CARRO BICHO
ou SÓ CORO COM COÇA
[ESSA HISTÓRIA SE PASSA NO TEMPO PASSADO]
A história de como eu dei a bunda pela
primeira vez é um pouco louca. Foi mais ou menos na época que eu tinha 18 anos
e rolou de um jeito totalmente inesperado, com um cara um pouco mais velho e
que eu nem conhecia direito. Naquele tempo eu ainda morava com a minha mãe
adotiva numa ruazinha quieta e sossegada do subúrbio, sendo que eu chegava do
curso no fim da tarde, antes dela, então passava algumas boas horas do começo
da noite sozinho. Normalmente aproveitava esse tempo pra preparar a janta e ver
o jornal, depois às vezes ia pro portão fumar um cigarro quando tava muito
calor, porque dentro de casa era abafado. O bairrinho ainda não era perigoso
como é hoje, mas alguns moradores já tinham câmeras de segurança nos muros de
suas residências, sendo minha mãe uma dessas pessoas.
- Olha, garoto, vê se
você toma cuidado quando tiver entrando e saindo de casa, ouviu? – ela chamou
minha atenção uma vez. – Presta bastante atenção na rua e não dá mole, que o
negócio tá ficando difícil por essas bandas.
- O que aconteceu?
- Ué, não ficou sabendo? Tem
um carro preto circulando nas ruas do bairro e assaltando quem anda sozinho.
Toma cuidado, ainda mais você que adora andar com esse celular na mão.
- Ih, relaxa, mãe. O
perigo sou eu. – brinquei.
- Ah, é, é? Sei. Toma
vergonha nessa cara, menino!
- Eu é que sei. Ninguém é
maluco de mexer comigo, não, pode ficar tranquila. Hahahahaha!
Não levei os comentários dela
tão a sério, até porque o subúrbio é e sempre foi cheio dessas lendas urbanas
nas fofocas entre os vizinhos. Em menos de uma semana, esse assunto do tal
carro preto acabou se espalhando de boca em boca e em cada portão da minha rua,
até que as pessoas no bairro estavam todas atentas a qualquer veículo escuro
que virava a esquina. O número de gente circulando começava a diminuir pouco
antes de escurecer, porque ninguém queria ser a próxima vítima na mão do
assaltante do carro preto. Numa noite quente e aleatória dessas, minha mãe
voltou a falar do assunto comigo, só que dessa vez a fofoca estava maior.
- Não tá sabendo, filho?
O pessoal anda dizendo que o homem do carro preto sequestrou uma mulher na rua
de trás anteontem e ficou com ela durante a madrugada toda, só devolveu a
coitada de manhã!
- Mentira?! Quem falou
isso, mãe?
- Não pode contar pra
ninguém, tá? – ela pediu.
- Claro que não vou
contar. Quem te falou?
- Foi a Soninha. Tive com
ela hoje à tarde e parece que tá todo mundo preocupado e com medo, meu filho.
Você, pelo amor de Deus, não dê mole.
Soninha era uma das
nossas vizinhas, talvez a mais fofoqueira delas. Mãe solo, solteirona de meia
idade e com muito tempo livre, a cinquentona era uma das que mais inventava
boatos a respeito dos outros, sendo que até a minha mãe já tinha sido vítima
dela uma vez, logo quando nos mudamos pro bairrinho. Levando essas
circunstâncias em consideração, confesso que não acreditei na história de
sequestro logo de cara, porém não quis que minha mãe percebesse que eu não tava
levando a fofoca dela a sério.
- E vem cá, como é que tá
a tal mulher que foi sequestrada? – fiquei curioso.
- Falaram que ela tá bem,
tá em casa descansando.
- Bem? Como que a mulher
é sequestrada, fica a madrugada toda de refém do assaltante e acorda bem?
- Ah, eu não sei bem dos
detalhes, menino. Deixa de ser fofoqueiro, ôxe!
- “Eu, né?” – respondi
mentalmente.
Acabamos de jantar, eu
guardei a comida da panela na geladeira e juntei a louça pra lavar. A novela
das nove terminou, entrou a vinheta do BBB e o apresentador começou a anunciar
sobre as coisas que aconteceram debaixo do edredom do quarto do líder na última
festa. A noite tava quente e abafada, lembro que esperei minha mãe dormir, não
me aguentei e fui pro portão fumar um cigarrinho. A rua sem um movimento
sequer, nem gato passava por ali, de tão parado o lugar. Não demorei tanto
tempo, fiquei no máximo uns três minutos fumando e me preparei pra entrar, foi
aí que escutei o barulho de pneu cantando, olhei pra esquina e vi o Corolla
preto acelerando com tudo.
- Puta merda, será que a
fofoca é verdade!? – tomei um puta susto.
Entrei pelo portão,
passei a chave e o barulho aumentou, sendo acompanhado por um som alto de funk
proibidão explodindo nas caixas do veículo. Meu coração disparado, eu escondido
atrás do portão e ouvindo o carro preto passar acelerado na frente da minha
casa, até que a barulheira diminuiu um pouco e me deu a impressão de que o
suposto assaltante havia parado perto da minha calçada.
- Será que... – pensei em
abrir o portão e bisbilhotar, mas o medo foi maior e tive uma ideia melhor. –
Já sei!
Voltei correndo pra
dentro de casa, cheguei na sala e me joguei no sofá. Peguei o controle da TV, liguei
o circuito de vigilância e tive acesso a tudo que a câmera do muro da minha
casa filmava. Logo de cara já deu pra ver o Corolla preto parado duas casas
depois da minha, perto da calçada e ligado, como se estivesse esperando por
alguém. Demorou uns dois minutos e foi aí que vi o vulto moreno pulando o muro
de uma casa, correndo e entrando no veículo suspeito.
- Meu Deus do céu! Aquilo
ali é...
Não acreditei no que meus
olhos viram. Assim que o vulto entrou no carro, o Corolla disparou e, mesmo
estando dentro de casa, consegui ouvir o barulho dos pneus cantando lá na rua,
talvez na hora de passar acelerado pelo quebra-molas da esquina. O funk alto
também subiu, mas logo todos os barulhos sumiram e o veículo escuro desapareceu
completamente do campo de alcance da câmera de segurança. Eu fiquei tão curioso
e assustado pelas coisas que vi, que acabei pegando pipoca, refrigerante e
basicamente montei acampamento na sala, de prontidão pra ver como seria o
desfecho daquilo que não pareceu muito bem um sequestro.
- Será que vão voltar?
Hmmm, tá ficando tarde...
Deu meia noite, uma da
manhã, duas, três e nada aconteceu. Já tinha pensado em desistir e ir dormir,
quando, por volta das 3h30 da madrugada, fui no portão fumar outro cigarro e
tomei um susto com o barulho do funk proibidão explodindo na esquina. Não passou
um segundo e veio também a barulheira dos pneus do carro cantando, me obrigando
a voltar pra dentro de casa e correr pra bisbilhotar na câmera de segurança
mais uma vez. Cheguei na sala, olhei pra tela da TV e novamente o Corolla parou
umas casas depois da minha, onde permaneceu ligado, agora em silêncio e sem
qualquer sinal de movimentação interna. Foi aí que a porta do carona abriu e,
pela segunda vez seguida, o vulto moreno passou do veículo pro portão da casa,
tomando impulso pra pular o muro. Dessa vez eu consegui ver exatamente quem
era.
- Puta que pariu, eu
sabia! – quase dei um berro na sala. – É a Stephanie, com certeza é ela!
Stephanie era a filha da
vizinha Soninha, uma moça de uns 20, 21 anos de idade, alta, bundão grande,
cabelo de franjinha na testa e óculos de fundo de garrafa, com a maior cara de
nerd santinha. Pelo visto ninguém sabia das fugidas que ela tava dando de
madrugada com o tal assaltante do carro preto, nem a própria mãe dela, e tudo
isso só me deixou atento e mais curioso ainda. Na ponta dos pés, a Stephanie
pulou o muro de casa no mais completo silêncio possível, entrou no meio do
escuro e sumiu. Só depois disso que o veículo suspeito saiu do portão dela e
foi embora, dando a entender que quem quer que estivesse ali dentro estava
tramando e fazendo coisas com a filha da minha vizinha, tudo em sigilo.
- Esse pessoal tá aprontando alguma coisa, ô,
se tá... – resmunguei comigo mesmo, me comendo de curiosidade pra descobrir o
que era.
No dia seguinte, mesmo eu não tendo contado
nada pra ninguém, eis que cheguei em casa antes da hora, minha mãe já havia
chegado e estava na sala conversando com a Soninha. Como eu tava muito curioso
e não esperei encontra-las juntas, cheguei no sapatinho, sem ser percebido, e
escutei um pouco do papo antes de entrar na sala.
- Aí é isso, menina. Tô preocupada que a
Stephanie teja se envolvendo com algum desses moleques sem futuro.
- Sério, Soninha? Mas por
que?
- Ela tá mentindo pra
mim, eu tenho certeza.
- Stephanie mentiu pra
você? Quando?
- Essa madrugada, mulher!
Eu acordei com um barulho no portão, aí fui olhar na janela e vi um vulto,
acredita?
- Um vulto? – minha mãe
ficou assustada.
- Pois é, fiquei
preocupada! Já tava todo mundo dormindo, não quis acordar ninguém. Eu levantei
e fui no quarto da Stephanie...
- E aí, ela tava com
alguém?
- Não, ela tava parada no
corredor, em pé, mexendo no celular. Tomei um susto, né? Perguntei o quê que
ela tava fazendo acordada àquela hora e a bicha foi esperta.
- O que ela falou,
Soninha? Conta logo, mulher!
- Disse que levantou
porque também ouviu um barulho no portão. – nossa vizinha fez cara de dúvida e
franziu um pouco os olhos, com semblante de muito desconfiada. – Mas eu sei
quando aquela menina mente, toda mãe sabe. Você não sabe quando teu filho
mente?
- Ô, se sei! Claro que
sei, aquele ali nunca me engana. Nem se nascesse de novo, hahahahaa!
Do lado de fora, ouvi
isso e tive que pôr a mão na boca pra segurar a vontade de rir, porque eu sabia
exatamente o que tinha acontecido, sabia que a Stephanie tava aprontando na rua
em plena madrugada e sem a mãe dela saber. Aproveitei a deixa, fiz barulho,
abri a porta e entrei pela sala, com as duas olhando pra mim e me
cumprimentando na mesma hora.
- Oi, oi. Boa tarde! –
fui educado, como sempre.
- Oi, querido. Tudo bem?
- Tudo, mãe.
- Boa tarde, Félix, tudo
bom?
- Boa tarde, dona
Soninha. Tudo joia. E a Stephanie, como é que tá? – fingi que não sabia de
nada.
- Tudo indo, ela tá bem.
Estudando muito...
- Ah, que bom! É isso aí,
não pode parar. – dei um sorriso.
- Chegou há muito tempo,
meu filho? – mamãe ficou curiosa.
- Não, acabei de chegar.
– menti na cara dela. – Saí um pouco mais cedo, aí vim direto pra casa.
- Bom que você chegou
agora. – ela alisou meu rosto e sorriu. – Vai comer, tem bolinho de feijoada no
forno.
- Obrigado. Vou tomar um
banho primeiro, dá licença, gente.
- Toda, meu filho.
- Vai lá, Félix. – a
vizinha falou.
Saí dali, deixei as duas
papeando na sala e fui pro banheiro, mas ainda deu pra ouvir o fim da conversa
sobre a Stephanie.
- Seu filho é um amor,
diferente da Ste. Queria que aquela sonsa fosse mais minha amiga e me contasse
o que ela tá aprontando, sabe? – confessou a coroa.
- Mas vem cá, você acha
mesmo que ela tá fazendo alguma coisa, Soninha?
- Claro que tá, é certo!
Minha intuição não falha, conheço a minha filha. Eu vejo na cara da safada a
mentira. Acho que ela tá saindo com algum desses moleques irresponsáveis e não
quer me dizer.
- Quem será, então?
- Ainda não sei, mas
suspeito que seja aquele tal de Cenoura. Stephanie só fala desse menino
ultimamente, é o tempo todo Cenoura isso, Cenoura aquilo, Cenoura pra lá,
Cenoura pra cá. Não aguento mais!
- Putz, mas logo pelo
Cenoura? Que merda, Soninha! – minha mãe foi sincera até demais no lamento.
Fechei a porta do
banheiro nesse momento, parei de ouvi-las, mas todas as informações que escutei
foram suficientes pra me fazer refletir bastante dentro do boxe, porque eu
conhecia um Felipe. Melhor dizendo, eu já tinha ouvido falar do Felipe Cenoura
e o conhecia só de vista, por vê-lo passar várias vezes de moto na minha rua.
Ele era um dos caras mais velhos da galerinha do meu bairro, devia ter uns 24,
25 anos, trampava de mototáxi na parte baixa do bairrinho e também fazia
serviços de entrega de comida, tipo motoboy.
- Será que a danada da
Stephanie tá dando mesmo pro Felipe? – perguntei a mim mesmo enquanto me
ensaboava e pensava nos dois juntos. – Nossa, que loucura...
Felipe chamava atenção
por vários motivos: pra começar, ele tinha o corpo magro e bastante alto,
esguio mesmo, dos ombros largos e pontudos; a pele clara, mas com vários traços
considerados negroides, como os lábios carnudos e o nariz meio largo; seu
cabelo era enroladinho, estilo black power curto e disfarçado no corte do jacá nas
laterais; o apelido de Cenoura era por conta dos pelos do corpo serem ruivos,
como se ele tivesse feito reflexo avermelhado em tudo. Não era só o cabelo da
cabeça, a barbicha no queixo e os pelos da perna também, assim como das axilas
e, portanto, se eu pudesse chutar, diria que até seus pentelhos do saco e do
púbis também eram na mesma tonalidade. Uma das sobrancelhas tinha um risco e o
braço era fechado de tatuagens, parecendo até com o DJ FP do Trem Bala, exceto pela
pele clara e os pelos vermelhos. Como o Cenoura era um cara que já tinha moto e
andava de carro, era hábito vê-lo passar a mil por hora na rua, geralmente com alguma
moça de roupa curta na garupa e deixando o rastro do cheiro de maconha pra trás,
por isso que ele era considerado o terror das vizinhas.
- “Se eu fosse a
Stephanie, será que eu também daria pro Felipe?” – pensei alto, enquanto me
enxugava após o banho. – “Ele é magrelo, mas é gostosinho. Será?”
Depois que vesti minha
roupa e penteei o cabelo, saí do banheiro, peguei meu celular e fui direto na
rede social procurar pelo nome do Cenoura. Não levei nem um minuto e lá estava
o perfil dele, com foto típica de carioca suburbano, de bermuda no rolé, tênis
doze molas, boné pra trás e blusão de grife, cheio de anéis, cordões e um
relojão de pulso, com o canecão de cerveja na mão. Nós tínhamos vários amigos
em comum, o que fazia total sentido, já que o motoboy morava umas cinco ruas depois
da minha e ajudava os outros moleques do bairrinho a fazer eventos e festinhas de
baile funk. Por conta de tudo isso, os vizinhos eram divididos entre quem gostava
e quem detestava Felipe Cenoura e seu jeito de dirigir acelerado pelas ruas do
bairro, com o vidro fumê fechado, ouvindo funk proibidão no último volume,
fumando maconha e deixando marcas dos pneus no asfalto. Às vezes era a mil de
moto, empinando sobre apenas uma roda e nem aí pra nada.
- Mas hoje a danada não
me escapa, mulher. Eu já tenho um plano pra descobrir o que essa menina anda
fazendo. – escutei Soninha ainda conversando com a minha mãe na sala. – Hoje eu
vou mandar Stephanie dormir na tia, só pra ter uma conversinha a sós com o
Cenoura. Tenho certeza que ele vai aparecer atrás dela, toda noite é esse fogo!
- Tem certeza, amiga? –
minha coroa perguntou, cheia de curiosidade.
- Claro que tenho! De
hoje não passa, por anotar aí. Vou eu mesma falar com o Cenoura e amanhã você
vai ficar sabendo.
- Boa sorte!
- Ele que fique esperto,
vai ouvir bastante! Agora deixa eu ir lá que ainda tenho que buscar o mais novo
no colégio, amiga.
- Vai lá, Soninha! Dá um
beijo no menino. Depois me conta como foi a conversa.
- Vou contar sim. Até!
- Até.
Elas se despediram e
foram juntas até o portão, me deixando sedento de curiosidade pelos próximos
capítulos da história. Depois que minha mãe voltou pra dentro de casa e me
encontrou na sala, começamos a fofocar sobre a situação da nossa vizinha e eu
fingi que não tinha a menor ideia de quem era Felipe Cenoura, é claro.
- Menino, você acha
possível a Stephanie tá passando a perna na própria mãe?
- Não sei dizer. – falei
a verdade. – A Soninha tá tão p da vida assim?
- Ôxe, você nem imagina!
Se ela pegar o Cenoura pelo pescoço é capaz de esganar, de tanto ódio!
- Eita! Então essa
conversa entre eles promete, ein?
- Ué, você não tava
tomando banho nessa hora?! – ela fez cara de dúvida na mesma hora, suspendendo
uma das sobrancelhas.
Pensei rápido.
- Casas antigas, paredes
cada vez mais finas, não é verdade? – minha cara nem ardeu.
Mentira, ardeu sim,
porque minha mãe tirou o pano de prato do ombro e estalou na minha coxa na
mesma hora.
- Deixa de ser
fofoqueiro, Félix! Arre! Vai arrumar o que fazer, menino!
- Ah, olha quem fala, né?
Hahahahahahaha!
- Félix, Félix...
- Tô brincando, mãe, é
brincadeira!
- Eu acho é muito bom, fi
da disgrama!
A coroa logo voltou pras
coisas dela, eu voltei pras minhas, mas confesso que passei o restante da tarde
pensando no que aconteceria e como seria o encontro da Soninha com o Cenoura,
principalmente tendo a Stephanie no meio de toda a situação. Quando a noite chegou
e minha mãe foi dormir, eu jantei, marquei um tempo na sala e depois fui fumar
um cigarrinho no portão. Devo ter ficado no máximo dez minutos na calçada vendo
a rua vazia, depois entrei e assisti TV até meia noite e pouca. Da mesma forma
que antes, escutei o barulho dos pneus cantando, depois um funk alto e logo
soube quem poderia ser. Acessei o circuito de segurança, fui direto nas câmeras
e a cena foi parecida com a da outra vez, com um Corolla todo preto e de vidro
fumê parando em frente à casa da Stephanie, porém do outro lado da rua e não exatamente
no portão dela.
- Putz, é agora! – fiquei
ansioso, admito, pois não havia nada mais interessante do que fofoca no
subúrbio, só o BBB... E por falar em BBB, enquanto isso, no edredom do quarto
do líder, a coisa também pegou fogo, mas essa história fica pra outra hora.
Após uns três minutos, eis que o portão da
nossa vizinha abriu e quem saiu de lá de dentro foi a própria Soninha, mãe da
Stephanie, só de camisola, chinelos e cheia de bobes enrolados na cabeça.
- Meu Deus, ela vai dar
mesmo uma surra no Felipe! – ou pelo menos foi o que me pareceu naquele momento
incomum.
Sem hesitação, a coroa
chegou perto da porta do carona do veículo, o vidro da janela abaixou e deu pra
ver que ela começou a conversar com alguém, que presumi ser o motorista do
Corolla preto, vulgo Cenoura. Já de cara, Soninha abanou a mão na frente do
rosto e fez uma careta, dando a entender que não gostou do cheiro que sentiu
dentro do carro.
- Porra, já começaram
mal. Esse cara deve ter fumado um monte de baseado ali dentro, socorro. – não
parei de fazer notas mentais enquanto assistia. – É agora que ela vai acabar
com a raça dele, heheheheehe!
Apontadas de dedo,
cruzadas de braço, mãos nas cadeiras, cara feia, tinha de tudo um pouco nas
reações características e exageradas da amiga da minha mãe. Mesmo com a câmera
do muro da minha casa não pegando toda a extensão do veículo e nem o áudio, era
possível perceber nos movimentos rápidos que a coroa tava falando bastante,
talvez colocando tudo pra fora e botando pra foder com a raça do Felipe. Foi aí
que algo muito curioso e estranho aconteceu: Soninha se afastou do Corolla,
andou até o portão de casa, olhou por alguns segundos e em seguida voltou
correndo até o veículo. Simplesmente abriu a porta, entrou e eu dei um grito.
- É O QUÊ!? PUTA MERDA! –
tive que tapar minha boca pra não continuar berrando. – Mas que porra foi essa
que acabou de acontecer aqui! Só pode ser piada, não é possível!
Dei um pulo do sofá, fui
correndo até o portão e ainda tive tempo de ver o carro se afastando e dobrando
a esquina, no mesmo estilo de pneus cantando, funk proibidão tocando alto e o
rastro de maconha de sempre. Não soube o que pensar ou o que dizer, só sei que
senti um formigamento na pele e até pensei em acordar minha mãe pra contar
tudo, mas fiquei na minha. Quer dizer, “fiquei na minha” entre aspas, porque uma
inquietude fora do comum tomou conta de mim e não sosseguei até dar 1h27, que
foi a hora que vi o Corolla preto parando novamente no portão em frente à casa
da Stephanie. Dei um zoom na câmera e deu pra ver o momento exato em que a
porta do carona abriu e uma figura sorridente e cambaleante saiu de lá de
dentro.
- PUTA QUE PARIU! – dei
outro grito sem querer, mas pelo menos estava na sala de casa e ninguém me
ouviu. – Que isso, maluco! Será que eles...
Assim que saiu do carro,
uma Soninha com cara de satisfeita ainda se debruçou com os cotovelos na janela
do carona e ficou conversando de um jeito engraçado de ver, meio lenta, de
olhos bem pequenos no rosto e rindo à toa, como se tivesse dado o melhor
passeio de todos os tempos. Poucos minutos depois dessa cena, a vizinha
finalmente se afastou, caminhou até o portão de casa e entrou, fazendo isso na
pontinha dos pés e no maior silêncio possível. Só então o Corolla preto partiu
dali e outra vez tornei a ouvir o já famoso barulho dos pneus cantando no
asfalto da rua.
- Caralho, ninguém vai
acreditar nisso! – minha única conclusão plausível naquela hora foi essa, não
que eu planejasse contar o que vi pra alguém.
Pra ser sincero, nem pra
minha mãe contei, justamente porque sabia que ela e Soninha eram amigas e que
muito provavelmente minha coroa contaria tudo que eu vi pra ela. Não ter dito
nada foi a melhor decisão que tomei, principalmente porque a própria mãe da
Stephanie apareceu lá em casa na tarde do dia seguinte pra contar pessoalmente
como foi a conversa com o suposto genro. Eu tava no meu quarto nesse momento,
mas é claro que fiquei de orelha colada na porta, ouvindo tudo com muita
atenção.
- Menina, me conta. E aí,
conversou com o tal do Cenoura? É ele mesmo que tá de papinho com a Ste, Sônia?
- Amiga, eu nem te
conto...
- Conta, claro que conta!
Tô curiosa, fala logo!
- É, fala logo! –
sussurrei do quarto. – Todo mundo quer saber, porra!
- Você acredita que aquele cachorro sem
vergonha deu em cima de mim?
- MENTIRA!? – minha mãe deu um grito.
- Caralho, ela vai falar a verdade?! – eu
também não acreditei.
- Verdade, mulher! Aquele
safado daquele moleque deu em cima de mim, amiga. Sabe o que ele teve a coragem
de dizer?
- Não, o quê?
- Que panela velha é que
faz comida boa! Agora você vê!? Garoto abusado, esse menino! Falta de respeito,
isso sim!
- Meu Deus do céu,
Soninha! E você, fez o quê?
- Eu o quê!? Claro que
dei uma bronca nele, né?! Tá doida?! Esse rapaz é o meu futuro genro, não posso
ser implicante.
- Ué, Soninha? Não tô entendendo... Você não
disse que não queria ele com a Stephanie?
- Disse, disse. Mas você sabe como é, né? Filhos.
A gente nunca entende muito bem a vontade deles. Fora que eu já tive a idade da
Ste, sei que fogo é esse que ela tá sentindo
- Claro que sabe, velhota sem vergonha, até
porque você também sentiu o mesmo fogo na buceta que a sua filha anda sentindo!
Hehehehehhe! Bem que falam que as casadas são as mais safadas, ein? – falei
comigo mesmo dentro do quarto, sozinho. – Eu sabia que ela não ia contar a
verdade, sabia!
- Você... Sabe que fogo é esse que a Ste tá
sentindo, amiga? – nem minha mãe acreditou no que ouviu. – Como assim?
- A gente já foi adolescente, mulher! Você
nunca teve uma paixonite?
- Bom... É, talvez você tenha razão. Já tive
sim, é normal mesmo. – mas se deixou convencer rápido demais.
Achei graça do papo delas, confesso, e
continuei atento, porque a curiosidade só aumentava a respeito da trama
envolvendo mãe, filha e genro.
- Tô te falando, eu entendo a Ste. Vou dar
uns conselhos pra ela não acabar que nem as outras garotas dessa rua, esse é o
certo a se fazer. É meu papel de mãe entender.
- É, é importante cuidar. Mas e aí, tô vendo
que você mudou mesmo de ideia a respeito do Cenoura, ein, Soninha? O que você
acha do seu futuro genro? Hahahahahahaha!
- O que eu acho? Ele não sabe se portar,
senta todo aberto, fala alto, cheio de gírias e parece ser meio mandão. O carro
tava com cheiro de maconha purinho, todo escuro e frio, sendo que ele nem tirou
o funk cheio de palavrão pra falar comigo. Ah, e ainda tinha pacote de camisinha
no porta-luvas, acredita nisso?!
- Camisinhas!? É um carro ou um motel? –
minha mãe disse isso e me fez rir no quarto.
- É, não sei dizer. Mas... Pelo menos sei que
tão usando camisinha, você não acha melhor? Quer dizer, imagina a Stephanie de
barriga?
- E me fala uma coisa, esse rapaz te fez
alguma grosseria?
- Bom... Eu perguntei quais são os planos
dele com a Stephanie e ele perguntou quem era essa.
- Meu Deus! O Cenoura não sabia o nome dela!?
- Disse ele que não. Que tem várias
namoradinhas e que, pra ser sincero, só tá pensando em tacar o pau na Ste e
ralar. Respondeu assim mesmo pra mim, amiga, ainda falou que é disso que as mulheres
gostam, sexo sem compromisso. Acredita?
- Jesus do céu! E você, Soninha, respondeu o
que pra esse garoto?!
- Eu vou fazer o quê, mulher? Falei pra ele
que não quero minha filha envolvida com esse tipo de elemento. Mas conversei
com a Stephanie antes e ela disse a mesma coisa.
- O quê, que não quer namorar com o Cenoura?
- Não. Que também não tem planos com ele, só
quer transar sem compromisso.
- Misericórdia! E você vai deixar, Soninha?!
Caramba!
- Proibir não vai adiantar, minha filha. Eu
tenho é que orientar, isso que eu tenho que fazer. Cedo ou tarde ela vai sentir
vontade de transar, não tem jeito. Única solução é ensinar a usar camisinha,
tomar anticoncepcional... Botar juízo na cabeça da Stephanie, entendeu? É o que
eu tô tentando fazer agora.
- Entendi, entendi. Poxa... Então que ótimo
que ela tem uma mãe que tá do lado dela, né? – minha coroa tentou ser otimista.
– Já pensou se ela dependesse do pai?
- É, pois é. Foi por isso que eu te disse que
queria ser mais próxima da Stephanie. Tô conseguindo. Não foi do jeito que eu
esperei, mas agora tá dando certo, tamo conversando mais.
- Que bom! Fico feliz por vocês.
- Demais, amiga.
Depois que elas mudaram de assunto, parei de
bisbilhotar a conversa pela porta do quarto, deitei na cama e fiquei pensando
em tudo que estava vendo e ouvindo acontecer. Por que, afinal de contas, a
Soninha entrou no carro do Cenoura, ficou dando rolé com ele e agora estava
contando outra história pra minha mãe? Quero dizer, ela pode até ter contado um
pouco da verdade quando disse que conversou com o motoboy e falou sobre a
Stephanie, mas a coroa estava claramente mentindo quando não contou o que de
fato fez dentro do carro do próprio genro durante quase uma hora e meia na
madrugada. Permaneci pensativo por várias horas sem sair do quarto, só mexendo
no meu celular, observando o perfil na rede social do Felipe e tentando
maquinar qual era o lance dele com a vizinha e amiga de mamãe. As horas se
passaram, a noite chegou e, da mesma forma que antes, esperei minha mãe dormir
e outra vez fiquei atento à câmera do portão, ciente de que alguma coisa
certamente aconteceria. E não deu outra: lá pras 2h, eis que novamente a Sônia
saiu na pontinha dos pés, de camisola e bobes na cabeça, e ficou na calçada
esperando pelo Corolla preto. O carro chegou, ela entrou e mais uma vez saíram
pra outro rolé de mais de uma hora de duração.
- Não é possível que essa mulher não esteja
sentando no Cenoura! É claro que ela é a maior sem vergonha e tá mentindo pra
minha mãe, eu tenho certeza! – garanti a mim mesmo, enquanto assistia àquela
cena.
A madrugada foi rolando, o veículo escuro
voltou ao portão da minha vizinha e a porta abriu, com a Soninha saindo do
carona do mesmo jeito que da outra vez: visivelmente derretida, trôpega e de
pernas bambas, pra não falar do sorriso largo de uma orelha à outra. Tava mais
do que na cara que a dupla de sogra e genro estava trepando na calada da noite,
muito provavelmente dentro do carro e escondidos de todo mundo, inclusive da
Stephanie. Ou pelo menos era isso que eu pensava, porque meia hora depois,
quando deu 2h30, adivinha quem eu vi pulando o muro de casa e sumindo no fim da
rua pra entrar no mesmo Corolla preto onde a mãe havia entrado minutos antes?
Ela mesmo, a filha assanhada. Sem medo de ser feliz, Ste foi encontrar com o
Cenoura e confesso que essa cena me deixou de queixo caído, simplesmente por
perceber que o que tava rolando entre os três era a maior putaria que ninguém
imaginava. Enquanto a amiga da minha mãe contava uma coisa nas conversas da tarde,
saía na madrugada para fazer outra completamente diferente e ninguém
desconfiava disso, exceto eu.
- “Cara, mas parando pra pensar... Será que o
Cenoura é tão bom de papo mesmo?” – minha mente não deu um minuto de sossego. –
“Porque não é possível que ele esteja comendo mãe e filha assim tão fácil, na
boa! Eu não consigo acreditar nisso, de verdade... Só pode ser coisa da minha
cabeça.”
Pra me deixar ainda mais pensativo e cheio de
coisas na cachola, foi nessa mesma semana que começaram a circular vários
vídeos do mesmíssimo Corolla preto nos grupos do bairro, tanto no Facebook
quanto no WhatsApp. Três, quatro cenas do veículo parando aleatoriamente perto
de moças pela rua e elas entrando no carro sem dar explicações. Na praça, na
minha rua, perto da favela do bairrinho, uma mulher, depois duas amigas, em
seguida três minas entrando juntas no carro suspeito, e eu sem qualquer sombra
de dúvidas de que se tratava do Cenoura no banco do motorista, só não tinha
como provar isso ainda. Aliás, provar é a palavra certa para usar, porque
quanto mais eu pensava e via os vídeos, mais queria entender o que se passava
dentro daquele Corolla sinistro.
De tão curioso que fiquei, eis que enchi a
cara numa sexta-feira quente do subúrbio, peguei o celular e, sem pensar, criei
uma conta falsa chamada “Mila Camomila”, usando a foto de uma atriz pornô
morena e com cara de amadora. Não hesitei em momento algum, tampouco senti
medo, a ficha só caiu mesmo quando me vi adicionando o Felipe Cenoura na rede
social com esse perfil falso e o marmanjo aceitou em questão de minutos, me
fazendo dar um pulo do sofá.
- Boa noite, Mila. A gente se conhece? – o
ruivo mandou mensagem praticamente na mesma hora que me aceitou. – Tu é da
onde?
- Oi. Não nos conhecemos ainda. Eu moro no
bairrinho também, sou uma fã. – menti. – Tudo bem?
- Melhor agora, kkkkkk. Vem cá, tu é essa
mina aí da foto, é?
- Sou sim, por que?
- Porra, mó gatona que tu é! Como é que eu
faço pra te conhecer? Dá o papo.
- Bom... – pensei brevemente e achei melhor
ir direto ao ponto. – Eu fiquei sabendo da fama que você tem aqui no bairro,
Cenoura. Gostei do que ouvi.
- Caô?! KKKKKKKKK! Qual delas? Porque são
muitas famas.
- A sua fama de putão. Sei que você adora
comer minhas amigas casadas e novinhas solteiras aqui do bairro.
- Porra, tá sabendo bem, ein? Kkkkkkk! E tu é
o que, mais uma querendo ganhar chupada na bucetinha? Minha especialidade é
oral, por isso que elas voltam. Kkkkkk!
O jeito desinibido de falar, a ousadia íntima
em tão pouco tempo de contato, a voracidade masculina presente em seu discurso
desde a primeira frase trocada comigo pensando que eu era mulher... Cenoura me
deixou muito excitado, apesar de eu estar mentindo pra ele. O simples fato de
ter a atenção daquele safado por alguns minutos e num sentido explicitamente
sexual fez meu fogo subir, preciso admitir. O motoboy foi direto ao meu pote,
não fez qualquer rodeio e tudo isso demonstrou o quão prático e direto ele era
na hora de lidar com sexo, mulheres e bucetas.
- É sério que você é bom assim de língua,
cachorro? – não segurei a onda.
- Pai é o terror da linguada nervosa, safada!
Meto a língua na tua xerequinha, depois soco no cuzinho, te dedo e tu fica toda
molhadinha no grelo. Tá a fim de experimentar?
Meu coração acelerou no peito. Como
prosseguir, sendo que eu tava mentindo na cara de pau? O tesão me moveu além da
racionalidade e quando dei por mim...
- Eu tô interessada em dar pra você, mas acho
que cê não vai curtir. – deve ter sido a primeira verdade que eu disse durante
nossa conversa.
- Por que não? Meu bagulho é bucetão e rabão.
Se tiver isso eu já tô dentro, tem caô não. Só piar no meu setor, princesa.
Entra no meu carro-bicho, bora?
- Tem certeza?
- Absoluta, porra! Vem na minha direção que
tu vai sair com as pernas tremendo. Mas ó, já aviso que tô sempre caçando, só não
pode querer se envolver, já é? Jogo aberto.
- Por mim, melhor ainda. Mas tem um porém...
Eu só curto dar o cuzinho, acho que você não vai gostar. – cheguei a dar uma
piscada fogosa quando digitei na tela do celular, ao ponto das pregas morderem
o pano do shortinho. – Aff, até pisquei só de falar disso, acredita? Rsrs...
- Por que eu recusaria um cuzinho!? Tá doidona?
Kkkkk! Chupo que nem buceta, comigo não tem tempo ruim, não! Aliás, por que tu
não manda uma foto da cucetinha pra gente já ir se conhecendo?
- Deixa pra me conhecer pessoalmente. Eu sou
tímida, rs.
- Tá, por mim tá beleza. Mas se liga no
papo...
Aí, de repente, o Cenoura ficou offline no
chat da rede social. Sumiu, não disse mais nada e eu comecei a pensar que dei
algum mole e fui descoberto no meu disfarce. O sentimento de nervosismo cresceu
em mim, esperei que alguma coisa fosse acontecer muito em breve e foi aí que
aconteceu mesmo. Uma senhora piroca grandona e cabeçuda apareceu na tela do meu
chat com o motoboy, sendo a glande muito maior e mais grossa do que o restante
do corpo taludo e reto, além de bem solta. Devia ter, sei lá, uns 19 ou 20cm
brincando, isso se eu fosse apenas chutar. O freio curto, firme e tão escuro
quanto as dobras da vara em si, pois afinal de contas, o instrumento era
inexplicavelmente mais moreno do que o tom de pele claro do Cenoura, incluindo
o saco liso e pesadão. Por falar no apelido, ali estava a pentelhada mantida
curta, aparada, genuinamente avermelhada e em reflexos escuros de ruivo,
combinando com o cenário escuro da genitália do caralhudo. A pilastra era incrivelmente
reta, da uretra bem visível e nem um pouco torta, parecendo um espigão de pica
apontado pra frente, tudo isso na mesma foto enviada pra mim.
- PUTA QUE PARIU! É por isso que te chamam de
Cenoura, é!? Vai se foder, que pirocão enorme!
- Gostou, sua puta? Será que vai caber
tudinho na tua bunda, ein?
- Vai querer comer meu cuzinho, seu guloso?
Pensei que fosse só linguar.
- Sou tarado em bunda, tu não faz ideia. Meus
parceiros até me gastam com isso, sem neurose. Kkkkkkk! Tu vai ver no ao vivo.
Eu já tava hipnotizado, completamente
seduzido pela nude explícita e enraivecida que o entregador me mandou. Bastou
olhar praquele porrete ereto e meu pau endureceu no short, minha boca encheu
d’água e o cuzinho piscou violento, resultando na certeza de que eu tinha que
encontrar com o Felipe, independentemente do que fosse acontecer. Sei lá, eu não
soube explicar o que senti na hora, apenas me lembro do tesão transbordando em
mim e de uma enorme certeza de que precisava arriscar, por isso mantive o
disfarce e levei nosso encontro adiante. Sim, um encontro.
- “Meu Deus, aonde é que eu tô com a cabeça!?
E se essa merda der errado?! Caralho, que mentiroso que eu sou!” – minha mente
martelando o tempo todo, eu mega nervoso pelo que tava fazendo e completamente
perdido na razão e no tesão.
Marcamos para a madrugada seguinte, porém não
dei o número da minha casa, dei o de um casarão que ficava na esquina da minha
rua, por via das dúvidas. O trato era o Cenoura chegar de carro e aguardar por
mim, só que ele não sabia que eu era um cara, então é claro que o safado nunca
me veria chegando. Ou melhor, até veria, mas não ia ter a menor noção de que
foi comigo que conversou putaria e mandou foto do pirocão. Entre outras
palavras, eu tava meio que resguardado, porém não tinha qualquer certeza de que
aquele plano poderia me fazer sentar de bunda na vara do motoboy, até porque
era arriscado, não tinha pé e nem cabeça, foi tudo absurdamente maquinado pelo
meu tesão inconsequente. Assim, quando deu duas horas da madrugada seguinte, lá
estava eu de olhos bem atentos à imagem da câmera externa. Sentado no sofá, de
banho tomado, todo limpinho, cheiroso e macio, de pernas tremendo por nunca ter
feito uma putaria antes, mas preparado para o que poderia ou não acontecer
naquela noite. Mesmo dentro de casa, escutei o barulho dos pneus cantando no
asfalto, depois veio o funk alto e eu logo soube que o Cenoura tava por perto.
Pela câmera, vi que ele passou no Corolla preto pro final da minha rua e não
parou na esquina onde combinamos, o que me deixou apreensivo.
- Putz, será que eu dei algum mole? –
qualquer coisa anormal que acontecia e eu já tava pensando que havia vacilado,
tudo por conta da ansiedade e do nervosismo diante da situação que eu mesmo
aprontei pra mim. – Será que ele volta? Deve voltar... Porra, daqui não dá pra ver
o carro.
Tentei mover a câmera, mas não adiantou de nada,
pois o veículo havia saído do alcance e passado muito além da esquina. Isso me
deixou não apenas nervoso, como curioso e cheio de fogo no cu, então acabei
saindo na pontinha dos pés, fui pro portão e cheguei na calçada pra ver até
onde o Cenoura tinha ido. Virei meu corpo na direção do fim da rua, vi a
esquina vazia e nenhum sinal do ruivo maconheiro. Minha cabeça ficou girando,
eu tentando pensar no que poderia ter acontecido pro gostoso ter ido embora,
até que um clarão de luz veio de trás de mim e um ronco de motor me fez dar um
pulo de nervoso.
- Puta merda! – virei pra trás na mesma hora
e dei de frente com um Corolla sinistro, preto e furioso, roncando perto de
mim, ao ponto de arrancar fumaça e cheiro de borracha queimada do asfalto.
Não dava pra ver quem estava dentro porque todos
os vidros eram fumê e estavam fechados, me deixando de pernas tremendo.
Respirei fundo, pensei no que fazer e achei melhor me mover antes que o carro
arrancasse de onde estava e partisse pra cima de mim. Andei de volta pro meu
portão, imaginei que conseguiria entrar em casa, mas foi aí que o motorista
parou de acelerar, dirigiu até onde eu estava e estacionou na beira da calçada.
Quando o vidro abaixou, a primeira coisa que eu vi foi a fumaça branca e densa
saindo, o cheiro de maconha potente entrou pelas minhas narinas
automaticamente, mesmo sem eu querer, e uma versão do Poesia Acústica
atravessou meus ouvidos. Uma mão enorme abanou no ar, a cortina de vapores foi
se desfazendo na janela do motorista e um black power curto e avermelhado se
tornou visível.
- Coé, boa noite! – a voz arrastada e
carregada de fumaça me arrepiou dos pés à cabeça. – Meu nome é Cenoura, tudo
tranquilo?
- O-Opa, boa noite! P-Prazer, Félix. – tentei
conter o nervoso, mas foi difícil, porque eu ainda era virgem e tava cheio de
medo das consequências da minha falta de noção por estar ali, frente a frente
com o Felipe. – Tudo indo, e com você?
- Ah, comigo de boa, mano. Aliás, de boa não,
tá rolando um caô aí...
- C-Caô? Como assim? – banquei o bobo,
respirei fundo e acendi um cigarrinho pra ajudar a estabilizar os ânimos. – Aconteceu
alguma coisa?
- Aconteceu, tá acontecendo... – ele botou o
vape na boca, puxou mais fumaça branca, tragou e jogou pra fora da janela,
falando com a voz carregada e num volume tão marcante quanto o do som dentro do
carro. – Se liga, tu tá esperando alguém, Félix?
- E-Eu? N-Não, só vim fumar um cigarro antes
de dormir. Por que a pergunta?
- Hmmmm, saquei. É que eu marquei de dar uma
linguada no cu de uma mina hoje, tá ligado? Mas tô achando que a cachorra me
deu um bolo. Mó ideia torta, pegou visão?
- S-Sério!? Nossa, quanta sinceridade da sua
parte em me contar os detalhes, ein? Hahahahaha!
- E, ué, tô te dando o papo reto. Mas fala
tu, o que eu devo fazer, espero pela mina ou volto pra casa?
- Ah, espera, pô... – respondi sem pensar. – Vai
que ela aparece?
- E se ela não brotar, o que eu faço, irmão?
- Bom... Dizem por aí que cu é cu, né? Não se
deve desistir assim tão fácil. Se ela disse que ia deixar você linguar o rabo
dela, então vale à pena esperar, cê não concorda?
Antes de responder, ele suspendeu uma
sobrancelha, riu de canto de boca e concordou comigo.
- Com certeza, irmão! Tudo bem que eu brotei
um pouco atrasado, mas que mina não esperaria pra tomar uma linguada no anel,
fala tu?
- Verdade. Hhaahahaha! De repente ela se
atrasou porque tá limpando.
- É. Mas dá o papo, se tu fosse ela,
esperaria? – fez a pergunta e me olhou de baixo a cima, sorrindo sacana no meio
disso.
Suei, fiquei vermelho, mas tive que responder
rápido pra parecer natural e isso acabou me fazendo ser sincero até demais.
- Bom, n-não sei direito, eu acho que... Você
quer dizer se eu fosse mulher? Acho que esperaria sim, sexo é bom, né? – só
depois que respondi que pensei na pegadinha que caí, já que eu basicamente
afirmei que optaria por aguardar para levar linguada no cu. – Quer dizer, não
sei bem, é uma pergunta de duplo sentido, então dá pra ficar confuso... Eu
mesmo tô confuso agora, não sei como responder. Hahahahahaha! Pulo, muito
difícil essa.
- Hehehehehehehe! Tá se enrolando pra
responder, irmão? Qual foi?
- Porra, essa não é qualquer pergunta, né,
Cenoura? Até você concorda, vamos combinar. Tamo falando de lambida no cu, pô,
tem noção?
- Ah, vai dizer que tu não gosta?
HAHAHAHAHAHA! Geral se amarra!
O jeito que ele falava me deixou sem saber se
todo mundo gostava de dar ou de receber lambida no cu, por isso que levei na
esportiva, encarei tudo como uma boa piada e fiquei rindo na calçada, enquanto
fumava um cigarrinho e batia um papo cada vez mais descontraído com o sacana do
Felipe. Cheguei a perder boa parte do nervosismo conforme a gente se conhecia,
porém novamente meu coração saltou e as pernas voltaram a tremer quando o
motoboy tornou a rasgar o motor do Corolla e fez mais fumaça sair do asfalto,
porque foi nesse mesmo minuto que escutei a pergunta que mudou drasticamente a
minha madrugada.
- Qual vai ser, tá a fim de dar uma volta
comigo, cria?
- Sério!? C-Contigo?! Tipo, agora? De
madrugada? Do nada?!
- É, pô, qual o caô?
- M-Mas e a sua mina? Ela não vai ficar
bolada contigo?
- Algo me diz que ela não vai brotar. Me deu
um toco. Bora dar um rolé ou não?
- Poxa, é que... Eu tô... – pensei o mais
rápido que pude. – Tô meio que fugido na rua, sabe? Minha mãe acha que eu tô no
quarto dormindo, é isso.
- Então. Tá fugido mesmo, qual a diferença? –
destrancou a porta do Corolla preto. – Aproveita logo, entra aqui.
Não recomendo que qualquer pessoa faça o que
fiz, pois minha decisão foi a mais inconsequente e irresponsável possível, tudo
devido ao enorme fogo no cu e à grande oportunidade de finalmente perder o
cabaço. Senti um novo nervoso carcomendo meu corpo e minha pele, mas agora não
foi tão negativo, apesar de ainda estar com medo de pra onde iríamos e do que
ele pretendia fazer comigo, porém havia também uma espécie de fagulha, uma
energia que tomou conta de mim a partir daquele momento e me deixou cheio de
luxúria. Assim que eu decidi que ia realizar meu sonho de entrar naquele carro,
fechei o portão de casa, olhei na câmera de segurança no muro e dei um sorriso
de piranha, simplesmente por saber que agora era eu no flagrante da madrugada,
escondido na calada da noite da mesma forma que minha vizinha Soninha e sua
filha Stephanie fizeram. Enfim, dei a volta no carro, fui pro lado do carona,
abri a porta e senti o frio de montanha cobrindo minha pele na mesma hora.
Entrei, sentei, fechei a porta, Cenoura travou os trincos e finalmente me
encarou do seu lado, dando o sorriso mais safado que já vi nessa vida.
- E aí, pra onde é que cê vai me levar? –
deixei a curiosidade aflorar.
- Tem algum lugar específico que tu queira
ir?
- Não, nada em mente. Achei que você já tinha
pensado em algo.
- Nada, meus planos eram outros. Mas vamo dar
um pulo ali, acho que tu vai se amarrar...
- Boa. Quero ver, então, me surpreenda. –
fiquei animado, confesso.
- Tu vai mesmo ficar surpreso, Félix.
Hehehehehe!
Clima frio, o funk
tocando baixo, cheiro de maconha, luzes coloridas no aparelho de som e o
Cenoura mandando ver na direção, sempre andando acelerado, mas com muita
precisão na hora de usar o freio pra passar nas lombadas e fazer as curvas. O
jeito como ele botava o carro praticamente de lado pra passar nos quebra-molas
me deixou um pouco nervoso, confesso, mas sua maestria com as mãos nos volantes
e os pés nos pedais foram fora de série.
- Se assusta não, eu sou piloto de fuga,
irmão! Hahahahahahaha!
- Tô vendo! – tive que me segurar no painel à
minha frente algumas vezes, isso porque estava de cinto.
A voz masculina cantando putaria nos
autofalantes da mala do veículo também me deixou quente, principalmente por
conta dos versos que pareciam ter a ver com a nossa situação naquele momento.
Era um funk acelerado e feito pra dançar, com o gemido de uma mulher no fundo
enquanto o MC cantava sacanagem e o pilantra do Cenoura acompanhava,
cantarolando e dirigindo acelerado.
- Fica à vontade no trem. Hoje a tropa tá
foda! Bico pra fora, fumaça sobe, só podcast dentro do Corolla. Ela de giro
comigo. Ganha segunda ladeira. Uma mão vai no piloto, outra catuca a buceta! Elas
sabe disso que o tesão tá no perigo. Foda inesquecível dentro do meu carro
bicho! No banco de trás, só coro com coça. Melhor sexo da sua vida foi dentro
de um Corolla! Carro bicho, carro bicho!
Eu não tinha a menor ideia de pra onde a
gente tava indo, só sei que confiei plenamente na habilidade dele de fumar
maconha e dirigir tão rápido, enquanto cantava o funk estourando nas caixas.
Nem tive tanto tempo pra manjá-lo até então, porque tava muito curioso pra ver
onde a gente ia chegar a qualquer momento. Foi aí que comecei a achar o visual
mais distante e rústico, inacabado, pegamos uma subida e, quando dei por mim,
estávamos num dos cantos mais distantes do bairrinho, precisamente subindo o
morro e passando por homens fortemente armados. Fiquei nervoso na mesma hora,
não consegui mais segurar a onda e o Cenoura percebeu a minha falta de
naturalidade diante da situação.
- Ih, qual foi, tu nunca brotou da favelinha,
não? Mora no bairro e não conhece nada, é? Hahahahahaha! Pensei que tu fosse
cria, pô, mas tô vendo que tu é criado. Hehehehe!
- Não vou mentir, sou desacostumado à beça
com comunidade. Tipo, nunca entrei em uma, então não tenho como ficar
tranquilo, cê concorda?
- Só relaxa, já é? Fica tranquilão na tua e
me acompanha, só isso.
- Tá bom, vou tentar. – respirei fundo.
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