI.